"Por maior que seja a ambição dos países mais ricos com as metas para a redução do aquecimento global, não será possível combater as alterações climáticas sem dar atenção aos países em desenvolvimento", disse à agência Lusa Jorge Moreira da Silva, diretor-geral de Desenvolvimento e Cooperação da OCDE.
Falando a partir de Nova Iorque, onde a organização apresentou hoje um relatório sobre a necessidade de pôr desenvolvimento e ação climática na mesma frente, Moreira da Silva afirmou que as duas áreas não podem continuar a estar em "caixas separadas", acrescentando que há um desfasamento entre políticas públicas e a ambição climática.
Para conseguir chegar à meta de limitar o aumento da temperatura global a 1,5 graus (em comparação com era pré-industrial) será preciso investir "sete biliões de dólares, dois terços dos quais são precisos para os países em desenvolvimento", notou.
Além de mais financiamento para esses países, é necessário "trazer coerência" aos investimentos e às intenções, referiu o ex-ministro do Ambiente, apontando o exemplo das linhas de crédito para a produção e consumo de energia de fontes não renováveis a nível mundial aumentou "de 12 mil milhões para 46 mil milhões" entre 2010 e 2016.
"É uma situação paradoxal que mostra que é preciso ir mais longe", disse o responsável da OCDE, destacando que "só 20% dos 150 mil milhões de dólares de ajuda anual aos países em desenvolvimento é que têm uma avaliação do seu impacto nas alterações climáticas".
"Não bastam novas metas e ambições, é preciso mais financiamento para os países mais pobres e corrigir as falhas", defendeu.
No relatório, indica-se que a matriz para alinhar desenvolvimento e combate às alterações climáticas já está no Acordo de Paris de 2015 e a OCDE salienta que países mais ricos e países mais pobres têm de caminhar todos "na transição para sociedades climaticamente resilientes e de baixas emissões" carbónicas.
Se isso não acontecer, "os ganhos de desenvolvimento das décadas anteriores podem perder-se, a agenda de desenvolvimento sustentável de 2030 não será cumprida e falhar-se-á no objetivo de não deixar ninguém para trás", alerta a OCDE, que salienta que os países mais pobres precisam de "apoio continuado".
Moreira da Silva citou os números da organização segundo os quais poderá haver "100 milhões de novos pobres em 2030" e "140 milhões de novos migrantes até 2050" por causa de efeitos das alterações climáticas.
Aceitar que a temperatura mundial possa aumentar três graus até 2100 é admitir uma "catástrofe para o desenvolvimento global", declara a OCDE, frisando que pôr o limite em 1,5 graus em vez de 02 graus pode poupar "várias centenas de milhões de pessoas" à pobreza e aos desastres naturais decorrentes das alterações climáticas.
"Governos, bancos centrais, instituições financeiras comerciais e empresas", os responsáveis pela gestão de recursos nos países pobres e nos países ricos "ainda estão orientados para atividades de alto risco e de emissões altas que aumentam a vulnerabilidade às alterações climáticas", nota a OCDE.
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