“Atendendo àquilo que era o conhecimento existente na altura, mais não podia ter sido feito, agora é claro que tiramos aprendizagens para o futuro a todos os níveis”, afirmou Tiago Lopes, no ponto de situação diário sobre a evolução da pandemia nos Açores.
Desde o início do surto, foram detetados 38 casos de infeção pelo novo coronavírus em utentes do lar da Santa Casa da Misericórdia do Nordeste, na ilha de São Miguel, com dez pessoas a morrerem, e em 12 funcionários.
O primeiro caso de uma utente do lar infetada foi registado no dia 07 de abril, depois de a mulher de 88 anos, que, entretanto, morreu, ter estado internada no Hospital do Divino Espírito Santo, em Ponta Delgada.
Questionado sobre as aprendizagens a retirar sobre este caso, Tiago Lopes disse que a maior lição foi a de que não se pode “descurar toda a capacidade que este novo coronavírus teve, tem e terá de causar sérios constrangimentos”.
“É essa a aprendizagem que temos de tirar doravante, que efetivamente temos de olhar para todas as pessoas que vêm do exterior destas estruturas residenciais, todas as pessoas que estão a prestar cuidados, como potencialmente infetados, portanto, temos de redobrar a nossa atenção, temos de melhorar a formação que proporcionamos e dotá-los de mais equipamentos”, afirmou.
Quanto à avaliação do que foi feito para travar a evolução do surto no lar do Nordeste, o responsável da Autoridade de Saúde admitiu que já conversou internamente sobre o assunto, mas não revelou falhas ou responsabilidades detetadas.
“À medida que o tempo vai passando, claro que temos de refletir e analisar aquilo que foi feito aos mais diversos níveis. Não podemos incorrer é no erro de começarmos a pensar nos ‘ses’, de tal forma que regressemos tanto atrás no tempo, que regressemos até à China, até ao primeiro caso de transmissão de um animal para o ser humano”, apontou.
Tiago Lopes sublinhou que os lares de idosos têm um contexto “muito particular”, em que se torna mais difícil controlar o surto.
“Tem uma franja da população muito mais sensível e muito mais vulnerável e, por essa via, as próprias defesas estão mais diminuídas. Por outro lado, tem um número muito significativo de pessoas institucionalizadas e não é uma unidade de saúde, não tem metodologias de trabalho, não tem muitas das vezes formação e equipamentos para fazer face a situações com esta. Quando acontece um caso acaba por ter repercussões bastante significativas”, justificou.
O responsável da Autoridade de Saúde Regional destacou que nos Açores, “contrariamente àquilo que foi feito em território continental”, os idosos infetados foram transferidos para unidades de saúde, para evitar introduzir “metodologias, profissionais e equipamentos diferentes numa estrutura que não foi criada para esse efeito”.
“Não fomos a reboque de nenhuma orientação ou recomendação, pensámos por nós próprios e instituímos uma diferente metodologia aqui na região”, frisou.
Por outro lado, salientou que a equipa de profissionais da estrutura residencial foi reforçada, para que pudesse existir um sistema de rotatividade em espelho.
“Fizemos formação sobre limpeza e desinfeção de superfícies e utilização de equipamento de proteção individual. Fizemos o reforço do próprio ‘stock’ de equipamento de proteção individual, para que os profissionais pudessem prestar os melhores cuidados aos utentes negativos que se encontravam dentro das instalações”, acrescentou.
Desde o início do surto foram confirmados 144 casos da covid-19 nos Açores, 66 dos quais atualmente ativos, tendo ocorrido 64 recuperações (42 em São Miguel, nove na Terceira, cinco em São Jorge e cinco no Pico e três na Graciosa) e 14 mortes (em São Miguel).
A ilha de São Miguel é a que registou mais casos (106), seguindo-se Terceira (11), Pico (10), São Jorge (sete), Faial (cinco) e Graciosa (cinco).
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