Moscovo pretende incorporar nesta sexta-feira quatro regiões da Ucrânia, mas a de Kharkiv, um dos primeiros objetivos da invasão, continua a resistir às ações do Kremlin, cujas tropas foram obrigadas a recuar após a contraofensiva de Kiev no início de setembro.

Uma operação que prossegue com a retomada da cidade de Kupiansk, às margens do rio Oskil, constataram os correspondentes da AFP na quinta-feira.

Tanques e blindados ucranianos operavam com liberdade pela cidade industrial, que há poucas semanas era um ponto central da logística russa.

A cidade tem uma ponte, atualmente muito danificada, que atravessa o rio Oskil e uma linha ferroviária utilizada para abastecer as tropas russas.

"Este é um importante centro ferroviário que se conecta à região de Lugansk e, depois, com a rede ferroviária russo", disse o novo comandante militar ucraniano de Kupiansk, Andriy Kanashevych.

"Então, obviamente, em termos de logística e de abastecimento, era importante que eles controlassem", acrescentou.

As forças russas tentaram manter o controle de Kupiansk, apesar do colapso da frente de batalha nas proximidades de Kharkiv e da retirada catastrófica pelo nordeste da Ucrânia, deixando um rasto de tanques destruídos.

Em 19 de setembro, a margem oeste já estava sob controle dos ucranianos, mas a margem leste era cenário de violentos combates.

Na quinta-feira, pela primeira vez a segurança em Kupiansk era considerada suficiente para permitir a distribuição de pacotes de comida entre a população.

A batalha na cidade provocou cortes de água e de energia elétrica. Muitos civis fugiram, o que deixou Kupiansk com 10% e 15% da população que tinha antes da guerra (27.000 habitantes), segundo Kanashevych.

Os civis começam a sair às ruas. "Foi realmente muito difícil. Estávamos aterrorizados... sem água, sem eletricidade, sem gás, sem conexão com a internet", disse Liudmila Nagaitseva, de 52 anos.

A rapidez com que Kupiansk caiu nos primeiros dias da invasão, em fevereiro, alimentou suspeitas de que parte da população de língua russa da região estava favorável a Moscovo.

A maioria dos moradores com quem a AFP conversou parecia aliviada com a libertação da cidade pelas tropas ucranianas.

Maxim Korolevski, um empresário de 30 anos, disse que a cidade foi traída.

Ele afirmou que 200 garotos da região se apresentaram ao centro de recrutamento no primeiro dia da invasão russa, 24 de fevereiro, e foram informados para retornar no dia seguinte.

"Mas em 25 de fevereiro, os tanques russos com suas bandeiras e seus soldados já estavam aqui. O que poderíamos fazer? Nada", afirmou, antes de acusar o ex-prefeito da cidade, Guennadi Matsegora (pró-Moscovo).

"Qualquer opinião pró-Ucrânia era punida pela Rússia", recordou, ao mencionar operações de busca e ameaça.

"Sete meses de ocupação que foram como uma prisão".

Os soldados russos e suas bandeiras deixaram Kupiansk, mas as marcas permanecem visíveis em alguns pontos, como o símbolo "Z", pintado em veículos destruídos. E alguns corpos permanecem ao lado dos automóveis.