"Ele vai passar pelo Brasil. Resta definir o plano de voo", disse o ministro brasileiro do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, à imprensa, em Brasília, após uma reunião neste domingo com o presidente Jair Bolsonaro e com outros membros do governo.

Condenado à prisão perpétua na Itália pela morte de quatro pessoas, Battisti "foi detido por polícias bolivianos da Interpol na rua" no sábado, disse uma fonte do governo boliviano ouvida pela AFP.

Ele "entrou de maneira ilegal no país", aparentemente com documentos falsos, acrescentou a mesma fonte.

"Battisti foi detido na rua. Não estava armado e não ofereceu resistência. Mostrou um documento brasileiro que confirma a sua identidade. Agora, a Itália espera por ele", disse uma fonte do Ministério italiano do Interior.

O presidente Jair Bolsonaro felicitou as autoridades responsáveis pela detenção.

"Parabéns aos responsáveis pela captura do terrorista Cesare Battisti!", escreveu o governante brasileiro no Twitter, algumas horas depois do anúncio de detenção do italiano, condenado à revelia à prisão perpétua em seu país.

No Twitter, o deputado Eduardo Bolsonaro enviou uma mensagem ao ministro italiano do Interior, Matteo Salvini, líder da extrema direita em Itália: "Brasil não é mais terra de bandidos. @matteosalvinimi, 'o presentinho' está chegando'".

Num comunicado, Salvini agradeceu às forças de segurança italianas e estrangeiras pela detenção de "um criminoso que não merece uma vida confortável na praia, e sim passar o fim da vida na prisão", extendendo também gratidão a Bolsonaro.

Hoje, o governo italiano enviou um avião com polícias e membros dos serviços secretos para ir buscar Battisti.

O ex-militante, de 64 anos, foi detido ontem, às 18h50 locais (22h50 em Lisboa) com "hálito de álcool", relatou a fonte boliviana. Ele tinha em mãos documentação brasileira, um telemóvel e um cartão de crédito em seu nome. Hoje, encontrava-se detido na sede da Interpol em Santa Cruz.

Battisti estava foragido desde dezembro passado, quando um juiz do Supremo Tribunal Federal (STF) determinou a sua prisão no dia 13 desse mesmo mês. Um dia depois, o então presidente Michel Temer assinou a ordem de extradição há anos solicitada pela Itália.

"Far-se-á justiça"

Cesare é um ex-militante do grupo Proletários Armados pelo Comunismo (PAC), ativo durante os "anos de chumbo" na Itália, um período entre o final dos anos 60 e o fim dos anos 80, marcado por atentados de organizações de direita e de esquerda, entre elas as Brigadas Vermelhas.

Battisti foi julgado à revelia em 1993 e condenado a prisão perpétua por quatro homicídios e cumplicidade noutros assassinatos cometidos no final dos anos 1970. O italiano negou sempre os crimes.

"O primeiro pensamento é para as vítimas deste assassino (...) protegido pelas esquerdas de metade do planeta. Acabou o piquenique", acrescentou Salvini.

"Finalmente far-se-á justiça com as vítimas do terrorismo", reagiu, de forma mais comedida, o ex-chefe do governo italiano, Paolo Gentiloni.

O ex-ativista viveu 15 anos exilado em França, protegido sob a doutrina de François Mitterrand, onde se tornou um bem-sucedido autor de romances policiais. Pressionada pela insistência italiana, a França acabou por deter Battisti em 2004 e preparou a sua extradição. Contudo, um recurso apresentado permitiu a Battisti aguardar o processo em liberdade condicional, condição que aproveitou para passar à clandestinidade e fugir para o Brasil. Foi detido no Rio de Janeiro em 2007.

Cesare Battisti
Cesare Battisti a falar aos media franceses depois de ser libertado da prisão francesa de La Santé créditos: EPA/Isabelle Simon

Em 2010, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva negou a sua extradição para a Itália, após um longo processo judicial marcado por tempo de prisão. No último dia do seu mandato, Lula concedeu-lhe o estatuto de refugiado político. No entanto, Battisti casou-se com uma brasileira, com quem teve um filho em 2013.

"Finalmente, a justiça será feita ao assassino italiano e companheiro de ideais de um dos governos mais corruptos que já existiram no mundo (PT)", acrescentou Bolsonaro nas redes sociais.

A sua extradição para a Itália foi uma das promessas do então candidato Bolsonaro ao longo da campanha eleitoral à presidência brasileira.

"Diante da detenção de Cesare Battisti pela Interpol, em Santa Cruz de la Sierra, Bolívia, o Ministério da Justiça e Segurança Pública e o Ministério das Relações Exteriores estão a tomar todas as providências necessárias, em cooperação com o Governo da Bolívia e com o Governo da Itália, para cumprir a extradição de Battisti e entregá-lo às autoridades italianas", disseram ambas as pastas em nota conjunta divulgada hoje.