"Mudaram-nos a vida, marcaram-nos para sempre, meteram-nos o medo nas veias", escreveu Carmen, uma resistente da ditadura chilena.
Carmen tinha 19 anos e estudava engenharia quando a 11 de setembro de 1973 as tropas do general Pinochet entraram no Palácio de La Moneda, sede do Governo do Chile, e mataram o Presidente eleito democraticamente, Salvador Allende.
Até 05 de outubro de 1988, quando o general ditador perdeu o plebiscito para prosseguir no poder, a Comissão de Verdade e Reconciliação do Chile registou 40 mil cidadãos torturados e três mil mortos, 60 por cento dos quais nos primeiros meses após o golpe.
"O golpe de Estado de Augusto Pinochet e a posterior ditadura chilena foram marcantes para a minha geração", declarou António Costa no final de uma demorada visita a este amplo museu, durante a qual esteve acompanhado pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva.
O primeiro-ministro revelou que a primeira manifestação em que participou foi mesmo uma de protesto contra o golpe chileno, logo a 13 de setembro de 1973, mas em Itália, porque Portugal continuava então sob o regime do Estado Novo de Marcello Caetano e Américo Tomás.
"Por mera casualidade, nessa altura estava de férias com a minha mãe em Milão. Este episódio acabou por ser decisivo para a participação política, para as convicções democráticas e para o amor à liberdade de toda uma geração", disse.
Antes da deslocação ao Museu da Memória e do Direitos Humanos, já António Costa tinha feito uma visita guiada pela Presidente da República do Chile, Michelle Bachelet, ao Palácio de La Moneda, tendo entrado no local onde Allende pôs termo à vida, assim como no gabinete em que trabalhou.
"Testemunhar isto fez-me regressar vários anos atrás. É importante manter viva a memória, porque [ditadura] nunca mais. Estes anos de brutalidade e crueldade não podem ser esquecidos", frisou o primeiro-ministro.
O piso de entrada do Museu da Memória e dos Direitos Humanos é sobretudo dedicado ao dia do golpe de Pinochet e aos meses seguintes, com a criação de mais de mil centros de detenção em todo o país.
Através de vídeos são passados vários depoimentos impressionantes de homens e mulheres que resistiram à tortura nas prisões. São também mostradas capas de jornais do período pós-golpe, refletindo a imposição de censura na imprensa.
O "El Mercurio", o jornal mais influente do Chile, titulava logo a 12 de setembro de 1973: "Partidos marxistas estão à margem da lei".
Por diferentes secções do museu, há documentação variada que traduz o clima de guerra fria entre os Estados Unidos e a União Soviética - uma conjuntura que a maioria dos historiadores contemporâneos associa diretamente ao golpe ditatorial chileno.
António Costa demorou-se especialmente no setor dedicado à solidariedade internacional de apoio à resistência chilena. Recordou-se logo de alguns dos cartazes que viu.
No terceiro e último andar, o museu documenta com vídeos, fotos e cartazes a festa após a derrota de Augusto Pinochet no plebiscito de Outubro de 1988 e o regresso a uma Constituição democrática no ano seguinte, em coincidência com o fim da guerra fria.
Para a desagregação do regime de Pinochet, de acordo com a tese da Comissão da Verdade e Reconciliação chilena, muito contribuiu a vista do Papa João Paulo II ao Chile, em 1987. O Papa recebeu publicamente, contra a vontade do poder vigente, uma delegação de sindicalistas da Central Unitária de Trabalhadores.
O Museu da Memória e dos Direitos Humanos foi inaugurado em 2006, no período da primeira presidência da atual chefe de Estado, Michelle Bachelet.
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