Abril é o mês da prevenção contra os maus tratos na infância, desde que, em 1989, uma mulher norte-americana amarrou uma fita azul na antena do carro, em homenagem ao neto, vítima mortal de maus tratos, tendo escolhido aquela cor para simbolizar a cor das lesões.
Para a presidente da Comissão Nacional de Promoção dos Direitos e Proteção das Crianças e Jovens (CNPDPCJ), “nunca é demais chamar a atenção que proteger as crianças compete a todos”.
“Todos nós temos uma responsabilidade imensa, enquanto adultos, de estarmos atentos às crianças que estão à nossa volta e de podermos protegê-las devidamente. Parece que já passaram muitos anos e que já não é preciso, mas infelizmente ainda é preciso termos estes momentos de chamada de atenção para a prevenção de maus tratos na infância”, defendeu Rosária Farmhouse.
Segundo a responsável, trata-se de uma realidade “muitas vezes invisível” e sobre a qual é difícil perceber os sinais.
“Passaram muitos anos, mas a verdade é que em muitos países, apesar de termos este mês internacional de prevenção dos maus tratos na infância, continuamos a ter crianças a serem vítimas de maus-tratos de forma invisível”, apontou.
De acordo com Rosária Farmhouse, todos os anos as Comissões de Proteção de Crianças e Jovens (CPCJ) acompanham cerca de 70 mil crianças e recebem mais de 40 mil comunicações de perigo, em que as tipologias mais frequentes têm a ver com negligência.
Explicou que tanto pode estar em causa situações de omissão de cuidados, indiferença em relação ao crescimento da criança, ausência de condições mínimas para um crescimento integral e seguro, como casos de violência doméstica, ou abandono escolar precoce.
Referiu, por outro lado, que há também comportamentos de perigo na infância e juventude, em que os próprios têm comportamentos que representam um perigo e os pais ou cuidadores não conseguem fazer parar, como seja ‘bullying’, consumo de drogas, álcool ou dependência de jogo.
De acordo com a presidente da CNPDPCJ, estas são as tipologias que mais aparecem, tendo sublinhado que os comportamentos de perigo na infância e juventude “continuam com uma expressão muito grande” e tendem a começar cada vez mais cedo, com casos já de crianças com 11 anos.
Referiu que a dependência do jogo “também teve um ligeiro aumento” e alertou para a dependência do ecrã, apontando que quando não há supervisão parental as crianças podem estar a colocar-se em perigo mesmo estando dentro de casa, ficando vulneráveis a perigos como o ‘sexting’ ou o ‘ciberbullying’.
Rosária Farmhouse apontou que os maus tratos na infância são transversais na sociedade e que “estão presentes em todas as classes sociais”, sublinhando que nas classes socioeconómicas mais favorecidas os casos “muitas vezes se tornam mais invisíveis porque têm formas de disfarçar melhor” e “quem está à volta não está tão atento”.
“Nesse sentido, esta campanha do mês de abril é muito [uma] chamada de atenção de combater a indiferença a quem está à nossa volta e ficarmos na certeza que quem comunica situações de perigo o está a fazer para bem da criança e não contra ninguém”, defendeu.
Sublinhou que uma atuação atempada e uma intervenção adequada são os únicos modelos que funcionam no combate aos maus tratos na infância e que, por isso, todos são “poucos para fazer este caminho de prevenção”.
Rosário Farmhouse destacou que no dia 28, para terminar de assinalar o mês, vai decorrer no Terreiro do Paço, em Lisboa, a construção de um laço azul, tal como noutros pontos do país, com a ajuda de 1.500 crianças.
O mês da prevenção contra os maus tratos na infância tem vindo a ser assinalado pelas 300 CPCJ dispersas no país, em conjunto com a Comissão Nacional, com inúmeras iniciativas, desde seminários, caminhadas, concursos de música ou poesia, até edifícios simbólicos que em cada concelho se iluminam de azul.
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