O anúncio desta decisão foi feito na quarta-feira à noite pelo primeiro-ministro de Cabo Verde, Ulisses Correia e Silva, garantindo que a interdição de todos os voos com origem em Itália terá um prazo inicial de três semanas.
Na resolução do Conselho de Ministros publicada hoje em Boletim Oficial e que entra “imediatamente em vigor”, o Governo justifica a decisão por entender que deve “tomar medidas preventivas urgentes para garantir a segurança do país em matéria de saúde pública”.
“Considerando o nível de alerta da OMS [Organização Mundial de Saúde] e a crescente ansiedade da população sobre esta situação e não descurando os fracos recursos médicos do país em fazer face a uma situação em grande escala”, lê-se na resolução.
Assim, ficam interditados “todos os voos com procedência em Itália para Cabo Verde por um período de três semanas”.
“A situação será avaliada para decisão sobre a continuidade da medida ou seu cancelamento conforme o estado da evolução do coronavírus (COVID-19) em Itália”, lê-se ainda.
A resolução recorda que Cabo Verde tem ligações diárias áreas com aquele país europeu e que recebe anualmente 30 mil turistas provenientes de Itália, com uma média de estadia — sobretudo nas ilhas do Sal e da Boa Vista — de seis dias. Por outro lado, é também sublinhado que o Turismo contribui com cerca de um quinto da riqueza nacional criada e com 23% dos postos de trabalho.
A Lusa contactou hoje a Cabo Verde Airlines, que assegura ligações aéreas regulares para Itália, para conferir o impacto desta decisão, mas a companhia remeteu declarações para mais tarde.
Na nota divulgada na quarta-feira à noite, o primeiro-ministro cabo-verdiano afirmou que o Governo italiano foi “devidamente informado desta medida preventiva, temporária, que se justifica pelo facto de se ter registado um aumento exponencial de casos de pessoas infetadas pela Covid-19 em Itália”.
Itália, sobretudo o norte do país, ultrapassou na quarta-feira os 400 casos de infetados pelo novo coronavírus, entre os quais 12 mortos. Deste total, a região da Lombardia, cuja capital é Milão, concentra a maioria de ocorrências, com 258 infetados e nove vítimas mortais.
Em Itália vive igualmente uma importante comunidade de emigrantes cabo-verdiana, estimada em mais de 20.000 pessoas.
“Perante a situação de epidemia que está atingir vários países do mundo, é preciso sentido de responsabilidade e evitar atitudes oportunistas que nada contribuem para a prevenção e o combate de um fenómeno à escala global”, afirmou, na nota anterior, Ulisses Correia e Silva, garantindo que o Governo acompanha, “desde a primeira hora”, este surto e que “tem tomado as medidas que se impõem em decorrência da situação de emergência sanitária internacional” declarada pela OMS.
O balanço provisório da epidemia do coronavírus Covid-19 é de 2.800 mortos e mais de 82 mil pessoas infetadas, de acordo com dados reportados por 48 países e territórios.
Das pessoas infetadas, mais de 33 mil recuperaram.
A Lusa noticiou na terça-feira que o Governo cabo-verdiano mobilizou 700.000 euros para financiar um plano de emergência para lidar com o novo coronavírus, face à exposição a países que enfrentam o surto, apesar de não ter ainda registado qualquer caso.
De acordo com a resolução do Conselho de Ministros 34/2020, publicada na terça-feira, o Governo cabo-verdiano autorizou a “transferência de verbas entre departamentos governamentais” no valor de 76.852.814 escudos (697 mil euros), para financiar o Plano Emergência de luta contra a epidemia do Covid-19.
Para o efeito, foram cortadas verbas nos vários ministérios, previstas no Orçamento do Estado para 2020, essencialmente nas rubricas de “deslocação e estadas” de membros do executivo, sendo atribuídas, ao abrigo deste plano de emergência, 13.124.814 escudos (119 mil euros) para despesas com pessoal médico, 25.575.000 escudos (233 mil euros) para aquisições de bens e serviços clínicos, e 38.153.000 escudos (345 mil euros) para compra de máquinas e equipamento clínico.
Na China estudam cerca de 350 cabo-verdianos, 15 dos quais estão em quarentena em Wuhan, epicentro do surto do novo coronavírus. Além disso, milhares de chineses trabalham e vivem atualmente no arquipélago de Cabo Verde.
Além de 2.744 mortos na China, onde o surto começou no final do ano passado, há registo de vítimas mortais no Irão, Coreia do Sul, Itália, Japão, Filipinas, França, Hong Kong e Taiwan.
A Organização Mundial de Saúde declarou o surto do Covid-19 como uma emergência de saúde pública de âmbito internacional e alertou para uma eventual pandemia, após um aumento repentino de casos em Itália, Coreia do Sul e Irão nos últimos dias.
Comentários