Uma porta-voz de um tribunal de Barcelona confirmou que um juiz autorizou na sexta-feira a autópsia, sem revelar mais detalhes. De acordo com uma fonte próxima aos advogados de Tchizé dos Santos, filha do homem que presidiu Angola de 1979 a 2017, os resultados do exame ainda não são conhecidos.

José Eduardo dos Santos morreu na sexta-feira, dia 8 de julho, na clínica de Barcelona em que estava internado desde 23 de junho, quando sofreu uma paragem cardíaca.

O ex-chefe de Estado abandonou Angola e mudou-se para a cidade espanhola em abril de 2019, oficialmente, por motivos de saúde.

O internamento de José Eduardo dos Santos, revelado pela imprensa, provocou grande tensão na família, em particular entre a última esposa do ex-presidente, Ana Paula, e a filha Tchizé dos Santos, de 44 anos.

Esta última, que apresentou uma ação na Espanha poucos dias antes da morte do pai por "tentativa de homicídio", afirmou no sábado em comunicado que existem uma "série de indícios" que permitem pensar que o óbito acontece em "condições suspeitas".

Tchizé dos Santos considera, de acordo com os advogados, que Ana Paula e o médico particular do ex-presidente são responsáveis pelo agravamento do estado de saúde de José Eduardo dos Santos.

De acordo com a filha, o pai e Ana Paula estavam separados há algum tempo. Esta última também não tinha poder de decisão sobre a saúde do ex-presidente de Angola porque o seu casamento não era reconhecido legalmente na Espanha.

O Governo angolano decretou sete dias de luto nacional e declarou que pretende fazer um funeral de Estado em Luanda, decisão a que se opõe uma das filhas, Tchizé dos Santos, afirmando que essa não era a vontade do pai.

O ex-presidente "manifestou o desejo de ser enterrado numa cerimónia íntima na Espanha, não em Angola com um funeral de Estado que poderia favorecer o atual governo", insistiu a filha no comunicado.

O atual presidente angolano, João Lourenço, sucessor de José Eduardo dos Santos, surpreendeu todos ao iniciar uma ampla campanha contra a corrupção da família do seu antecessor assim que chegou ao poder.

Eduardo dos Santos sucedeu a Agostinho Neto como Presidente de Angola, em 1979, e deixou o cargo em 2017, cumprindo uma das mais longas presidências no mundo, pontuada por acusações de corrupção e nepotismo.

Em 2017, renunciou a recandidatar-se e o atual Presidente, João Lourenço, sucedeu-lhe no cargo, tendo sido eleito também pelo Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), partido no governo desde que o país se tornou independente de Portugal em 1975.