“Transformar radicalmente o paradigma da manutenção dos aviões, com significativo aumento de segurança e ganhos económicos, é o objetivo do projeto europeu ReMAP, que acaba de obter 6,8 milhões de euros de financiamento no âmbito do programa Horizon 2020″, anunciou hoje a Universidade de Coimbra (UC), numa nota enviada à agência Lusa.
O consórcio do projeto integra vários centros de investigação, designadamente a UC, através da Faculdade de Ciências e Tecnologia (FCTUC), e o Instituto Pedro Nunes (IPN), e diversas empresas dos setores da aviação e de tecnologias de informação, entre as quais a Embraer Portugal, Optimal Structural Solutions, KLM, UTRC Ireland e ATOS Spain. Na equipa de consultores científicos — refere ainda a UC –, estão a Airbus SAS, European Aviation Safety Agency, Thales Avionics e Royal Netherlands Air Force.
“Para tornar a manutenção nas grandes companhias aéreas mais segura e com menores tempos de imobilização das aeronaves, o consórcio vai desenvolver um sistema tecnológico inovador baseado em inteligência artificial”.
O sistema conjuga algoritmos inteligentes capazes de processar “enormes volumes de dados em tempo real, ‘machine learning’ (aprendizagem de máquina), redes neuronais (inspiradas no funcionamento do cérebro) e uma plataforma informática de integração e computação na nuvem”, explica a UC.
Permitindo “ganhos de 700 milhões de euros por ano na aviação europeia”, a tecnologia ReMAP, de uma forma geral, “analisa um grande conjunto de dados heterogéneos gerados pelos vários sensores existentes nos sistemas da aeronave, bem como dados das condições ambientais no espaço aéreo percorrido”, acrescenta.
Os algoritmos de aprendizagem automática permitem que “o sistema seja treinado a reconhecer, a partir desses dados, o estado real dos componentes e o seu tempo de vida útil”.
Esta solução inovadora, que será testada em meia centena de aviões da frota da KLM (20 aviões Boeing-787 e 30 Embraer 190), irá permitir, num futuro próximo, “ter uma manutenção preditiva, ou seja, a manutenção de aeronaves, que atualmente é feita com base em intervalos de tempo ou de utilização fixos, passa a ser efetuada com base no estado real dos componentes relativamente ao seu ciclo de vida, determinando o momento certo para a sua substituição”, explicam os coordenadores da equipa portuguesa, Carlos Lisboa Bento, Bernardete Ribeiro e Paulo Rupino da Cunha.
Assim, “um componente só é substituído quando está realmente em fim de vida. Por outro lado, é possível detetar antecipadamente a sua degradação, permitindo a intervenção antes que provoque danos ou cause disrupções nas operações”, acrescentam os investigadores do Centro de Informática e Sistemas da Universidade de Coimbra (CISUC), citados pela UC.
O ReMAP obteve uma pontuação excecionalmente alta da parte dos avaliadores da Comissão Europeia, “um resultado muito pouco comum no programa Horizon 2020 de apoio à investigação europeia”, afirma a UC, sublinhando que se trata de “um programa altamente competitivo a que só as melhores instituições de investigação e valorização de conhecimento conseguem ter acesso”.
O projeto é globalmente coordenado pelo investigador Bruno Santos, da Faculdade de Engenharia Aeroespacial da TU Delft (universidade de tecnologia, na Holanda) e antigo docente da Universidade de Coimbra.
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