"Eu saio desse cargo, de representação dos conselheiros, e passo a ser uma conselheira que fala por ela própria e responde pelos eleitores que a elegeram. [...] Enquanto presidente eu teria de o convidar [André Ventura] e ser anfitriã da reunião. Normalmente os convidados chegam, falam comigo e eu sou a principal interlocutora", explicou Luísa Semedo em declarações à Lusa.
O presidente do Conselho Permanente do Conselho das Comunidades Portuguesas (CPCCP), Flávio Martins, comentou hoje a demissão de Luísa Semedo, tendo afirmado à Lusa que a decisão é merecedora do seu “respeito”, mostrando-se solidário com a conselheira.
“Quanto à demissão da Luísa Semedo […], os conselhos regionais têm autonomia de funcionamento, que o conselho permanente respeita, e a decisão pessoal dela merece também o meu respeito e a minha solidariedade. Já, inclusive, expressei isso diretamente a ela”, declarou Flávio Martins.
Também a secretária de Estado das Comunidades Portuguesas, Berta Nunes, disse na terça-feira à Lusa respeitar a decisão de Luísa Semedo, acrescentando que o seu trabalho como conselheira não será afetado pelos acontecimentos.
“Ela demitiu-se, apresentou as suas razões e eu só tenho mesmo de as respeitar. Isso não interferirá em nada, suponho eu, com o trabalho que ela vai agora fazer como conselheira das comunidades portuguesas”, disse a secretária de Estado.
A conselheira, que integra o Conselho das Comunidades Portuguesas e foi eleita em França, anunciou nas suas redes sociais no fim de semana que abandonaria o seu cargo de representação dos restantes 24 membros do Conselho Regional da Europa devido à obrigação de uma interação direta com o partido Chega, recentemente eleito para a Assembleia da República.
"É uma situação absolutamente impossível de fazer porque eu não considero nem o Chega nem o André Ventura como legítimos no cargo onde estão. Não vou falar com uma pessoa que é racista, fascista e tem no seu programa várias medidas intolerantes", argumentou Luísa Semedo.
A reunião do Conselho Regional da Europa vai realizar-se nos dias 27 e 28 de fevereiro em Lisboa, no Ministério dos Negócios Estrangeiros.
Nesta ocasião, os conselheiros que representam a comunidade nos diferentes países europeus encontram-se com representantes de todos os partidos eleitos para a Assembleia da República de forma a discutirem os problemas e prioridades da diáspora. A reunião vai servir também para eleger um novo presidente.
"Toda a reunião anual tem eleição para a mesa diretora, assim prevê a lei. Não sei quem irá assumir essa função, mas será durante a reunião", explicou Flávio Martins.
Luísa Semedo indicou que não "há outros conselheiros que não querem dialogar" com André Ventura e caso o deputado apareça, os conselheiros preparam-se para tomar alguma iniciativa conjunta.
Esta tomada de posição pública de Luísa Semedo, tem levado a que tenha sido alvo de várias ameaças, vendo-se obrigada na terça-feira a fechar a sua página de Facebook.
"Ontem, de repente, comecei a receber imensas mensagens ao mesmo tempo. Mensagens muito violentas e ameaçadoras, a dizerem que eu era pior que o Hitler e eu comecei a bloquear. Depois achei que havia coisas demasiado difíceis como 'macaca', 'preta' ou 'morre'", indicou.
O Conselho das Comunidades Portuguesas que elege representantes em todo o Mundo vai ter novas eleições em outubro deste ano e a conselheira em França ainda está a ponderar uma possível recandidatura.
"Achava que não [me voltaria a candidatar], porque achava que era importante haver uma rotatividade. Mas agora não consigo dizer de forma definitiva que não me candidatarei. Mas há várias formas de lutar", concluiu.
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