"Com o projeto "Adota um avô", a cada voluntário, na maioria estudantes, é atribuído um sénior durante este período de quarentena e o jovem faz companhia todos os dias por telemóvel ao avô ‘adotado', disse à Lusa Teresa Valente, autora da ideia, dando conta que o projeto começou há uma semana em Abrantes e já conta com oito pares de netos e avós adotados.

Desde sempre ligada aos escuteiros e à Igreja, Teresa, de 23 anos e Licenciada em Psicologia, lembra que tudo começou com um desafio lançado numa reunião do Agrupamento 172 do Corpo Nacional de Escuteiros, a que está ligada, tendo pensado e desenvolvido a ideia no seio da Pastoral Juvenil da Diocese de Portalegre-Castelo Branco, cujo Secretariado integra.

"Para mantermos o espírito escutista neste período, o Agrupamento vai-nos lançando desafios. Um dia o desafio era "Fazer uma boa ação", e isso meteu-me a pensar como poderia estar ao serviço dos outros nesta quarentena", afirmou.

Da ideia ao planeamento e implementação do projeto foi um pequeno passo.

"Esta ideia surgiu, desafiei a Irmã Fernanda Luz a criarmos um projeto na Pastoral Juvenil para combater a solidão na nossa comunidade e ela aceitou logo e definimos o projeto. No dia seguinte, começámos a ‘trabalhar no terreno' mas sempre a partir de casa, claro. E foi assim que surgiu o "Adota um avô", contou Teresa Valente, detalhando que alargou a partir desse dia o desafio a outros jovens da comunidade para adotarem um idoso.

Com uma média de idades a rondar os 19 anos, os jovens são de Abrantes e os idosos também, indicou Teresa, admitindo que gostaria de ver a ideia replicada noutros pontos do país, em prol dos mais idosos e daqueles que se encontram em casa por integrarem os grupos de risco da covid-19.

"Começou aqui [em Abrantes] pela facilidade de encontrar jovens, uma vez que estou envolvida em grupos juvenis na cidade, e de sabermos de alguns idosos que estão sozinhos, tendo em conta que a Irmã Fernanda os conhece do trabalho que faz na comunidade", notou.

Teresa mantém a sua atividade profissional diária em teletrabalho, a partir de casa, ao mesmo tempo que gere a equipa de voluntários do projeto e se vai inteirando de como estão a decorrer as relações ‘familiares' entre os novos netos e avós.

"Tem sido muito enriquecedor para todos, sendo que eu também adotei uma avó. Cada caso é um caso e há situações em que o neto telefona e faz companhia todos os dias, outros em que é três a quatro vezes por semana, depende do estado de espírito de cada avô adotado", conta Teresa.

E as conversas abordam "temas muito diversificados, desde falar sobre o seu dia, as suas vidas e dificuldades, ou sobre Deus, sendo que tanto os avós como os netos podem sugerir temas e do que falam entre eles.

“Não temos temas definidos no projeto. Mas sim, temos avós que são mais tímidos e os jovens têm de meter mais conversa. Mas também temos avós muito faladores", revelou, entre uma gargalhada.

O projeto é aberto a quem queira participar bastando para tal contactar a organização através da página no Facebook ‘SDPJuventude e Vocações de Portalegre Castelo Branco', sendo o objetivo de Teresa "alcançar o máximo de seniores possível para saberem que não estão sozinhos nesta altura e que têm alguém com quem conversar".

A jovem psicóloga tem mais etapas delineadas para este percurso entre novos netos e avós, dando conta que o projeto "vai originar relações de proximidade" que terão continuidade.

"Depois de passar este tempo de confinamento, o jovem e o sénior irão encontrar-se ao vivo para se conhecerem, depois de terem desenvolvido uma amizade na quarentena. O objetivo é organizar um convívio com todos os netos e avós, quando voltar tudo à normalidade", concluiu.