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A 15 de março Portugal deve estar "muito perto dos 60 casos por 100 mil habitantes", número que garante condições para a reabertura do país. No entanto, os especialistas, hoje reunidos na sede do Infarmed, em Lisboa, deixam alertas e traçam limites para evitar o descontrolo da pandemia.
O que disseram os especialistas
- André Peralta Santos, da Direção-Geral da Saúde, foi o primeiro a tomar a palavra para abordar a atual situação epidemiológica no país. Portugal regista uma "manutenção da tendência de descida" da incidência do vírus, agora com uma média nacional de 141 casos por 100 mil habitantes. "A incidência está a descer em todas as idades", acrescentou.
- O grupo etário com maior número de casos em UCI é o que vai entre os 60 e os 69 anos. O internamento em enfermaria é em maior número no grupo acima dos 80 anos.
- Portugal continua com o R (índice de transmissibilidade) mais baixo da Europa, com um nível de incidência de 120 por cem mil habitantes, revela Baltazar Nunes, do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge. O valor do R é atualmente de 0,74 para a média dos últimos cinco dias.
- Contudo, o investigador do INSA, que integra o grupo de peritos que presta apoio ao Governo na tomada de decisões no âmbito da pandemia de Covid-19, sublinhou que a “tendência de decréscimo [da incidência] tem vindo a desacelerar” e alertou que o índice de transmissibilidade está “abaixo de 1 em todo o continente, mas superior a 1 nas regiões autónomas” da Madeira e dos Açores.
- "Há um aumento da mobilidade da população portuguesa" nos últimos 15 dias. De acordo com o epidemiologista do INSA, a Europa registou recentemente um aumento dos índices de mobilidade, embora Portugal tenha os níveis mais reduzidos a nível europeu, uma vez que continua a ser dos países com algumas das medidas mais restritivas de confinamento.
- As previsões feitas há 15 dias quanto à ocupação de camas hospitalares "falharam por excesso". No final de março, se se mantiver a tendência atual, teremos 120 doentes em UCI.
- Na última semana a variante do Reino Unido "cresceu 20%", revelou João Paulo Gomes, do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge. A variante da África do Sul teve, em fevereiro, mais 8 casos registados, totalizando agora 12 desde o início da pandemia. Já a variante brasileira registou 9 casos, ascendendo a um total de 11.
- "Testes rápidos não permitem identificar todas as variantes", alerta o perito do INSA.
- João Paulo Gomes pede atenção redobrada no controlo de fronteiras aquando do desconfinamento. Já que a população "vai ganhando imunidade" e é natural que vão surgindo novas "mutações", "potencialmente tão ou mais gravosas".
- Henrique de Barros, do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, abordou os percursos para a decisão e explicou o método usado para as projeções. O especialistas propõe cinco grupos para o desconfinamento, com base em indicadores como a incidência a 15 dias, número de internamentos em enfermaria e em UCI:
- O plano começa no nível 0, que contempla apenas medidas individuais não farmacológicas, como uso de máscara, distanciamento e lavagem das mãos, evolui para o nível 1, em que não são autorizadas reuniões com mais de 50 pessoas, prossegue no nível 2, em que se fecham cafés, restaurantes e o comércio, continua no nível 3, em que se interrompem atividades de ensino presencial secundário e superior, e, finalmente, terminam no nível 4, com a interrupção das atividades de ensino presencial no básico e creches.
- “O plano de atuação desenhado permite antecipar a resposta a nível nacional e regional, decidir dentro de uma amplitude razoável de carga de infeção para uma resposta adequada, nomeadamente dos serviços de saúde, e acomodar o possível efeito de variantes víricas com transmissibilidade aumentada”, acrescentou.
- Baltazar Nunes apresentou as linhas vermelhas para evitar uma nova vaga e o descontrolo da pandemia. As conclusões apresentadas fazem de um documento elaborado por um grupo de trabalho que inclui elementos da DGS, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e da Escola Nacional de Saúde Pública. Os especialistas recomendam:
- que a incidência acumulada a 14 dias esteja "abaixo dos 60 casos por 100 mil habitantes"
- que o R(t) deve ser "menor do que um"
- que 240 casos por 100 mil habitantes é "o limite" para evitar a pressão nos serviços de saúde e rastreio. Número equivale a 1765 casos diários.
- que taxa de ocupação de camas em UCI deve ser inferior a 85% das camas disponibilizadas em março de 2020 (o que equivale a 245 camas)
- que a atividade hospitalar em medicina intensiva associada à Covid-19 não deva prejudicar a atividade não Covid-19
- a vigilância eficaz das variantes
Previsão é de que a 15 de março, quando termina o atual estado de emergência, Portugal esteja "muito perto dos 60 casos por 100 mil habitantes" — números que permitem o desconfinamento.
- Óscar Felgueiras, professor e investigador do Departamento de Matemática da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, apresentou os patamares para a determinação do risco nacional e concelhio em função da incidência por 100 mil habitantes.
- Níveis de risco apresentados para o país:
- 240 casos por 100 mil habitantes - elevado
- 120 - alto
- 60 - médio
- 30 - baixo
- 0 - muito baixo
- Estes são os níveis de risco a nível local:
- 960 infetados por 100 mil habitantes - risco extremamente elevado
- 480 - muito elevado
- 240 - elevado
- 0 - moderado
- Raquel Duarte, ex-secretária de Estado da Saúde, apresentou uma proposta de plano para o desconfinamento, que contempla cinco patamares: sendo que o nível 1 é aquele que prevê menor número de restrições, o nível 5 corresponde ao grau mais grave.
- Escolas com planeamento feito a nível nacional com regras gerais como distanciamento, uso obrigatório de máscara. Abertura deve começar pelo pré-escolar e infantil e só duas semanas depois, baixando para nível 3, abri 1º ciclo, 2º ciclo e "por aí adiante".
- Na atividade laboral, o teletrabalho deve ser mantido "sempre que possível". Reabertura deve começar pelo trabalho sem contacto com público e só duas semanas depois baixar para nível 3 abrindo locais de trabalho com contacto com público, mas sem contacto físico.
- Segundo o plano, até ao nível 2 deve haver restrições de horários de funcionamento, com as atividades a poderem funcionar até às 21 horas de segunda a sexta-feira e até às 13 horas aos sábados. Na restauração, o nível 4 apenas permite take away e entrega ao domicílio, com o nível 3 a permitir o serviço de esplanada com distanciamento com limite de 4 pessoas por mesa.
- O recolher obrigatório deve ser mantido até ao nível 2, argumentou a especialista.
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