As crises internas dos centristas demoraram a ultrapassar, vários anos. E cada líder teve destinos diferentes - Manuel Monteiro foi eurodeputado e nunca esteve no Governo, Paulo Portas também foi eleito para o Parlamento Europeu, mas foi ministro e vice-primeiro-ministro de executivos com o PSD.

Congresso: 45 anos de história

1974
19 de julho – Fundação do CDS.

1975
13 de janeiro – Legalização do CDS pelo Supremo Tribunal de Justiça.
25 e 26 de janeiro – I congresso do CDS, no Palácio de Cristal, no Porto, que é cercado por militantes radicais de esquerda.

1976
2 de abril – CDS é o único partido a votar contra a Constituição da República Portuguesa, elaborada pela Assembleia Constituinte, eleita em 25 de abril de 1975.
25 de abril – Eleições legislativas, ganhas pelo PS. O CDS consegue um dos seus melhore resultados de sempre: 16% e 42 deputados.

1978
19 de janeiro – PS e CDS assinam acordo de com vista à formação do II Governo Constitucional, liderado por Mário Soares, que toma posse em 30 de janeiro.

1979
11 de abril – Freitas do Amaral defende uma frente democrática eleitoral, que viria a ser a Aliança Democrática entre o PSD, de Sá Carneiro, CDS e Partido Popular Monárquico (PPM).
2 de dezembro – A AD ganha as eleições intercalares.

1980
5 de outubro – A AD volta a ganhar as legislativas
7 de dezembro – General Ramalho Eanes é reeleito, derrotando Soares Carneiro, apoiado pelos partidos da AD.

1981
9 de janeiro – Toma posse novo Governo da AD, liderado por Francisco Pinto Balsemão.
27 de março – Freitas do Amaral é reeleito líder do CDS.

1982
28 de dezembro – Freitas do Amaral demite-se de presidente e é substituído, no congresso de 27 de março, por Francisco Lucas Pires.

1983
25 de abril – Eleições legislativas são ganhas pelo PS. CDS tem 12,4%.

1985
6 de outubro – Eleições legislativas são ganhas pelo PSD e CDS obtém 9,8% dos votos.
24 de fevereiro – Adriano Moreira é eleito presidente do CDS.

1987
19 de julho – Legislativas dão vitória ao PSD, com maioria absoluta. CDS obtém apenas 4,4% dos votos e elege quatro deputados. Fica conhecido como o 'Partido do Táxi'.

1988
Janeiro – Freitas do Amaral regressa à liderança do CDS, onde se mantém até 1992.

1992
22 de março – Manuel Monteiro, com 29 anos, é eleito presidente do CDS no X congresso.

1994
12 de julho – Nas europeias, o CDS, com Manuel Monteiro, obtém 12,45% dos votos e elege três eurodeputados.

1997
14 de dezembro – Nas eleições autárquicas, o CDS recolhe apenas 5,65% dos votos, com sete câmaras, o que leva à demissão de Manuel Monteiro da liderança do CDS.

1998
22 de março – Paulo Portas, ex-jornalista e deputado do CDS, é eleito presidente do partido no congresso de Braga.

1999
22 de janeiro – É formalizado o projeto da Alternativa Democrática, entre PSD e CDS, que fracassa devido a desentendimentos entre os dois partidos.
13 de junho – Nas eleições ao Parlamento Europeu, o CDS tem o seu pior resultado de sempre em europeias, com 8,16%.

2000
O deputado Daniel Campelo fica conhecido como o "deputado do queijo Limiano' depois de viabilizar o Orçamento do Estado do Governo de António Guterres ao votar favoravelmente em troca de investimentos no distrito de Viana do Castelo e no seu concelho, Ponte de Lima.

2001
16 de dezembro – Nas eleições autárquicas, o CDS baixa a sua votação para 3,8% dos votos e mantém três municípios.

2002
17 de março – CDS regressa ao Governo após as eleições legislativas em que a direita (PSD/CDS) conseguem maioria.

2005
20 de fevereiro – PS vence, com maioria absoluta, as eleições legislativas. O CDS tem 7,24% dos votos. Paulo Portas anuncia demissão de presidente do partido.
25 de abril – Congresso do CDS elege, inesperadamente, líder do partido José Ribeiro e Castro, que derrotou Telmo Correia.

