Falando numa conferência de imprensa 'online' a partir da sede da organização, em Genebra, Tedros Adhanom Ghebreyesus insistiu que, segundo os dados do ensaio patrocinado pela OMS, os medicamentos remdesivir e interferon não são eficazes na luta contra a covid-19.
Os resultados do estudo já tinham sido divulgados e foram mesmo questionados pela farmacêutica norte-americana Gilead, que disse parecerem "inconsistentes", lembrando que outros ensaios validam o benefício do antiviral.
No entanto hoje na conferência de imprensa os responsáveis da OMS assinalaram que os ensaios provisórios mostram que o remdesivir e o interferon "têm pouco ou nenhum efeito na prevenção da morte por covid-19 ou na redução do tempo no hospital", com o diretor-geral a frisar que se tratou do maior ensaio já feito, envolvendo 13 mil pessoas de 500 hospitais em 30 países.
O diretor-geral lembrou na conferência de imprensa que em junho foi retirado do estudo a hidroxicloroquina e que em julho os pacientes também deixaram de tomar a combinação dos medicamentos de lopinavir e ritonavir.
O responsável máximo da OMS agradeceu aos participantes no estudo e disse esperar que os resultados completos sejam publicados em breve numa "importante revista científica", acrescentando que o ensaio está a recrutar cerca de 2.000 doentes todos os meses e que irá avaliar outros tratamentos, incluindo anticorpos monoclonais e novos antivirais.
Tedros Adhanom Ghebreyesus disse também que com a aproximação do inverno no hemisfério norte os casos de covid-19 estão a aumentar, especialmente na Europa, onde o número de casos comunicado na semana passada foi quase três vezes superior ao do primeiro pico da pandemia, em março último.
Ainda que o número de mortes tenha sido “muito menor” do que em março as hospitalizações estão a aumentar, advertiu, frisando depois que muitas unidades de saúde na Europa poderão chegar ao limite nas próximas semanas.
“Cada cama de hospital ocupada por um paciente com covid-19 é uma cama que não está disponível para alguém com outra condição ou doença, como a gripe”, disse também o responsável, salientando que todos os anos há até 3,5 milhões de casos graves de gripe sazonal no mundo e 650.000 mortes relacionadas com doenças respiratórias.
“Durante o inverno do hemisfério sul deste ano, o número de casos de gripe sazonal e de mortes foi inferior ao habitual devido às medidas postas em prática para conter a covid-19. Mas não podemos assumir que o mesmo acontecerá na estação da gripe do hemisfério norte”, avisou, acrescentando que a OMS recomenda a vacinação contra a gripe dos grupos mais frágeis.
A propósito do Dia Mundial da Hipertensão Arterial , que hoje se assinala, o diretor-geral da OMS lembrou também que a hipertensão agrava o risco de outras doenças e que a pandemia de covid-19 perturbou os serviços nesta área em mais de metade dos países do mundo.
“Mesmo quando nos concentramos em acabar com a pandemia, devemos lembrar que a covid-19 é apenas uma ameaça à saúde entre muitas”, e quando ela acabar vão continuar a existir no mundo mais de mil milhões de pessoas hipertensas, alertou.
A pandemia de covid-19 já provocou mais de um milhão e noventa e nove mil mortos e quase 39 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
Em Portugal, morreram 2.149 pessoas dos 95.902 casos de infeção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.
(Artigo atualizado às 20:23)
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