Na presença de diversos ‘media’, o turco Mevlut Çavusoglu e o grego Nikos Dendias opuseram-se em particular sobre questões relacionadas com fronteiras marítimas, migrações e tratamento das minorias durante uma conferência de imprensa, na sequência de uma visita a Ancara do ministro grego para consolidar o diálogo impulsionado pelos dois países para a resolução dos diferendos bilaterais.
“Se emite semelhantes e pesadas acusações contra o meu país e o meu povo, sou forçado a responder”, assinalou Çavosoglu, ao demonstrar irritação pelas declarações do seu homólogo grego.
Dendias criticou designadamente as atividades turcas no mar Egeu e no Mediterrâneo Oriental, que considera uma aplicação abusiva por parte de Ancara de um memorando sobre migrações firmado com a União Europeia.
“A posição da Grécia é clara e não é a primeira vez que a escuta: a Turquia violou no mar Egeu e no Mediterrâneo Oriental o Direito Internacional e a Convenção [internacional] do Mar e os direitos soberanos da Grécia, a Turquia efetuou 400 voos sobre solo grego”, disse Dendias.
No tema dos migrantes, Çavusoglu defendeu-se ao considerar que a Turquia se comportou “de forma decente” e acusou Atenas de ter “devolvido 80.000 pessoas [à Turquia] nos últimos quatro anos”.
O chefe da diplomacia turca assinalou ainda que as atividades de Ancara no Mediterrâneo Oriental se destinam a “proteger os interesses da Turquia e dos cipriotas turcos”.
“Temos divergências sobre estes assuntos, mas se veio aqui para acusar a Turquia quando decidimos discutir estes dossiês, sou obrigado a responder-lhe”, acrescentou, qualificando por diversas vezes de “inaceitáveis” as observações do seu homólogo grego.
Nos últimos dias, Atenas e Ancara emitiram sinais de intransigência face ao principal ponto em litígio, a delimitação das zonas económicas exclusivas (ZEE) no Mediterrâneo, onde os dois países pretendem promover prospeções e a exploração de jazidas de gás natural.
A Turquia contesta a pretensão da Grécia em projetar uma zona económica a partir das suas ilhas, como estabelece a lei marítima internacional, e exige que a partilha das ZEE também considere a longitude das zonas conteiras continentais.
Com o objetivo de dar uma dimensão internacional à sua reivindicação, a Turquia assinou em dezembro de 2019 com o Governo da Líbia um memorando que fixa o limite entre as ZEE dos dois países numa zona também reclamada pela Grécia, e com Antenas a responder através de um acordo similar com o Egito.
Na segunda-feira, o Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, e o novo primeiro-ministro interino da Líbia, Abdul Hamid Dbeibah, confirmaram durante uma conferência de imprensa conjunta em Ancara o seu apoio ao acordo marítimo comum, descrito como “benéfico para ambos os países”.
No mesmo dia, Nikos Dendias deslocou-se à Líbia, onde se reuniu com o vice-primeiro-ministro Hussein Atiya Al Qatrani, e seis dias após ter acompanhado o primeiro-ministro grego, Kyriakos Mitsotakis, numa visita oficial a Tripoli.
Dendias agradeceu a Qatrani a sua “posição franca” face ao “memorando ilegal” sobre zonas marítimas assinado entre a Turquia e o anterior Governo líbio, e reiterou a convicção de que não será ratificado pelo parlamento líbio.
Para além deste conflito crucial, existem ainda divergências relacionadas com os fluxos migratórios no mar Egeu, onde Atenas acusa Ancara de facilitar a saída de migrantes das suas costas, enquanto as autoridades turcas contestam as “devoluções imediatas” de refugiados por parte da guarda-costeira grega, uma ação ilegal de acordo com a lei grega e europeia.
Para além da gestão dos fluxos migratórios nas fronteiras terrestres e marítimas dos dois países, as suas relações também registam atritos recíprocos em torno do tratamento das minorias muçulmana na Grécia e ortodoxa na Turquia.
Em 25 de janeiro foram retomados em Istambul os contactos exploratórios promovidos por funcionários dos ministérios dos dois países e que estiveram suspensos cinco anos, com uma segunda ronda realizada em Atenas em 15 de março, mas sem resultados concretos.
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