Num comício do BE em Lisboa, sob o lema “Fazer o que nunca foi feito”, Mariana Mortágua afirmou que o programa eleitoral do PS, que será apresentado no domingo, “não será o programa do próximo governo”.

“Tal como o programa do PS em 2015 não foi o programa do governo da geringonça, o programa de uma maioria que a 10 de março vença a AD [coligação PSD/CDS-PP/PPM] e o Chega será o fruto de um encontro de posições, de uma negociação difícil, mais difícil do que a da geringonça, mas imperativa, porque é o caminho de soluções que são mobilizadoras e que são concretizáveis”, defendeu.

A líder bloquista considerou que “a derrota da direita vai começar com palavras claras, com propostas concretas, com compromissos que o povo possa conhecer e verificar”, indicando tratar-se de “uma questão de responsabilidade”.

Referindo que “a direita não tem uma única solução de futuro e arrasta consigo um passado de destruição”, a coordenadora do BE criticou os programas eleitorais que PSD, Chega e Iniciativa Liberal apresentam às eleições legislativas de 10 de março, referindo serem “três panelas com a mesma receita”.

“Acham que tudo se resolve com cheques. […] Cheques em vez de serviços de saúde de qualidade, cheques em vez de escolas com professores, cheques em vez de casas que as pessoas possam pagar, cheques para as construtoras, cheques para os intermediários, cheques para os grupos milionários da saúde, cheques para os fundos imobiliários. Um livro inteiro de cheques para benefícios fiscais aos grandes grupos económicos”, elencou.

A cabeça de lista do BE por Lisboa classificou como “um monumental engodo” as propostas da direita, mas deixou também críticas ao PS: “Nós sabemos que se a direita ataca em todas estas frentes com a política-cheque é porque, nestas áreas, o fracasso da maioria absoluta foi o mais rotundo”.

“É preciso inverter as políticas erradas da maioria absoluta”, salientou.

No seu discurso, que encerrou o comício, Mariana Mortágua mostrou-se convicta de que em 10 de março “não haverá nenhuma maioria absoluta como a que o PSD/CDS tiveram no tempo da ‘troika’ ou a que o PS conseguiu nos últimos dois anos”.

“O poder absoluto deixou uma marca de incompetência, de arrogância, de desinteresse pelas pessoas, de desprezo por quem trabalha, de abandono dos serviços públicos e de máxima instabilidade”, sustentou, afirmando que “o PS destruiu credibilidade e a direita procura cavalgar sobre os escombros do governo que se demitiu há uns meses”.

“As maiorias absolutas degradaram Portugal”, acrescentou, referindo que “a que agora terminou criou uma crise política em cima de uma crise social”.

A deputada bloquista disse igualmente que “as vítimas das maiorias absolutas olham com perplexidade para estas eleições e tanto se lembram de uma direita que cortou o subsídio de Natal, como de uma maioria absoluta do PS que deixou as urgências hospitalares chegarem a vinte horas de espera ou a renda de um apartamento com 100m2 em Lisboa atingir os 1.900 euros”.

“A esquerda tem de se erguer à altura das dificuldades e mostrar que está aqui para ganhar. Nós queremos ganhar, estamos aqui para ganhar, e só o merecemos ganhar se for para virar a página desta crise social e desta governação ao serviço sempre dos mesmos privilégios”, salientou, mostrando-se convicta de que “é possível uma maioria para derrotar a direita”.

A um mês das eleições legislativas, Mortágua considerou que o “desafio é gigantesco” e que esta “vai ser a campanha mais renhida dos últimos dez anos”, e sustentou que “a direita só é derrotada se o Bloco for determinante na viragem das políticas”.

“Se o Bloco crescer, haverá nova maioria para salvar o país, para virar a página da política”, defendeu, indicando que as prioridades do BE passam por garantir o acesso à saúde, valorizar a escola pública e baixar o preço das casas.

Mariana Mortágua apelou ainda a uma “aliança popular” que permita uma viragem de políticas.