Este balanço destaca a diferença de idade entre as vítimas que prestaram o seu depoimento, com pessoas “nascidas no espaço de tempo compreendido entre os anos de 1933 e 2006”, ou seja, indivíduos que podem ter atualmente entre 88 e 15 anos. “Os relatos provêm de todas as regiões do Continente, Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira, urbanas e rurais, bem como de todos os grupos sociais e níveis de escolaridade”, indicou a comissão independente em comunicado.

Sublinhando o “sofrimento psíquico individual, familiar e social, por vezes escondido durante décadas”, a comissão coordenada pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht concretiza que o sofrimento destas vítimas “associa-se a sentimentos de vergonha, medo, culpa e autoexclusão” ao longo da vida.

“Em muitos desses testemunhos as vítimas não só descrevem o que aconteceu sobre elas mesmas, como frequentemente apontam o conhecimento ou a forte probabilidade de, naquelas circunstâncias de tempo e espaço, outras crianças terem sido vítimas do mesmo abusador, contribuindo assim para uma diferença considerável entre a quantidade de casos diretamente validados e outros tidos como existentes ou muito prováveis”, refere a nota.

Para fazer chegar a sua ação a mais pessoas, a comissão contactou outras estruturas e instituições com maior proximidade à população, nomeadamente comissões diocesanas, institutos religiosos de Portugal, Instituto de Apoio à Criança, Comissão Nacional de Promoção dos Direitos e Proteção das Crianças e Jovens, Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, Associação Quebrar o Silêncio e o Sistema de Proteção e Cuidado de Menores e Adultos Vulneráveis.

Paralelamente, foi renovado o apelo a todos aqueles que queiram deixar o seu depoimento. As denúncias e testemunhos podem chegar à comissão através do preenchimento de um inquérito ‘online’ em darvozaosilencio.org, através do número de telemóvel +351917110000 (diariamente entre as 10:00 e as 20:00), por correio eletrónico, em geral@darvozaosilencio.org e por carta para “Comissão Independente”, Apartado 012079, EC Picoas 1061-011 Lisboa.

A comissão pretende recolher testemunhos e denúncias de pessoas que tenham sofrido abusos na infância e adolescência, até aos 18 anos, com o seu trabalho a decorrer até 31 de dezembro de 2022.

No final dos seus trabalhos, a comissão vai elaborar um relatório, a ser entregue à Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), que decidirá que ações tomar.

Além de Pedro Strecht, a comissão integra o psiquiatra Daniel Sampaio, o antigo ministro da Justiça Álvaro Laborinho Lúcio, a socióloga Ana Nunes de Almeida, a assistente social e terapeuta familiar Filipa Tavares e a realizadora Catarina Vasconcelos.