O espaço alberga um vasto património de objetos pessoais de devoção, levados pelas irmãs Clarissas ao longo de vários séculos, e está a ser alvo de uma intervenção de conservação e restauro, iniciada em setembro e que deve terminar entre final de abril e meados de maio — a tempo das festividades do Senhor Santo Cristo dos Milagres, entre 24 e 30 de maio, uma das celebrações religiosas mais importantes do arquipélago.
Ao todo vão ser restaurados 14 oratórios, três retábulos, dois portais, quatro pinturas de cavalete, outras quatro, integradas na Capela dos Passos, de menores dimensões e de estrutura oval, 14 esculturas de roca e 24 esculturas de vulto.
A responsável pela intervenção, Liliana Silva, explicou que este é um trabalho difícil, porque envolve várias áreas da conservação e restauro, e que, por isso, “foi necessário reunir uma equipa com diferentes percursos profissionais, sempre de conservadores e restauradores formados, para poder chegar a melhores resultados”.
Ao longo de quase sete meses, está no Convento de Nossa Senhora da Esperança uma equipa de 20 pessoas, que, além de portugueses, integra espanhóis, italianos, belgas, finlandeses e holandeses.
O processo é longo, não só pela dimensão do acervo e diversidade das peças, mas também porque exige um esforço de conservação e de promoção das qualidades estéticas.
Com este trabalho, pretende-se, “por um lado, promover a estabilidade física e estrutural deste conjunto de peças e, por outro, devolver os valores estéticos preexistentes, que foram sendo ocultados pela acumulação de sujidade e deposição de diferentes campanhas decorativas, que foram sendo adicionadas a estes conjuntos ao longo dos tempos, algumas das quais pouco favorecedoras da sua imagem”, explicou Liliana Silva.
O património restaurado exige intervenções em “talha dourada e policromada, pintura mural, estuques dourados e policromados; associada à talha dourada e policromada, há a imaginária, num conjunto total de 38 peças, que tem associada os têxteis e a ourivesaria, azulejos e pintura de cavalete”.
Um dos principais desafios “é a compreensão das diferentes campanhas decorativas, que foram ocultando as campanhas originais”, adiantou a responsável.
“A menos que sejam campanhas muito desfavorecedoras da imagem, o que fazemos é um conjunto de ensaios para perceber o que existe por baixo, identificar as campanhas que existem subjacentes e conservar a mais recente e que esteja em melhor estado”, explicou.
Além dos desafios específicos que o restauro deste acervo traz, “qualquer intervenção, seja de conservação e restauro, seja de manutenção em edifícios que são património, tem sempre um risco acrescido”, como o de incêndio ou de derrames ambientais, devido aos produtos químicos utilizados, explicou Liliana Silva.
O restauro do Coro Alto do Convento de Nossa Senhora da Esperança faz parte de um esforço de recuperação de todo o Convento, que “durante muitos anos não sofreu qualquer obra e encontrava-se já em franco declínio e numa necessidade imperiosa de intervenção”, explicou à Lusa o reitor do Santuário do Senhor Santo Cristo dos Milagres, Adriano Borges.
“Para o futuro, contamos fazer neste convento uma parte museológica, onde as pessoas poderão entrar e visitar como era a vida num convento nos séculos XVI, XVII, XVIII e XIX, com os vestígios que ainda temos dessas épocas”, adiantou.
O roteiro “contará com alguns lugares icónicos, como o coro baixo onde se encontra a imagem do Senhor Santo Cristo dos Milagres e também o Coro Alto”.
Sobre o património do Coro Alto, o cónego disse ser “excelente”, devido à concentração e diversificação de arte” existente no espaço que reúne “elementos dos séculos XVII, XVIII e XIX”.
As peças chegaram ao Convento pelas mãos das irmãs Clarissas, que “eram obrigadas a trazer um dote, que podia consistir em várias coisas, mas muitas delas traziam objetos de devoção privada”.
“Esses objetos iam sendo postos pela casa, mormente no espaço de oração, que era o Coro Alto, até porque não seria permitido ter esses objetos nas suas celas”, esclareceu o reitor.
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