O custo de cada dólar no mercado paralelo chegou a rondar, após as eleições gerais de 23 de agosto, os 370 kwanzas, quando a taxa de câmbio oficial definida pelo Banco Nacional de Angola (BNA) está há um ano e meio fixa nos 166 kwanzas (85 cêntimos de euro).
“O negócio está a apertar muito nos últimos dias, os fiscais estão a fiscalizar muito”, explicou à Lusa um das ‘kinguilas’ de Luanda, como são conhecidas as mulheres que se dedicam à compra e venda de divisas.
Face à possibilidade de uma forte desvalorização do kwanza a curto prazo, o valor do dólar no mercado de rua de Luanda disparou na primeira semana de novembro até aos 430 kwanzas (2,25 euros), máximos desde janeiro.
Numa ronda realizada hoje pela Lusa foi possível encontrar em Luanda cada dólar a ser vendido entre 400 e 410 kwanzas, em bairros de referência da capital, casos do Mártires de Kifangondo, Mutamba, Maculusso e São Paulo.
Só a falta de moeda nacional em circulação, relatam estas ‘kinguilas’, está a travar a subida na cotação da moeda estrangeira.
Este negócio, apesar de ilegal e condenado pelo BNA, representa para muitos, angolanos e trabalhadores expatriados, a única forma de aceder a divisas, face às limitações nos bancos, funcionando a cotação de rua como referência para alguns negócios.
O Presidente angolano, João Lourenço, ordenou na segunda-feira, ao novo comandante-geral da Polícia Nacional, comissário-geral Alfredo Mingas, para reforçar o combate ao negócio da venda ilegal de divisas nas ruas, por terem atingido “níveis preocupantes”.
A Lusa noticiou este mês que o dinheiro em circulação em Angola voltou às quebras em setembro, para 434.321 milhões de kwanzas (2.250 milhões de euros) em notas e moedas, depois de em agosto ter atingido o valor mais alto em seis meses.
De acordo com o relatório sobre a Base Monetária Ampla do BNA, entre agosto e setembro foram retirados de circulação (física) no país mais 16.702 milhões de kwanzas (86,5 milhões de euros).
“O nosso país encontra-se numa situação económica e financeira difícil, resultante da queda dos preços do petróleo no mercado internacional e da consequente liquidez em moeda externa”, admitiu o Presidente angolano, João Lourenço, na Assembleia Nacional, a 16 de outubro.
Esta conjuntura, recordou, levou as Reservas Internacionais Líquidas (RIL) do Estado – que estão a ser vendidas aos bancos comerciais para compensar a falta de divisas – a “uma preocupante contração acumulada de 46,4%” entre 2013 e o segundo trimestre de 2017, “como consequência dos sucessivos défices das balanças de pagamentos, devido à diminuição do valor das exportações petrolíferas”.
“Neste contexto, impõe-se a tomada de medidas de política necessárias e inadiáveis, de modo a alcançar-se a estabilidade macroeconómica do país, com a pedra de toque no equilíbrio das variáveis macroeconómicas suscetíveis de garantir os equilíbrios internos e externos do país e as condições necessários para estimular a transformação da economia, o desenvolvimento do setor privado e a competitividade”, disse.
Alguns economistas têm apontado, nas últimas semanas, a possibilidade de uma forte desvalorização do kwanza, moeda nacional, face ao dólar norte-americano, possivelmente à volta de 30%, mas João Lourenço não adiantou medidas concretas neste discurso.
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