António Costa falava aos jornalistas antes de presidir à cerimónia de entrega do Prémio Bartolomeu de Gusmão, para distinguir inovação científica, em Lisboa, depois de confrontado com a proposta apresentada pela bancada do PS sobre o IVA da tauromaquia, questão que também o levou a colocar em dúvida a possibilidade de os deputados socialistas terem liberdade de voto em matérias orçamentais.

"Estou muito surpreendido com esta iniciativa do Grupo Parlamentar do PS. Obviamente que se fosse deputado do PS votaria contra e tenho a esperança que a proposta apresentada pelo Governo na Assembleia da República de manutenção do IVA da tauromaquia nos 13% seja aprovada, aplicando-se a redução do IVA para 6% aos espetáculos de teatro, dança e música", reagiu o primeiro-ministro.

António Costa fez também questão de frisar que não está em causa qualquer proibição das touradas e que, enquanto primeiro-ministro, não se sente desautorizado pelo próprio PS.

"Se o Grupo Parlamentar do PS apresentasse uma moção de censura ao Governo, então sentir-me-ia necessariamente desautorizado. Mas, tenho a certeza de que mesmo os deputados [socialistas] que subscrevem essa proposta são apoiantes incondicionais do Governo, a começar pelo líder parlamentar [Carlos César]", declarou o primeiro-ministro.

Perante os jornalistas, António Costa considerou que não deve haver uma redução do IVA para as atividades tauromáquicas no próximo Orçamento e disse esperar que a proposta do Governo de manutenção na taxa de 13% seja aprovada.

No entanto, o primeiro-ministro rejeitou que se esteja perante uma proposta irresponsável proveniente da bancada socialista.

"É o exercício da sua liberdade. O Grupo Parlamentar do PS é naturalmente autónomo, tem a sua liberdade e autodeterminação, mas é manifesto que há uma divergência com o Governo. Espero que a posição política do Governo seja vencedora e maioritária na Assembleia da República. O Governo não dá ordens à Assembleia da República e, naturalmente, estaremos sujeitos ao que o parlamento decidir", frisou.

Interrogado sobre o facto de o PS ter disciplina de voto em matérias orçamentais e se a bancada socialista vai ter de sujeitar-se à disciplina, António Costa recusou-se a entrar "em especulações e em debates sobre o que irá acontecer".

"Respeito naturalmente opiniões individuais dos membros do Grupo Parlamentar do PS e de qualquer militante do meu partido, mas, efetivamente, matéria de Orçamento do Estado, designadamente política fiscal, não é matéria de consciência. Efetivamente, estamos perante uma matéria onde o partido deve ter uma posição fixada - e veremos o que irá acontecer", respondeu.

A seguir, António Costa foi confrontado com o facto de ter estado no passado, enquanto presidente da Câmara de Lisboa, numa tourada no Campo Pequeno, durante uma homenagem prestada ao cabo dos forcados amadores de Lisboa.

"A Câmara de Lisboa aprovou por unanimidade a entrega de uma medalha ao cabo dos forcados e, naturalmente, como presidente da Câmara, cabia-me fazer o que fiz, que é representar todos os cidadãos da cidade, independentemente das posições de cada um sobre esta ou aquela matéria", alegou.

António Costa declarou, depois, que foi sempre esse o princípio que o guiou enquanto presidente da Câmara de Lisboa e rejeitou qualquer contradição entre essa presença no Campo Pequeno e a questão atual do IVA para as atividades tauromáquicas.


Notícia atualizada às 19:55