As declarações foram proferidas no plenário de avaliação do estado das negociações da COP26, que não é ainda destinada à aprovação do texto, numa sessão em que o presidente da COP26, Alok Sharma, pediu às delegações para pensarem agora não no que podem acrescentar aos ganhos para os seus países mas no que é suficiente para garantir a aplicação do Acordo de Paris sobre alterações climáticas.
O representante da delegação chinesa, Zhao Yingmin, afirmou que a China “não poupará esforços” para continuar as conversações, notando que “ainda há diferenças em alguns pontos, o texto não é de forma alguma perfeito” e, apesar de não pretender “abrir de novo” a sua discussão, defendeu que deve haver “pequenas mudanças”
Uma das mudanças sugeridas refere-se a um parágrafo que defende que para cumprir o acordo é preciso “reduzir as emissões globais de dióxido de carbono em 45% até 2030 em relação ao nível de 2010”, são precisas mais “explicações”.
O ministro do Ambiente indiano, Bhupender Yadav, afirmou que “o consenso continua a fugir” e que falta equilíbrio ao texto, nomeadamente no apelo que se faz aos países para abandonarem o uso de combustíveis fósseis.
Contrapôs que foi o uso de combustíveis fósseis que permitiu “altos níveis de bem estar” nos países mais desenvolvidos e que os países mais pobres “têm direito a um quinhão justo” do orçamento carbónico mundial, defendendo o “uso responsável” desses combustíveis.
Representantes da República da Guiné e da Tanzânia queixaram-se da falta de assertividade no documento em relação à criação de um mecanismo de compensação dos países menos desenvolvidos por perdas e danos provocados em consequência das alterações climáticas.
Falando pela União Europeia, o vice-presidente da Comissão Europeia, Frans Timmermans, fez um apelo inflamado: “Por amor de Deus não matem este momento pedindo mais coisas, pedindo para acrescentar isto ou apagar aquilo!”.
Salientou que “é óbvio que há coisas que têm que ser seguidas depois, que o mecanismo de perdas e danos está no começo” e afirmou recear que a cimeira esteja “em risco de cair a metros da linha de chegada da maratona”.
“Imploro-vos, aprovem este texto, os nosso filhos e netos não nos perdoarão se falharmos hoje”, reforçou.
No mesmo sentido, o representante do estado insular de Tuvalu, Seve Paeniu, um dos países mais em risco devido à subida do nível das águas do mar, considerou que a proposta de texto e os trabalhos da cimeira “transmite uma mensagem forte de esperança e de promessa”, apelando a que as decisões não dependam do interesse de alguém em “ser reeleito nas próximas eleições”.
“Glasgow termina hoje, o trabalho real começa hoje, temos que embarcar no comboio da ambição de Glasgow e de 1,5 graus”, afirmou referindo-se à meta para limitar o aquecimento global até fim do século.
O ministro do Ambiente do Gabão, Lee White, lamentou a falta de maiores compromissos relativamente a financiamento.
“Não podemos voltar para casa na África sem um pacote significativo para adaptação. (…) E antes de partir, preciso de mais garantias dos nossos parceiros dos países desenvolvidos”, afirmou.
O chefe de delegação da Bolívia, Diego Pacheco, que falou em nome do grupo Like-Minded Developing Countries (LMDC), que inclui a China, Rússia e Índia, manifestou reservas e disse que ainda pretendia algumas “pequenas alterações”, mas deu luz verde ao texto.
“Temos problemas e profundas preocupações em relação ao rascunho do texto e às propostas apresentadas às partes nesta conferência. Refletimos muito profundamente nessas preocupações. No entanto, com o espírito de compromisso, de forma a aumentar a ambição que o mundo espera para todos os países, podemos apoiar o documento e seguir em frente”, afirmou.
Líderes políticos e milhares de especialistas, ativistas e decisores públicos estiveram até hoje reunidos em Glasgow, na Escócia, na 26.ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP26) para atualizar os contributos dos países para a redução das emissões de gases com efeito de estufa até 2030.
A COP26 decorre seis anos após o Acordo de Paris, que estabeleceu como meta limitar o aumento da temperatura média global do planeta a entre 1,5 e 2 graus celsius acima dos valores da época pré-industrial.
Apesar dos compromissos assumidos, as concentrações de gases com efeito de estufa atingiram níveis recorde em 2020, mesmo com a desaceleração económica provocada pela pandemia de covid-19, segundo a ONU, que estima que, ao atual ritmo de emissões, as temperaturas serão no final do século superiores em 2,7 ºC.
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