Foi revelado na tarde de segunda-feira, 3 de junho, que o Ministério da Saúde vai avançar com uma auditoria administrativa e financeira ao Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM). Em causa está a liderança do instituto, a cargo de Luís Meira, que tem sido apelidada como "gestão danosa" pelos trabalhadores, nomeadamente do Sindicato dos Técnicos de Emergência Pré-Hospitalar.
O Governo não adiantou o que planeia fazer com o INEM, remetendo mais esclarecimentos para a audição parlamentar da ministra Ana Paula Martins esta quarta-feira. Antes, é a vez de Luís Meira dirigir-se aos deputados que compõem a Comissão de Saúde da Assembleia da República.
No início de maio, a comissão parlamentar de Saúde aprovou quatro audições sobre as condições financeiras e de funcionamento do INEM, incluindo a da ministra da Saúde, na sequência de requerimentos apresentados pelas bancadas do Chega e do PSD.
Especificamente no que concerne ao INEM, o Chega alegou que, de acordo com “informações veiculadas pela imprensa”, o instituto enfrenta uma “grave crise financeira, que compromete a sua capacidade de manter em funcionamento a rede” de ambulâncias e de helicópteros que são acionados nas situações de emergência médica. Já o PSD justificou o seu pedido de audições com a “inegável degradação dos meios materiais” do INEM, que tem “prejudicado a prestação de socorro de emergência” às populações.
Segundo o Jornal de Notícias, voltaram a ser denunciados novos atrasos no atendimento das chamadas do centro de orientação de doentes urgentes (CODU). A Associação Nacional dos Técnicos de Emergência Médica revelou que "graves constrangimentos" afetaram a resposta, com mais de 50 chamadas em espera e atrasos de atendimento entre 10 e 15 minutos.
Alerta semelhante já tinha sido deixado por Rui Lázaro, presidente do Sindicato dos Técnicos de Emergência Pré-Hospitalar (STEPH), numa sessão da comissão parlamentar de Saúde no final de maio. O responsável frisou também a escassez de técnicos de emergência hospitalar que se reflete em ambulâncias paradas e na diminuição da prestação de cuidados de emergência médica em todo o país.
Ressalvando não ter “prova nenhuma, nem nenhum dado” que leve a pensar que possa haver “um conluio para favorecer quem quer que seja”, Rui Lázaro disse que o que se passa é “no mínimo gestão danosa”.
“Só pode ser, porque é o dinheiro de todos nós que está a ser desperdiçado com este tipo de gestão que já criticámos na altura que mantínhamos conversações - e que deixámos ter porque ele não quer - com o presidente do INEM [Luís Meira], que nunca nos soube responder”, salientou Portanto, vincou, “é mais um argumento para justificar que a Assembleia da República, de facto, investigue a gestão” do INEM.
Licenciado em Medicina e especialista em Anestesiologia, Luís Meira é, desde 2000, assistente hospitalar do quadro do INEM, onde entre 2000 e 2008 exerceu as funções de coordenador do Centro de Formação do Porto, coordenador do Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU) do Porto e coordenador nacional do Serviço de Helicópteros de Emergência Médica (SHEM).
Em 2003 foi-lhe reconhecida a competência em emergência médica pela Ordem dos Médicos, tendo sido nomeado diretor da Delegação Regional do Norte do INEM em 2008. Quatro anos depois, foi nomeado diretor do Departamento de Formação em Emergência Médica do instituto e em 2015 foi designado presidente do Conselho Diretivo do INEM.
No final de agosto de 2023, Luís Meira foi reconduzido no cargo para um novo mandado de cinco anos pelo Ministério da Saúde, mas esta decisão mereceu a contestação das associações de técnicos de emergência médica e de agentes de proteção civil.
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