A este Congresso, de acordo com o calendário político já definido pela direção liderada por António Costa, segue-se uma convenção sobre Europa em janeiro e outra em junho para aprovar o programa eleitoral dos socialistas às eleições legislativas de outubro de 2019.

Na moção de orientação política apresentada para discussão e votação no Congresso, o atual primeiro-ministro define quatro políticas centrais de médio e longo prazo: Os combates às desigualdades e às alterações climáticas, e os desafios demográfico e da sociedade digital.

Esta reunião do órgão máximo do PS acontece ao fim de dois anos e meio de uma solução inédita de governação, apoiada no parlamento pelos partidos à sua esquerda.

Na sua moção, intitulada "Geração 20/30", que foi coordenada pela sua secretária de Estado Marina Vieira da Silva, o líder socialista nada refere sobre posicionamento estratégico face aos restantes partidos à esquerda e à direita do PS, nem especifica metas eleitorais, da mesma forma que não detalha objetivos macroeconómicos ou sociais para a próxima legislatura.

A resposta a essas questões foi deixada para o programa de Governo que o secretário-geral do PS prevê apresentar em junho de 2019, antes das eleições legislativas.

Nestes últimos dias antes das diretas, marcados pelo anúncio da saída do PS de José Sócrates, o secretário-geral tem pedido aos militantes socialistas que discutam o futuro e não o presente.

O episódio da saída de Sócrates começou com o presidente do PS, Carlos César, e o porta-socialista, João Galamba, a considerarem que será "uma vergonha" para o partido se as acusações judiciais contra o antigo primeiro-ministro se confirmarem em tribunal.

A seguir, António Costa disse que, a confirmarem-se essas acusações, tal será "uma desonra" para a democracia.

Na sexta-feira passada, José Sócrates comunicou o seu abandono do PS, considerando inaceitáveis "julgamentos antecipados" feitos pelos seus camaradas.

O secretário-geral do PS afirmou depois respeitar a decisão pessoal de José Sócrates, mas manifestou-se surpreendido com ela, alegando que a posição do seu partido sobre separação rigorosa de assuntos de justiça e de política se mantinha.

Na moção "Geração 20/30", no plano político, António Costa compromete-se apenas com objetivos genéricos como o aumento sustentado do salário mínimo, o estímulo a políticas de aumento global dos vencimentos dos portugueses, a introdução de nova tributação sobre lucros, a adoção de uma política de atração de imigrantes e a promoção de energias limpas.

Antes deste Congresso, no entanto, entre membros da primeira linha da equipa do secretário-geral do PS e primeiro-ministro, abriu-se a já discussão sobre o posicionamento do partido mais à esquerda ou no centro-esquerda.

Em artigos escritos na comunicação social, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, sem fazer qualquer referência à solução de Governo em vigor, defendeu que o PS se deve manter no espaço do centro-esquerda político, continuando a trajetória da década de 90 sob a liderança de António Guterres.

Por sua vez, o secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, Pedro Nuno Santos, recusou um PS equidistante face ao PSD e aos atuais parceiros do Governo (Bloco de Esquerda, PCP e PEV), preconizando uma rutura com as políticas ao centro seguidas por vários partidos socialistas em toda a Europa ao longo das últimas duas décadas.

Para esta corrente, o PS deve ter como aliados preferenciais os partidos à sua esquerda, tal como acontece na atual legislatura.

"O PS deve ir buscar apoios à esquerda para fazer as reformas que o país precisa, porque à sua direita, para essas reformas socialistas, terá sempre oposição", defendeu na segunda-feira o líder da Federação da Área Urbana de Lisboa (FAUL) do PS, Duarte Cordeiro, também diretor de campanha da candidatura de António Costa ao cargo de secretário-geral.

António Costa tem-se mantido fora deste debate entre as alas esquerda e direita do PS.

O líder dos socialistas, porém, em sucessivas intervenções públicas, tem reiteradamente recusado a hipótese de o seu partido repetir soluções de Governo tipo "Bloco Central" PS/PSD, alegando que são prejudiciais à saúde das democracias por ausência de alternativas e, por isso, favoráveis à emergência de forças extremistas e populistas.