António Costa falava em Davos, na Suiça, aos jornalistas no final de uma reunião de 40 minutos com João Lourenço, que decorreu no hotel em que o líder do executivo português está instalado e que começou com cerca de 50 minutos de atraso.
"Este foi um encontro no quadro das relações permanentes que temos mantido - dos bons encontros que tenho mantido com o Presidente João Lourenço. Fizemos o ponto das relações muito fraternas que existem entre Portugal e Angola, que, felizmente, decorrem muito bem dos pontos de vista económico, das relações entre as nossas empresas, das relações culturais e entre os nossos povos", começou por afirmar o primeiro-ministro português.
Logo a seguir, António Costa referiu-se ao processo da Procuradoria Geral da República portuguesa que envolve o ex-vice-presidente angolano Manuel Vicente no âmbito da operação "Fizz", em que está acusado de branqueamento de capitais e de corrupção ativa.
António Costa afirmou que não se pode ignorar "que existe uma questão - e uma só questão - que não depende dos poderes políticos de Portugal e de Angola, que decorre exclusivamente da responsabilidade das autoridades judiciárias e que tem uma única consequência: Não haver visitas de alto nível de uns e outros aos respetivos países".
"Felizmente, tudo o resto decorre com toda a normalidade na excelência das nossas relações. Sempre que me encontro com o Presidente João Lourenço encontramo-nos como bons amigos", disse, já depois de ter referido que a última reunião entre ambos foi há menos de dois meses, em Abidjan, na Costa do Marfim.
Interrogado sobre se este encontro teve alguma consequência positiva para desbloquear o problema do foro judicial existente entre os dois países, António Costa respondeu que "uma imagem vale mais do que mil palavras".
"A forma calorosa como o Presidente João Lourenço cumprimentou a delegação portuguesa é um bom sinal das boas relações que existem entre nós. Na vida das pessoas, entre amigos, muitas vezes há problemas que se metem pelo caminho - problemas que nem uns nem outros podem resolver. Neste caso, nem as autoridades políticas de Angola, nem as portuguesas, podem resolver, mas esse problema não perturba o que é essencial: Como disse o ministro dos Negócios Estrangeiros de Angola [Manuel Domingos Augusto], recentemente, as relações luso-angolanas são insubstituíveis", citou o líder do executivo português.
António Costa defendeu depois que, da parte dos empresários, dos professores universitários ou escritores continuem a estreitar-se as relações entre os dois países.
"Vamos aguardar serenamente que as decisões que as autoridades judiciárias têm de tomar sejam tomadas. Um dia, seguramente, poderei encontrar o Presidente João Lourenço ou em Luanda ou em Lisboa. Enquanto não nos encontramos em Lisboa ou em Luanda, também não faltam lugares no mundo para nos encontramos - e as relações vão prosseguindo", declarou o primeiro-ministro, aqui numa mensagem mais informal para desdramatizar a questão sobre o estado das relações luso-angolanas.
Em resposta a um conjunto de questões colocadas por jornalistas de Angola, o primeiro-ministro advogou que as relações luso-angolanas "têm uma grande intensidade", dando como exemplo o número de voos entre os dois países, "ou a força dos investimentos bilaterais".
"Sempre que estamos juntos em algum sítio, seja em Abidjan na Costa do Marfim, ou aqui na Suíça, nunca perdemos uma oportunidade para falar e manter as nossas boas relações", declarou, antes de elogiar a mais recente evolução político-económica de Angola.
"É com muita satisfação que vemos a situação político-económica angolana a evoluir muito positivamente e a restabelecerem-se as condições de confiança de investimento das empresas portuguesas em Angola - isso é muito positivo que aconteça e vai prosseguir", disse.
Ainda em relação ao caso que envolve o ex-vice-Presidente angolano Manuel Vicente, António Costa insistiu que Angola "mantém a sua posição, entendendo que o processo deve ser remetido para Angola para ali ser tramitado".
Questionado sobre eventuais consequências negativas se o caso que envolve Manuel Vicente se prolongar por muito tempo, o primeiro-ministro referiu-se "a uma única restrição: Visitas ao mais alto nível de chefes de Estado e de Governo aos dois países".
"Fora essa restrição tudo decorre normalmente. Os angolanos continuam a ser bem-vindos Portugal e os portugueses muito bem-vindos a Angola. Mesmo nas relações políticas entre os dois países, sempre que se encontram, são de grande estima e de amizade", acrescentou.
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