Em comunicado divulgado esta sexta-feira, 31 de março, o Conselho de Redação  da RTP condenou "com veemência as agressões ignóbeis de que foram vítimas os camaradas Ricardo Passos Mota e Lavínia Leal" na Escola Básica dos Lóios, na freguesia de Marvila, onde se deslocaram para realizar uma reportagem na sequência de suspeitas relacionadas com a eventual violação de um menor por outro menor, alunos daquele estabelecimento de ensino, acabando um jornalista por ser agredido.

A par, o Conselho de Redação da RTP acrescenta neste comunicado que "condena também as afirmações impróprias e lamentáveis de Estrela Serrano, agravadas por esta fazer parte de um órgão oficial de aconselhamento do Serviço Público de Rádio e Televisão". A antiga jornalista é membro do Conselho de Opinião da televisão pública.

"Os membros eleitos do Conselho de Redação repudiam todo e qualquer episódio de violência sobre jornalistas, por entenderem que pode ficar colocado em causa o direito constitucional à Informação", conclui a nota.

Estrela Serrano reagiu entretanto agradecendo ao Conselho de Redação a "atenção" dada à sua publicação sobre o caso, dizendo que "qualquer discussão sobre o jornalismo enriquece e valoriza o jornalismo".

Estrela Serrano questionou no seu blog as razões pelas quais uma equipa de reportagem da RTP se deslocou com “uma câmara à escola onde uma criança de 12 anos agrediu alegadamente outra de nove e filmar agredidos e agressores."

"É evidente que qualquer violência sobre jornalistas é deplorável ainda mais quando se encontram no exercício de funções. Certamente o repórter agredido não fez mais do que recolher imagens de quem por ali se encontrava. Mas tratando-se de assunto tão grave e delicado, como a agressão sexual envolvendo crianças, a recolha de imagens era absolutamente interdita. A lei de protecção de menores proíbe a exibição de imagens de vítimas de agressões sexuais e a RTP não desconhece as restrições impostas em situações envolvendo menores. Daí que não se tenha percebido o que levou a RTP a deslocar-se com uma câmara à escola onde uma criança de 12 anos agrediu alegadamente outra de nove e filmar agredidos e agressores. Como seria de esperar, acabou agredida", pode ler-se na sua primeira publicação sobre o tema, que acabou por espoletar a polémica.

Numa publicação mais recente, Estrela Serrano não coloca em causa que a alegada agressão sexual seja notícia, questiona porém que a cobertura da mesma seja realizada "numa escola que ambas [as crianças] frequentam."

Na sequência da primeira publicação da antiga jornalista no seu blog, os jornalistas da RTP uniram-se exigindo a sua saída do Conselho de Opinião da televisão pública. Num abaixo-assinado que conta já com mais de 90 assinaturas, os jornalistas escrevem que face a estas declarações, Estrela Serrano "não tem qualquer condição para se manter, digna e coerentemente, membro do Conselho de Opinião da RTP. (...) Para Estrela Serrano [a equipa de reportagem da RTP] estava mesmo a pedi-las. E quem pede, agora, somos nós. A demissão."

Antes, neste mesmo documento, os jornalistas consideram "inaceitável que um membro do Conselho de Opinião numa publicação pública emita informações falsas", nomeadamente relativo ao facto de, segundo Serrano, a RTP não ter adiantando os motivos da reportagem que levou a equipa de reportagem alvo de agressão à escola de Marvila.

Hoje, em comunicado, a Direção de Informação da RTP considerou que "a agressão a um jornalista é um ato inaceitável e cobarde", acrescentando que "não pode deixar de condenar com veemência as agressões, atentatórias da liberdade de informação, que mais não visam do que condicionar o exercício do jornalismo".

(Notícia corrigida às 23h27: Contrariamente ao avançado pela agência Lusa, o documento do Conselho de Redação e o documento assinado por vários jornalistas da RTP são documentos distintos, ainda que se refiram ao mesmo caso. A correção acrescenta também a reação de Estrela Serrano ao comunicado do Conselho de Redação da RTP).