2007
21 de julho – Paulo Portas regressa à liderança do CDS no congresso de Póvoa de Varzim.

2011
5 de junho – Paulo Portas consegue o seu melhor resultado de sempre no CDS, com 11,71% e 24 deputados. O partido regressa ao Governo, em coligação com o PSD, de Pedro Passos Coelho.

2013
1 de julho - Então ministro dos Negócios Estrangeiros Paulo Portas demiti-se por não concordar com a escolha de Maria Luís Albuquerque para substituir Vítor Gaspar. Disse que era “irrevogável”, mas a decisão durou apenas quatro dias. Voltou atrás e manteve-se no governo como vice-primeiro-ministro
29 de setembro – CDS consegue, nas eleições autárquicas, cinco presidências de câmara.

2015
4 de outubro – PSD e CDS concorrem em coligação às legislativas, vencem as eleições, mas sem maioria absoluta de deputados no parlamento. PS forma governo com o apoio parlamentar do PCP, BE e PEV.

2017
1 de outubro – Nas autárquicas, CDS consegue seis câmaras e a líder, Assunção Cristas, fica em segundo lugar, à frente do PSD, na câmara de Lisboa.

2019
26 de maio – CDS obteve 6,2% dos votos e elege apenas um eurodeputado, Nuno Melo.
1 de outubro -  PSD-CDS chegam a acordo para uma coligação na Madeira.
6 de outubro – CDS, com Assunção Cristas, tem o seu pior resultado de sempre nas legislativas – 4,2% e bancada é reduzida de 18 para cinco deputados.

Depois do fim da Aliança Democrática, com o PSD, em 1983, e com a crise de 1987/1991, os anos do partido “do táxi”, o CDS fez uma travessia do deserto de 22 anos.

E a segunda crise, que se seguiu a um novo governo com o PSD, com Durão Barroso como primeiro-ministro e Paulo Portas como ministro da Defesa, de 2002 a 2005, os centristas, novamente com o ex-diretor d'O Independente na liderança, só voltaram a conseguir partilhar o poder em 2011, mais uma vez com os sociais-democratas, num executivo liderado por Pedro Passos Coelho, após seis anos de oposição.

Olhando a história do partido, às crises sucederam-se mudanças de estratégia política.

Com apenas 29 anos, Manuel Monteiro assumiu, em 1992, uma linha de rutura de uma nova geração de dirigentes, vincou um projeto de refundação do partido que se assumiu como claramente de direita.

A mudança foi tal que, no congresso de 1993, passou a denominar-se CDS-Partido Popular. Devido às posições eurocéticas de Manuel Monteiro, o CDS-PP foi até expulso do Partido Popular Europeu (PPE), a que voltou anos depois, em 2004, e onde está hoje, ao lado do PSD.

Para a história ficaram os cartazes contra “os tachos” e os discursos do Partido Popular, na Assembleia da República, contra os “políticos sanguessuga”, o que valeu a Monteiro e ao partido o rótulo de populista.

Em 1991, o CDS teve o seu pior resultado de sempre e ficou conhecido como o “partido do táxi” – quatro deputados para um resultado de 4,3% - nas legislativas que deram a segunda maioria absoluta ao PSD.

Nesse ano, Freitas do Amaral era presidente do partido, sucedendo a Adriano Moreira, que deixara a liderança depois de um resultado igualmente baixo – cinco deputados e 4,4% dos votos. Foi nas legislativas de 1987, ano em que os sociais-democratas e Cavaco Silva tiveram a primeira maioria absoluta da história da democracia portuguesa.

Passaram os anos e, em 1997, Manuel Monteiro continuava a ser presidente do partido. O CDS volta a perder eleições, desta vez autárquicas, o que precipita uma crise de liderança.

Paulo Portas, que aderiu ao partido em 1995 e já se candidatara a deputado como independente, é eleito, em 1999, presidente do partido no congresso de Braga, com uma estratégia de aproximação ao PSD, então liderado por Marcelo Rebelo de Sousa, hoje Presidente da República, para uma Alternativa Democrática (AD), a mesma sigla da Aliança Democrática de Sá Carneiro e Amaro da Costa, de final da década de 1970.

