Estas posições foram transmitidas por António Costa num encontro de campanha eleitoral sobre o tema “Continuar a avançar em igualdade”, aberto pela presidente do Departamento Nacional das Mulheres Socialistas, Elza Pais, e pela dirigente do PS Susana Ramos, no Teatro Thalia, em Lisboa.

“Eu não compus o Governo para que o Governo fosse diverso. Agora, de facto, compus o Governo garantindo que a diversidade não era um fator de exclusão. Praticamente não se deu por isso, mas a verdade é que, pela primeira vez na nossa História, tivemos uma ministra negra”, declarou o líder socialista.

António Costa disse depois estar quase certo de que o seu executivo terá sido também o primeiro com uma pessoa de etnia cigana e com uma pessoa invisual.

“Seguramente não foi a primeira vez neste Governo, mas tivemos pessoas que se integram no universo LGBTI (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgénero). O facto de nada disto ter sido fator de exclusão é muito relevante. Tudo isto aconteceu sem que a sociedade praticamente tivesse dado conta disso”, observou o primeiro-ministro.

Na perspetiva de António Costa, isto “significa que a cultura de exclusão que alguns querem alimentar já não tem efetivamente adesão na sociedade portuguesa”.

“Nenhum destes fatores de diversidade gerou qualquer reação negativa na sociedade portuguesa. Pelo contrário, as pessoas acham normal que assim seja e até estranham que isso possa ser sublinhado”, declarou.

Logo no início do seu discurso, com cerca de 30 minutos, António Costa alertou para a crescente presença de posições “que têm na sua raiz um desrespeito pelo valor fundamental da dignidade da pessoa humana e da igualdade”.

“Esses movimentos de extrema-direita, o maior perigo que representam é quando conseguem condicionar os partidos tradicionais, os chamados partidos do sistema”, afirmou, aqui numa primeira alusão indireta ao PSD.

Esses partidos, de acordo com o secretário-geral do PS, quando “começam a mitigar e a normalizar as propostas com uma raiz profundamente não igualitária e de desrespeito da dignidade da pessoa humana, então começa-se a abrir uma brecha que não se sabe se irá desenvolver”, apontou.

António Costa forneceu depois os seguintes exemplos: “Quando se começa a achar que a prisão perpétua pode não ser bem uma prisão perpétua, é o primeiro passo para começar a achar que o racismo não é bem racismo, que a xenofobia não é bem xenofobia e que a desigualdade de género não é bem a desigualdade de género”.

Neste ponto, o líder socialista frisou que “há valores que não são relativizáveis, não são mitigáveis, não são normalizáveis”, sendo mesmo “valores absolutos”.

Na questão dos direitos das futuras gerações, embora sem citar partidos como o PSD ou a Iniciativa Liberal, António Costa deixou críticas às propostas de sistema misto ou de privatização do sistema de Segurança Social.

“O nosso modelo social assenta num contrato intergeracional. Para isso, temos de ter a garantia que há uma entidade intemporal, que é o Estado, que está para além das vicissitudes do mercado”, defendeu.

No entanto, de acordo com o secretário-geral do PS, “quando se começa a dizer que se pode ter sistema de segurança social de natureza mista, em que parte dos recursos são confiados ao mercado, está-se a perigar a solidez do contrato intergeracional, porque se passa a estar sujeito às vicissitudes do mercado”.

António Costa falou ainda em candidatos que “aparecem na televisão, com um ar muito moderno, a dizerem que têm umas novas ideias sobre uma segurança social com sistema misto e que vão libertar os cidadãos da carga fiscal”.

“Mas eles não estão a libertar os cidadãos da carga fiscal. Estão é a impor um enorme risco para as gerações futuras e para as gerações presentes quando se deixa de ter um sistema de segurança social sustentável e baseado num contrato intergeracional”, acrescentou.