Professor universitário e especialista em alterações climáticas, Filipe Duarte Santos falava à Agência Lusa a propósito da reunião mundial sobre o clima que começa no domingo em Katovice, na Polónia, e que termina no dia 14.
Durante quase duas semanas, centenas de especialistas e responsáveis políticos reúnem-se, sob os auspícios da ONU, na 24.ª Conferência das Partes (COP24) da Convenção das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas, para debater as mudanças do clima e o futuro da humanidade. Filipe Duarte Santos é um dos participantes.
Nas declarações à Lusa defendeu a importância de no encontro mundial se chegar a acordo em três questões que considerou fundamentais, uma delas a aprovação de um roteiro que permita por em prática um conjunto de regras que levem os países a cumprir as metas com as quais se comprometeram em 2015 no acordo de Paris sobre redução de emissões de gases com efeito de estufa.
“Por enquanto há intenções, mas ainda não há mecanismos nem regras e regulamentos que permitam comprovar se os países estão a cumprir”, disse.
A segunda questão prende-se com a necessidade de os países demonstrarem vontade de não deixar a temperatura subir além de dois graus celsius acima dos valores da era pré-industrial, e a terceira prende-se com o comprometimento financeiro dos países mais desenvolvidos com projetos de adaptação às alterações climáticas e com a transição energética, para energias mais limpas que os combustíveis fósseis, dos mais pobres.
Filipe Duarte Santos lembrou que há propostas de há três anos, quando foi alcançado o Acordo de Paris, de que os países mais ricos se comprometeriam a mobilizar 100 mil milhões de dólares por ano para financiar, a partir de 2020, projetos nos países mais pobres.
Cumpridos ou não os três objetivos, questionado pela Lusa o especialista disse que reuniões como a COP24 são “sempre importantes”, porque se discute o futuro, o bem-estar e a qualidade de vida das pessoas, sobretudo das futuras gerações.
A COP24 para já “é sobretudo a esperança de que se consiga resolver um problema que é resolúvel, que passa por fazer a transição energética, passando dos combustíveis fósseis para as energias renováveis, e adotar uma maior eficiência energética”, defendeu.
Questionado pela Lusa sobre se as populações estão preparadas para fazer sacrifícios no combate às alterações climáticas, Filipe Duarte Santos referiu que as pessoas “ainda não estão convencidas de que se não protegerem o ambiente e controlarem as alterações climáticas é isso que vai ao bolso delas”.
Exemplificando com o caso de Portugal, o professor e investigador de geofísica, questionou quanto custa todos os anos o combate aos incêndios florestais, ou quanto custam os impactos e os prejuízos associados à perda de produtividade agrícola devido aos períodos de seca.
E depois, admitiu, a COP24 “é formal”, com os negociadores a terem um “espaço de manobra limitado”, com cada país a ter “a sua agenda própria”, com cada político “a interessar-se sobretudo no curto prazo”.
“Na União Europeia há países que podiam fazer mais (pela diminuição de emissões de gases com efeito de estufa), como a Alemanha, que continua a explorar o carvão. Se não deixarmos de consumir carvão não vamos de modo nenhum cumprir o Acordo de Paris”, alertou o professor, admitindo que politicamente “é insustentável” fechar as minas de carvão.
Mas sem essa coragem política o futuro para alguns países não será fácil. Se os mais ricos vão conseguir adaptar-se às alterações climáticas, os mais pobres, se essas alterações não forem controladas, vão ter uma situação “dramática”. E o fosso entre os mais ricos e os mais pobres vai ficar cada vez maior.
Filipe Duarte Santos diz que nem sequer é tão difícil resolver o problema. “O caminho é a energia limpa”.
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