Em dois dias, 31 de outubro e 1 de novembro, três campos de deslocados situados em Batangafo foram incendiados, destruindo várias habitações, bem como um mercado e quatro instalações onde os menores deslocados podiam prosseguir a sua escolarização, segundo a missão da ONU no país (MINUSCA).

Os ataques deixaram 20 feridos, com uma dezena a precisar de intervenções cirúrgicas de urgência, dos quais dois morreram devido a queimaduras.

Apesar de não terem sido divulgados os nomes dos grupos autores dos ataques, na região afetada atuam grupos relacionados com os ex-Séléka e os anti-Balaka.

Também no centro do país, na cidade de Bambari, ocorreram confrontos violentos durante a semana, que provocaram 12 feridos, um dos quais um paraquedista português.

“A situação em Batangafo e Bambari continua muito tensa. A proteção da população e da missão sanitária continua a ser as nossas prioridades principais”, disse o responsável da missão dos MSF na RCA, Omar Ahmed Abenza, em comunicado.

“A situação humanitária na RCA mantém-se preocupante e esta última erupção de violência ameaça enfraquecer ainda mais as comunidades deslocadas, que já estão em extrema precariedade, e que precisam de comida, refúgio e outros bens básicos”, sublinhou Abenza.

A República Centro-Africana caiu no caos e na violência em 2013, depois do derrube do ex-Presidente François Bozizé por vários grupos juntos na designada Séléka (que significa coligação na língua franca local), o que suscitou a oposição de outras milícias, agrupadas sob a designação anti-Balaka.

O conflito neste país, com o tamanho da França e uma população que é menos de metade da portuguesa (4,6 milhões), já provocou 700 mil deslocados e 570 mil refugiados, e colocou 2,5 milhões de pessoas a necessitarem de ajuda humanitária.

O governo do Presidente Faustin-Archange Touadéra, um antigo primeiro-ministro que venceu as presidenciais de 2016, controla cerca de um quinto do território.

O resto é dividido por mais de 15 milícias que, na sua maioria, procuram obter dinheiro através de raptos, extorsão, bloqueio de vias de comunicação, recursos minerais (diamantes e ouro, entre outros), roubo de gado e abate de elefantes para venda de marfim.

Portugal está presente no país desde o início de 2017, no quadro da MINUSCA.

No início de setembro, o major-general do Exército Marco Serronha assumiu o cargo de 2.º comandante da MINUSCA.

Aquela que já é a 4.ª Força Nacional Destacada Conjunta no país é composta por cerca de 160 militares e iniciou a missão em 05 de setembro.

Portugal também integra a Missão Europeia de Treino Militar-República Centro-Africana (EUMT-RCA), comandada pelo brigadeiro-general Hermínio Teodoro Maio.

A EUTM-RCA, que está empenhada na reconstrução das forças armadas do país, tem 45 militares portugueses, entre os 170 de 11 nacionalidades que a compõem.