Estas declarações de Recep Tayyip Erdogan surgem no mesmo dia em que o Governo autónomo do Curdistão iraquiano promove um referendo sobre a independência da região, contra todas as pressões e ameaças internacionais que rodearam a realização da consulta popular.
“Esta semana, medidas serão tomadas. As entradas e saídas [na fronteira com a região curda] serão encerradas”, declarou Erdogan, durante um colóquio em Istambul.
Na mesma intervenção, o chefe de Estado turco focou a questão do oleoduto que o Curdistão utiliza para exportar o seu petróleo para a Europa.
“Temos a válvula. Se a fecharmos, este assunto acaba”, ameaçou Erdogan.
“Veremos depois em quais canais as autoridades regionais do norte do Iraque irão vender o seu petróleo", reforçou.
Esta medida pode sufocar a economia do Curdistão iraquiano. Cerca de 550.000 dos 600.000 barris petrolíferos que são produzidos diariamente pelo Curdistão iraquiano são exportados através de um oleoduto que conduz ao porto turco de Ceyhan, no Mediterrâneo, no sul da Turquia.
Ancara “dará todos os passos políticos, comerciais, económicos e de segurança” para impor sanções ao Curdistão iraquiano, assegurou ainda Erdogan.
Momentos antes, o primeiro-ministro turco, Binali Yildirim, já tinha afirmado que o Governo da Turquia estava a examinar várias sanções possíveis em resposta ao referendo sobre a independência do Curdistão iraquiano, descartando uma possível ação militar.
"Antes que seja tarde demais, vamos tomar medidas em relação ao espaço aéreo e à gestão das nossas fronteiras", afirmou Binali Yildirim, acrescentando que a Turquia considera o Governo de Bagdad como o único interlocutor legítimo do Iraque e não Erbil, capital do Curdistão iraquiano e feudo do presidente Massoud Barzani, o principal promotor do referendo realizado hoje num clima de grande pressão.
A Turquia, entre outros países, expressou por diversas ocasiões a sua oposição a esta consulta popular, temendo que a criação de um estado curdo no Iraque reforce os desejos separatistas da minoria curda que vive na região sudeste do território turco, zona que é cenário de uma rebelião sangrenta desde 1984.
“O referendo realizado hoje (...) é nulo e não existe. Não reconhecemos esta iniciativa”, afirmou o Ministério dos Negócios Estrangeiros turco num comunicado.
O presidente do Curdistão iraquiano, Massoud Barzani, sempre afirmou que não tinha outra alternativa, além do referendo, para garantir a salvaguarda dos direitos dos curdos do Iraque, que representam cerca de 20% de uma população de 37 milhões e que têm enfrentado décadas de repressão.
A região do Curdistão só adquiriu o estatuto de autonomia ‘de facto’ após a primeira Guerra do Golfo, em 1991, e a oficial após a segunda Guerra do Golfo, em 2003.
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