Travis King é um soldado norte-americano que entrou ilegalmente na Coreia do Norte quando visitava a Zona Desmilitarizada (DMZ, na sigla em inglês) entre a Coreia do Sul e a do Norte.

A Zona Desmilitarizada tem uma área que abrange 248 km de extensão e 4 km de largura, e separa fisicamente as duas Coreias desde 1953, depois da guerra iniciada em 1948. Oficialmente ambas as Coreias estão ainda em guerra. Fazendo da DMZ um dos territórios mais vigiados do mundo: onde soldados da Coreia do Norte, da Coreia do Sul e dos Estados Unidos se vêem cara a cara dia e noite.

Não é permitido visitar a DMZ a solo, apenas visitas de grupo previamente programadas são permitidas.

Durante a pandemia, a Coreia do Norte fechou as suas fronteiras ( foram reabertas esta segunda-feira aos turistas). As forças de segurança do seu lado da fronteira na Zona Desmilitarizada foram reduzidas, não sendo avistados soldados no momento da entrada de Travis King.

Na visita turística, em julho, o soldado King entrou na Coreia do Norte sem autorização. Uma testemunha que fazia parte do grupo viu Travis King a correr em direção contrária. Um soldado americano gritou: "Agarrem-no!", mas já era tarde demais.

As testemunhas dizem não terem avistado qualquer soldado norte-coreano naquele momento. A AFP que visitou a zona na mesma altura também não viu guardas norte-coreanos.

Em agosto, as autoridades norte-coreanas divulgaram que tinham capturado o norte-americano por ter atravessado a fronteira sem autorização.

Por que razão Travis King fugiu para a Coreia do Norte?

De acordo com a KCNA (agência de notícias da Coreia do Norte), King disse que tinha decidido entrar na Coreia do Norte porque “guardava ressentimentos contra maus-tratos desumanos e discriminação racial dentro do exército dos EUA”. A agência acrescentou que King expressou também vontade de procurar asilo na Coreia do Norte ou num outro país, dizendo que “estava desiludido com as desigualdades da sociedade norte-americana”.

Na altura da fuga, Travis King, de 23 anos, recebeu ordens para regressar aos EUA e enfrentar medidas disciplinares, depois de ter-se envolvido numa briga num bar, que deu confusão com a polícia e valeu-lhe dois meses numa cadeia na Coreia do Sul.

Em 10 de julho, saiu da prisão para ser conduzido sob escolta ao aeroporto, de onde deveria ter partido para uma audiência disciplinar nos Estados Unidos.

Em vez disso, conseguiu fugir e juntou-se a um grupo que visitava a fronteira na zona desmilitarizada que separa as duas Coreias, escreveu a AFP.

Esta quarta-feira, numa negociação moderada pela Suécia, a Coreia do Norte libertou o militar.

O soldado está "a caminho dos Estados Unidos" depois de ter passado pela cidade fronteiriça de Dandong, na China, e, posteriormente, pela base norte-americana em Osan, na Coreia do Sul, disse à imprensa o porta-voz do Departamento de Estado americano, Matthew Miller.

As autoridades americanas afirmaram que o militar está de "boa saúde" e agradeceram à Suécia, que atua como mediadora diplomática de Washington em Pyongyang, "e ao governo da República Popular da China pela sua ajuda na facilitação do percurso do Soldado King".

Miller declarou, no entanto, que a libertação de King não representa "um sinal de avanço" nas relações diplomáticas entre Washington e Pyongyang, classificando a libertação de um “caso isolado”.

*com Lusa e agências