Em 1999, os dois partidos desentenderam-se: Marcelo Rebelo de Sousa deixou a liderança do PSD e Paulo Portas ficou à frente do CDS. A nova AD já nem foi às europeias de junho.

Em maio de 1999, entrou Durão Barroso para a liderança dos sociais-democratas, que perdem as eleições para o PS - António Guterres ganhou com maioria relativa.

O segundo Governo do PS durou até 2002 e nas eleições seguintes, apesar das más relações com Portas, Durão forma uma coligação pós-eleitoral, depois de os dois partidos do centro-direita terem conseguido a maioria absoluta no parlamento.

A história repete-se em 2011, mais uma vez com PSD, agora liderado por Pedro Passos Coelho, e tendo Paulo Portas como líder do CDS, que, nos períodos em que esteve na oposição, tentou disputar politicamente o terreno aos sociais-democratas.

Em 2005, o candidato ‘natural’ apareceu tarde e foi derrotado pela surpresa Ribeiro e Castro

Em 20 de fevereiro de 2005, o CDS-PP ficou ‘órfão’ do seu líder de sete anos, depois de Paulo Portas anunciar a demissão na noite das legislativas, em que o partido obtém pouco mais de 7% e 12 deputados.

Passaram-se então dois meses sem que surgisse qualquer candidato à liderança - Telmo Correia chegou a negar por duas vezes ter essa intenção - e apenas na semana anterior ao congresso o antigo líder parlamentar centrista dá os primeiros sinais de que iria avançar, confirmando a candidatura na véspera, numa entrevista televisiva.

O então candidato natural à sucessão de Portas - reunia os apoios dos principais rostos da sua direção e das duas principais moções ao congresso - justificou o seu ‘timing’ não com falta de vontade de liderar o CDS, mas com a surpresa pela saída do presidente.

A estratégia de José Ribeiro e Castro foi diferente: escreveu uma moção intitulada “2009” em cima do prazo limite e a sua candidatura foi primeiro sugerida pelo dirigente Luís Nobre Guedes, que entrou no Congresso ao lado de Telmo Correia, mas acabaria a apoiar o então eurodeputado.

Num tempo em que as eleições diretas ainda não tinham chegado à vida partidária - o CDS já as eliminou novamente -, foi num longo congresso em Lisboa que tudo se decidiu.

A surpresa do XX Congresso do CDS começou com o primeiro discurso de Ribeiro e Castro, que inflamou os delegados e em que garantiu que avançaria para a liderança se a sua moção fosse a mais votada.

Nesse congresso, enquanto Telmo Correia defendeu uma abertura a novos temas e novos eleitorados que permitissem ao partido crescer, Ribeiro e Castro inovou ao garantir que introduziria a eleição direta pelos militantes dos presidentes do CDS - o que concretizou - e teve um discurso mais marcadamente ideológico e centrado nos valores tradicionais da democracia-cristã, como a defesa da vida.

créditos: PAULO CUNHA/LUSA

Às 06:00 da manhã de domingo, o Congresso acabaria mesmo por aprovar a moção de Ribeiro e Castro, com uma maioria confortável de mais de cem votos sobre o documento em que Telmo Correia se apoiava para disputar a liderança.

Do lado do ex-ministro do Turismo, estava a maior parte do “núcleo duro” do líder cessante: o então vice-presidente António Pires de Lima e o na altura líder parlamentar Nuno Melo, bem como, a título pessoal, João Almeida, que então presidia à Juventude Popular.

Além de Luís Nobre Guedes, apoiaram Ribeiro e Castro notáveis como António Lobo Xavier e Maria José Nogueira Pinto.

Em 2005, Portas despediu-se do partido dizendo aos democratas-cristãos para não terem medo do novo ciclo, mas alertando para os riscos de o partido se tornar marginal e se eternizar na oposição.

Já Ribeiro e Castro, no seu discurso final, disse não temer ser um líder de transição, mas acabaria por sê-lo, já que, menos de dois anos depois, Paulo Portas quis regressar à liderança do CDS e derrotou-o no método que criou, de eleições diretas, voltando a presidir ao partido entre 2007 e 2016.

 Manuel Monteiro, Paulo Portas e Ribeiro e Castro foram líderes sem estar no hemiciclo de São Bento.