A comunicação é um aspecto central da interacção entre os seres humanos. Pode ser definida como um processo de troca de informação, ideias, pensamentos, intenções, sentimento ou emoções entre indivíduos. Não passamos sem comunicar, verbalmente ou não. Tudo é comunicação, até o silêncio.

São vários os autores que consideram as competências comunicacionais como um dos principais factores de satisfação entre os casais. No mesmo sentido, quando, numa perspectiva positiva, falamos acerca do nosso par com amigos e familiares, utilizamos frequentemente expressões com referências às competências de comunicação, tais como “nem precisamos de falar para nos entendermos”, “parece que percebe sempre do que preciso” ou “temos sempre assunto”. Contudo, o contrário também sucede. Invariavelmente, casais que se encontram a passar por dificuldades na relação (discussões constantes, processos de ruptura, separações recentes, entre outros), surgem expressões como “não ouvi os avisos”, “não percebi os sinais”, “dei a entender” ou “já não conseguíamos falar”, “não nos ouvíamos”... Mas será que houve um desinteresse do receptor ou uma comunicação clara do emissor? Será que estavam atentos e envolvidos?

Numa hierarquia de factores que fortalecem uma relação, a compreensão e a comunicação surgem nas três primeiras posições. A comunicação, em conjunto com o conhecimento entre o casal, chega a ser considerada a principal ferramenta para desenvolver a relação e fortalecer a intimidade. Ou seja, falamos de um sistema dinâmico, sujeito aos vieses, de cada um numa perspectiva individual ou do sistema num todo.

Numa perspectiva prática, uma comunicação adequada é uma oportunidade para descobrir os limites da intolerância e vulnerabilidade ou áreas imaturas, que nos levam a reagir de determinada forma perante as palavras ou atitudes do par. Ou seja, uma forma adequada de comunicação exclui:

  • desprezo e insultos;
  • atitudes defensivas tais como desculpas, contra-ataques, desresponsabilização, entre outros;
  • suposições ou ideias pré-concebidas;
  • acusações.

John Gottman, um conceituado investigador na área das relações, identificou e descreveu quatro comportamentos destrutivos que corroem as relações, aos quais chamou os “Quatro Cavaleiros do Apocalipse

  • Crítica (julgamentos negativos ou ataques ao carácter do parceiro, que vão muito para além de uma queixa acerca de algo feito para se tornar um ataque pessoal);
  • Desprezo (frequentemente considerado um dos comportamentos mais destrutivos numa relação, parte de um sentido de superioridade e vai para além da crítica, envolvendo um profundo sentido de desrespeito, escárnio ou sarcasmo);
  • Defensividade (vitimização constante de um ou de ambos os elementos do casal, procurando desculpas e não assumindo a responsabilidade das suas acções, criando entropia para uma comunicação produtiva);
  • Bloqueio ou Muralha (refere-se à retirada de um dos elementos do casal da interacção, recusando-se a envolver-se ou a responder ao outro, levando à quebra da comunicação).

Identificando e focando estes padrões, podemos prevenir danos cumulativos nas relações e passar à acção no sentido da melhoria da relação. Para tal, devemos:

  • focar-nos no outro, utilizando uma escuta activa, com tempo livre de interrupções de terceiros ou distracções de telemóveis ou televisões;
  • estar presentes, conscientes das nossas emoções e focados naquilo que queremos realmente dizer;
  • comunicar de forma clara, garantido que o outro compreende o que queremos transmitir;
  • mostrar empatia, colocarmo-nos no lugar do outro, de maneira a melhor compreender os seus sentimentos e necessidades, mesmo discordando;
  • ser honestos;
  • não acusar ou culpabilizar o outro, optando por referir a situação ou o comportamento desconfortável e expressando os sentimentos que daí surgem;
  • evitar o “Tu”, substituindo-o por “Eu”, focando a expressão dos sentimentos e emoções que nos surgem sem colocar o parceiro numa posição defensiva;
  • aceitar a nossa responsabilidade no problema ou conflito;
  • estar dispostos a perdoar;
  • focar-nos na resolução do conflito;
  • procurar ajudar profissional. A Terapia de Casal e Familiar pode ser preciosa.

De uma forma geral, uma boa maneira de resolver um conflito é fazer com que o outro compreenda que conseguimos ver as coisas através da perspectiva dele, mesmo não estando de acordo, facto este que contribui para aumentar o capital de sentimentos positivos entre o casal. Aliás, a luta pelo equilíbrio entre as interacções positivas e negativas, define o “rácio mágico” de cinco interacções positivas por cada interacção negativa. Os casais que conseguirem manter este rácio, tendem a ter relações mais agradáveis e duradoras. Para tal, devemos focarmo-nos num estilo de comunicação claro, com um mínimo de zonas escuras e indefinidas, sujeitas às interpretações e emoções de cada um dos membros do casal.