Apesar de o Governo ter decretado que este ano não havia tolerância de ponto para os funcionários públicos no Carnaval, são muitos os municípios que dispensam os seus funcionários na terça-feira - até porque o dia está previsto como feriado na generalidade dos contratos de trabalho em funções públicas -, mas pedem aos habitantes que se mantenham em casa e assistam às iniciativas ‘online’.
Na aldeia de Pitões das Júnias, em Montalegre (Vila Real), os caretos e os farrapões, em vez de percorrerem as ruas, vão desfilar “online”: a população foi convidada a mascarar-se, a tirar uma fotografia e a concorrer até terça-feira ao concurso “Caretos e Farrapões à moda de Pitões”.
Tal como manda a tradição, tanto caretos como farrapões têm de usar renda para tapar a cara e não podem ser reconhecidos pelas fotografias, que estarão expostas no site e Facebook da junta de freguesia, que dará prémios às três mais votadas.
Em Macedo de Cavaleiros (Bragança), os Caretos de Podence celebram o Entrudo Chocalheiro em casa, à varanda.
Na terça-feira, a partir das 17:30, será transmitida ‘online’ a cerimónia “Sentir Portugal” (sem público no local), e o dia termina com a queima do Entrudo, que este ano “queima” de forma simbólica o coronavírus, o causador da pandemia da covid-19.
Também em Amares (Braga), a organização do Carnaval desafiou a população a “reinventar" as festividades, decorando as janelas e varandas com máscaras ou outros motivos associados ao Entrudo.
Em Viseu, na pequena aldeia de Lazarim (Lamego), os caretos (máscaras tradicionais esculpidas em madeira) não podem andar à solta pelas ruas, mas estarão expostas à porta de cada um dos moradores.
O Carnaval será diferente também em Cabanas de Viriato (Carregal do Sal), onde a organização pede que os habitantes se fantasiem e façam a tradicional “dança dos cus” em família, filmando para que os vizinhos possam interagir através das redes sociais.
Em Canas de Senhorim, Nelas (Viseu), também é pelas redes sociais que desfilam os vídeos e as fotografias de desfiles de anos anteriores, mas os dois bairros rivais, Paço e Rossio, vão substituir o despique de desfiles carnavalescos por uma desforra de fogo de artifício em vários pontos da localidade.
Ainda no Centro do país, os corsos carnavalescos de Estarreja, Ovar e Mealhada, em Aveiro, da Figueira da Foz, em Coimbra, e de Torres Vedras, em Lisboa, não vão realizar-se, apesar de estarem previstas várias iniciativas, segundo a Rede de Cidades de Carnaval da Região Centro.
Em Torres Vedras, por exemplo, várias associações criaram o movimento "Carnaval em Casa", transpondo para as plataformas digitais (www.carnavalemcasa.pt) várias iniciativas, e, para assinalar a ausência de “matrafonas” pelas ruas, o município inaugurou, na sexta-feira, o monumento "A Máscara", de homenagem a todos os profissionais que trabalham na linha da frente na prevenção e combate à pandemia, que ficará exposto durante um mês no centro da cidade.
Apesar da tolerância de ponto, a Câmara da Nazaré (Leiria) desincentiva este ano qualquer iniciativa popular neste Carnaval popular, marcado pela espontaneidade nas ruas.
Na Guarda, o Carnaval também é assinalado com iniciativas ‘online’ e o tradicional Julgamento do Galo, “com as devidas adaptações, poderá ser integrado num eventual programa de verão”, segundo a Câmara local.
Já a Câmara de Proença-a-Nova (Castelo Branco) apela à criatividade dos participantes através da decoração de máscaras cirúrgicas descartáveis, cujas fotografias são publicadas nas redes sociais do município. As três mais votadas receberão vales para utilizar nos restaurantes do concelho.
Além das atividades virtuais, Loures celebra este ano o Carnaval “à janela”, uma iniciativa que já decorreu no domingo e deve repetir-se na terça-feira.
A Câmara de Loures pediu aos cerca de 2.500 figurantes do Carnaval do ano passado e às pessoas em geral que se mascarem, enfeitem as varandas e venham à janela participar na festa.
Mais a Sul, em Sesimbra, um dos municípios onde o Carnaval tem muita tradição, a festividade será apenas assinalada com iniciativas `online´ e de `streaming´ das escolas e grupos de samba.
O município manteve os apoios financeiros, como se o Carnaval de Sesimbra se realizasse nos moldes habituais, esperando-se “um impacto muito negativo na economia local”, segundo o presidente da Câmara Francisco Jesus.
O encerramento da restauração e do comércio devido à covid-19 é criticado ainda pelos empresários de Elvas (Portalegre), que consideram o cancelamento do Carnaval Internacional de Elvas mais um “grão de areia na engrenagem” da crise, já que esta era uma altura em que “largos milhares de pessoas” visitavam o concelho, segundo a Associação Empresarial local.
Também o presidente da Câmara de Loulé (Faro), Vítor Aleixo, salientou que a falta dos milhares de visitantes anuais ao maior Carnaval do Algarve terá grande impacto “no alojamento hoteleiro”, na “restauração e comércio local”.
Loulé celebra este ano o Carnaval sem carros alegóricos nem bandas a desfilar, mas “um autocarro com um animador” circulará pelas principais ruas, que estarão decoradas.
Na Madeira, o Governo regional cancelou todo o programa e o cartaz turístico do Carnaval e, para prevenir festas e convívios, alterou as regras de confinamento “durante toda a semana”, com o encerramento das atividades comerciais às 17:00 e recolher obrigatório às 18:00.
Nos Açores, as danças e os bailinhos de Carnaval da Terceira, que integraram em 2020 o Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial de Portugal, foram cancelados, assim como todas as festividades.
Apesar do cancelamento do Carnaval, os estabelecimentos comerciais vão funcionar normalmente hoje e na terça-feira, mas os restaurantes e bares encerram às 15:00 e há proibição de circulação entre as 20:00 e as 05:00.
À exceção dos funcionários do setor privado com contratos coletivos de trabalho que contêm uma cláusula que define a terça-feira de Carnaval como um feriado, os restantes trabalhadores açorianos não terão direito a dispensa nesse dia.
A covid-19, transmitida por um novo coronavírus detetado pela primeira vez há pouco mais de um ano na China, provocou, pelo menos, 2.400.543 mortos no mundo, dos quais 15.411 em Portugal.
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