Os dados fazem parte do barómetro covid-19, da Escola Nacional de Saúde Pública, da Universidade Nova de Lisboa, que hoje foram tornados públicos.
Dos resultados salienta-se que 35% dos inquiridos consideram que tem um risco baixo ou nulo de contrair covid-19, e que no entanto mais de 80% entendem que o risco para a saúde da população é elevado.
Foram preenchidos 157.972 questionários, o que leva os responsáveis a dizer que em relação à perceção de risco “os portugueses têm dois pesos e duas medidas”.
Sónia Dias, coordenadora científica do questionário semanal que acompanha a evolução das perceções dos cidadãos sobre a pandemia, disse à agência Lusa que se está perante a situação comum de se pensar que “só acontece aos outros”, apesar de ao mesmo tempo parecer haver uma avaliação correta do risco.
Os resultados do barómetro indicam que quase metade dos inquiridos (44,4%) percecionam ter um risco moderado de contrair covid-19 e 21% consideram ter risco elevado
“De entre as pessoas que se consideram em risco moderado, aproximadamente 87% consideram que o risco para a saúde da população é maior do que o seu risco. Mesmo nas pessoas que sentem que têm um risco baixo ou nulo de contrair covid-19, mais de 80% consideram que o risco para a saúde da população é elevado”, dizem os resultados hoje divulgados.
E se não há diferenças significativas entre homens e mulheres a perceção difere com a idade: à medida que aumenta é também maior a perceção de risco elevado de contrair a doença. E essa perceção é maior no centro e norte do país.
Dos que percecionam maior risco de contrair covid-19 estão em destaque os que fazem parte de grupos profissionais de maior risco, sejam profissionais de saúde, sejam forças de segurança, entre outros. E também os que moram com essas pessoas.
Sónia Dias estranha no entanto que haja neste grupo de profissionais de maior risco 14,5% de pessoas que consideram ter um risco baixo ou nulo. “Pode haver pouca consciência do risco”, admite.
A perceção de risco está também muito ligada com as condições de saúde de cada um, com os que têm mais doenças a sentir mais o risco de contrair covid-19.
De resto, destaca Sónia Dias, do barómetro conclui-se também que “há um conhecimento relativamente bom dos fatores de risco associados à covid-19, com a grande maioria a estar a usar fontes de informação credíveis, deixando as redes sociais “mais para o convívio”.
“Parece haver uma relação entre o nível de confiança nas autoridades de saúde e governamentais e a perceção de risco de contrair covid-19”, adiantam os investigadores.
A análise mostra também que são as pessoas que se sentem pouco ou nada confiantes na capacidade de resposta do Governo à pandemia que percecionam maior risco de contrair covid-19.
Sónia Dias destaca como preocupação a questão da saúde mental. “Deixa-nos um pouco inquietos a proporção de pessoas que refere estar ansiosa, agitada ou triste”, disse a responsável à Lusa, adiantando que essas situações estão por vezes associadas a medos de perda de rendimentos ou de contrair a doença.
A questão vai ser analisada em mais pormenor no futuro, disse.
O barómetro covid-19 pretende acompanhar a evolução das perceções de risco, da confiança nas instituições ou cumprimento das medidas de proteção.
Fazem parte da equipa investigadores, médicos de Saúde Pública, epidemiologistas, estatísticos, economistas, sociólogos e psicólogos.
Em Portugal, segundo o balanço feito hoje pela Direção-Geral da Saúde, registaram-se 409 mortes, mais 29 do que na véspera (+7,6%), e 13.956 casos de infeções confirmadas, o que representa um aumento de 815 em relação a quarta-feira (+6,2%).
Dos infetados, 1.173 estão internados, 241 dos quais em unidades de cuidados intensivos, e há 205 doentes que já recuperaram.
Portugal, onde os primeiros casos confirmados foram registados no dia 02 de março, encontra-se em estado de emergência desde as 00:00 de 19 de março e até ao final do dia 17 de abril, depois do prolongamento aprovado no dia 02 de abril na Assembleia da República.
Além disso, o Governo declarou no dia 17 de março o estado de calamidade pública para o concelho de Ovar.
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