Estas críticas foram feitas por Agostinho Lopes, membro da Comissão Central e Controlo do PCP, atualmente com 80 anos, num discurso mais longo do que o previsto perante o Congresso Nacional do PCP, que termina no domingo em Almada.

Deputado eleito em várias legislaturas pelos círculos de Santarém e de Braga, Agostinho Lopes traçou um quadro negro sobre a evolução da economia nacional nos últimos anos, apontando fenómenos como a inflação, a persistência de salários baixos, uma percentagem elevada de trabalhadores pobres e habitação com preços galopantes, ao mesmo tempo que disse aumentarem os lucros dos fundos imobiliários e das empresas monopolistas.

Ainda de acordo com Agostinho Lopes, verifica-se em Portugal um “mar de dificuldades económicas, apertos da tesouraria familiar, negócios públicos e privados marcados pela corrupção, uma justiça para ricos e para pobres e uma sobreposição do interesse individual e egoísta” face ao sentido de comunidade.

Uma conjuntura que também caracterizou com uma “comunicação social secretária, reacionária e inculta, guiada pela voz do dono de centrais de desinformação do imperialismo”. Se alguém tiver dúvidas, é ver alguns comentários do dia que ontem [sexta-feira] tivemos aqui no congresso”, disse.

Para o antigo deputado, Portugal chegou a esta situação após “anos de recuperação capitalista, latifundista e imperialista, enfeudamento à União Europeia e ao euro, privatizações e liberalizações”.

Anos, na sua perspetiva, em que foram cometidos “crimes económicos, uns atrás dos outros”, designadamente na Siderurgia Nacional ou com o encerramento da refinaria de Matosinhos.

"PS e PSD nunca irão assumir responsabilidades pelo mal feito, nunca se irão declarar autores dos estrangulamentos e impasses que o país enfrenta"

“Por razões que bem se percebem, PS e PSD nunca irão assumir responsabilidades pelo mal feito, nunca se irão declarar autores dos estrangulamentos e impasses que o país enfrenta. Os que agora falam em reter talento são os mesmos que ontem mandavam os jovens sair da zona de conforto”, criticou.

No entanto, de acordo com Agostinho Lopes, PS e PSD são responsáveis por linhas de caminho de ferro encerradas ou abandonadas, assim como pela degradação do aparelho de Estado ao terem deixado “decapitar a inteligência e a sua capacidade técnica”.

“São os mesmos que há décadas protestam contra o peso do Estado nas contas públicas, tudo para garantir excedentes orçamentais e contas certas. São os mesmos que por incompetência, ineficácia, insensatez ou mesmo corrupção fizeram mal ou não fizeram nada em áreas essenciais como o Serviço Nacional de Saúde, o novo aeroporto de Lisboa, a ferrovia ou a justiça”, acusou.

Agostinho Lopes insurgiu-se ainda contra os que “sonham com um país sem partidos e sem sindicatos”.

“Como PSD, PS e CDS não podem esconder o que andaram a fazer ao longo destas décadas, então há que disfarçar”, acrescentou.