Os 538 “grandes eleitores” que integram o Colégio Eleitoral (que o governo norte-americano define como um processo e não como um órgão) vão reunir-se a 19 de dezembro nas capitais dos respetivos Estados para votar e confirmar formalmente a vitória de Trump contra a adversária democrata Hillary Clinton nas eleições presidenciais de 08 de novembro.

Clinton ganhou o voto popular, ao conseguir mais de cerca de 2,8 milhões de votos do que o adversário republicano, mas foi Donald Trump que garantiu a vitória que interessava: a maioria dos ‘grandes eleitores” no Colégio Eleitoral, 306 contra os 232 da democrata.

São muitos os americanos que defendem que o Colégio devia declarar Clinton como vencedora, porque ela triunfou no voto popular, mas também existem outros (incluindo vários republicanos) que alegam que Trump não reúne as competências necessárias para assumir a Presidência dos Estados Unidos.

É o caso de dois membros republicanos do Colégio Eleitoral do Texas (Christopher Suprun e Art Sisneros) que indicaram recentemente que não vão votar pelo Presidente eleito dos Estados Unidos.

Num artigo no diário The New York Times, Suprun assegurou que não vai votar em Trump, justificando que os ataques do Presidente eleito à Primeira Emenda da Constituição norte-americana, que protege as liberdades de religião e expressão, e ao processo eleitoral americano o fizeram mudar de opinião. Já o “grande eleitor” Art Sisneros decidiu renunciar, para evitar votar no empresário.

Nas eleições presidenciais, o voto dos norte-americanos é indireto e vai para um Colégio Eleitoral, solução plasmada na Constituição dos Estados Unidos e na 12.ª Emenda (adotada em 1804) que é constituída por eleitores representativos dos 50 Estados norte-americanos (e da capital federal Washington que conta com três “grandes eleitores”).

São estes que escolhem o futuro Presidente dos Estados Unidos e o vencedor das eleições é aquele que conseguir, no mínimo, 270 dos 538 “grandes eleitores”.

Cada Estado federal tem direito a um determinado número de “grandes eleitores”, distribuição que depende da população do estado e da sua representatividade no Congresso norte-americano.

Em 21 Estados (um deles é o Texas), os “grandes eleitores” podem votar em consciência, independentemente de quem conquistou os votos eleitorais do estado. Mas é extremamente raro os “grandes eleitores” rejeitaram a tendência da votação.

Mas, segundo afirmou esta semana Larry Lessig, advogado e professor de Direito Constitucional da Universidade de Harvard, existem pelo menos 20 membros republicanos do Colégio Eleitoral que estão a considerar votar contra o multimilionário, um número que colocaria a fação anti-Trump a mais de meio caminho de conseguir travar a eleição.

De acordo com a publicação norte-americana Politico, o grupo anti-Trump a que Larry Lessig pertence, designado ‘Electors Trust’, tem vindo a oferecer aconselhamento jurídico pro-bono (e em privado) a eleitores republicanos que estão a considerar abandonar Trump.

“Acreditamos que existe mais de metade do número necessário para alterar seriamente o resultado”, disse o professor, citado no Politico, indicando que são precisos pelo menos 37 “grandes eleitores” para contrariar a eleição de Trump.

As declarações de Lessig são contestadas por fontes do Comité Nacional Republicano que garantem que os eleitores republicanos do Colégio Eleitoral vão permanecer leais a Trump.

A agência noticiosa americana Associated Press (AP) referiu esta semana que entrevistou mais de 330 “grandes eleitores”, democratas e republicanos, e concluiu que encontrou pouco entusiasmo para fazer uma revolta.

Gostem ou não de Trump, e alguns afirmaram claramente que não, muitos dos republicanos contactados pela AP disseram que se sentem ligados, entre outros aspetos, à História, ao dever ou à lealdade partidária.

As recentes revelações da CIA (serviços secretos norte-americanos) sobre a interferência da Rússia, através de ataques informáticos, nas eleições norte-americanas a favor de Trump deram novos argumentos à fação que contesta o Presidente eleito.

Um grupo de 10 “grandes eleitores” (dos quais nove democratas) publicaram na segunda-feira uma carta aberta dirigida ao diretor dos serviços de informações dos Estados Unidos, James Clapper, a pedir que todos os “grandes eleitores” tivessem acesso a toda a informação relativa às “interferências do governo russo na eleição”.

Trump negou qualquer ingerência da Rússia em seu benefício e rejeitou as conclusões avançadas no relatório secreto da CIA.

Nove dias depois da votação dos “grandes eleitores”, a 28 de dezembro, o presidente do Senado e outros responsáveis federais e estaduais devem ter “os certificados de voto” em mãos.

A 06 de janeiro, o Congresso reúne-se numa sessão conjunta para contar os votos. Desta vez, o ainda vice-presidente americano, Joe Biden, na qualidade de presidente do Senado, irá presidir a sessão. Os votos de cada Estado são abertos e registados por ordem alfabética. Biden anuncia então os resultados e declara os nomes dos vencedores.

Donald Trump, o 45.º presidente dos Estados Unidos, será empossado a 20 de janeiro numa cerimónia pública junto ao edifício do Capitólio, em Washington.