Professores e outros profissionais da educação, representantes do Alojamento Local (AL), oficiais de justiça, entre outros setores marcharam desde a rotunda da Boavista, de onde saíram às 15:20 e chegaram ao Palácio de Cristal cerca das 16:00.

Mónica Duarte, assistente operacional numa escola de Vila Nova de Famalicão, trouxe a filha Lara de cinco anos “para que esta perceba o que se está a passar no país e para que entenda melhor as dificuldades que os pais passam em casa”.

“Sim, é filha única porque com 761 euros por mês e a carreira congelada não é possível mais. Eu já tenho um trabalho extra, mas já não aguento mais”, disse à Lusa, ainda na rotunda da Boavista e antes de caminhar com a Lara pela mão ao longo de mais de dois quilómetros com camisolas pretas a simbolizar luto e de cravo vermelho na mão em alusão à Revolução dos Cravos.

O percurso foi feito depois de várias intervenções e com a organização do protesto, o movimento “Juntos por Portugal” a marcar o ritmo dos discursos sempre com a ressalva várias vezes repetida de que “este movimento é apartidário e não representa nenhum sindicato, ainda que todos sejam bem-vindos”.

Na rotunda da Boavista, onde a concentração começou antes das 14:00 horas, foram subindo ao camião do movimento várias pessoas, entre as quais David Almeida do movimento Alojamento Local Porto e Norte (ALPN) ou um representante do Sindicato Nacional da Polícia (Sindpol), Tiago Fernandes.

“Estão a destruir o Alojamento Local para dar tudo aos grandes grupos económicos e às unidades hoteleiras. No porto somos 60% da economia e do turismo. Vamos deixar de ser lorpas”, disseram o responsável do ALPN.

“Vamos deixar de ser lorpas” foi uma das frases mais aplaudidas da tarde, a par dos gritos de ordem “Não paramos” ou “Demissão”.

Já ao representante do Sindpor, que criticou a dificuldade da polícia de marcar greve, os manifestantes responderam com a palavra “Liberdade”.

A ronda de intervenções ainda contou com Gabriela Mota, em representação dos oficiais de justiça, que anunciou nova paralisação de uma semana “para breve”.

“A justiça sem nós não funciona. Não podemos ser uma classe que faz por cumprir a justiça no país num país que não tem justiça e não faz justiça a quem nela trabalha”, disse pouco antes do aglomerado de pessoas iniciar a marcha em direção ao Palácio de Cristal, seguindo pela rua Júlio Dinis com faixas, apitos, bombos, tambores, cartazes, e elementos da PSP a abrir caminho e a regular o trânsito.

Mesmo na frente, além dos carros da polícia, também senhoras vestidas de nazarenas se destacavam do conjunto. À cabeça canastras de sardinhas de papel com mensagens que distribuam a quem, do passeio ou dos carros, ia assistindo ao “desfile”.

Sara Parente, cuja família tem um apartamento para AL, era uma delas e à Lusa explicou porque se equipou de avental, socas e xaile para vir à baixa do Porto participar de um protesto “de todos e por Portugal”.

“Isto representa as peixeiras da Nazaré que se colocavam à porta com cartazes a dizer ‘Aluga-se chambres, room, Zimmer, quartos’ há muitos anos. O AL sempre existiu mas só agora é que está regulado e paga impostos e enriquece o Estado, mas é agora que o querem destruir”, referiu.

Chegada e concentrada junto ao portão do Palácio de Cristal, a coluna de pessoas reclama por melhores salários e condições de vida e promete continuar a luta, enquanto no interior se esperam as intervenções António Costa e de Manuel Alegre, entre outros socialistas.

A festa do PS, cuja agenda previa a presença do primeiro-ministro de Espanha, Pedro Sánchez, da atual presidente da Internacional Socialista, e do presidente do Partido Socialista Europeu (PSE), Stefan Löfven, ex-primeiro-ministro da Suécia, deu o mote ainda a mais um cântico de ordem no exterior do Palácio de Cristal: “É desta, é desta, acabou-se a festa”.

A saída da rotunda da Boavista foi ao som do Grândola Vila Morena. Á chegada ao Palácio de Cristal ouviu-se o Hino de Portugal.