Tida até agora como não necessária pela Direção-Geral da Saúde, a utilização generalizada de máscaras vai passar a ser recomendada pelas autoridades portuguesas, disse a Ministra da Saúde, Marta Temido.
A mudança de postura partiu de uma nova série de recomendações do Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças, indicando a DGS que irá agir em conformidade.
“De acordo com o princípio básico da precaução em saúde público, e face à ausência de efeitos adversos associados ao uso de máscara, pode ser considerada a sua utilização por qualquer pessoa em espaços interiores, fechados e com um elevado número e pessoas", indicou Marta Temido, especificando que tais espaços se tratam de "supermercados, farmácias, lojas e transportes públicos.”
Esta mudança cinge-se apenas à utilização de máscaras "não cirúrgicas, comunitárias ou sociais", diferentes das máscaras cirúrgicas e dos respiradores. Destinadas "à população em geral", as máscaras não cirúrgicas "não obedecem a normalização, podem ser de diferentes materiais — algodão, têxtil ou outros — e não são certificadas" alertou a ministra da Saúde, especificando que o seu uso não é recomendado nem a a profissionais de saúde, nem a pessoas doentes.
Mais: a ministra referiu como "muito importante" o facto do uso destas máscaras ser apenas "uma medida complementar às medidas anteriormente recomendadas", não substituindo a "lavagem das mãos, a etiqueta respiratória, a manutenção da distância social e utilização de barreiras físicas.”
A ministra ressalvou que as máscaras sociais vão ainda ser generalizadas à população quando o país regressar à normalidade.
“Num contexto, que não é aquele que nos situamos hoje, porque estamos no estado de emergência, que apela ao confinamento e à restrição das atividades essenciais, mas em que as pessoas se possam situar em espaços fechados, poderá ser considerada a utilização da dita máscara social”, disse.
Marta Temido indicou ainda que "a utilização deste equipamento deve ser meticulosamente realizada", pelo que vão ser disponibilizadas informações à população quanto a sua utilização. Por outro lado, o Infarmed, o Centro Tecnológico das indústrias Têxtil e de Vestuário de Portugal, a ASAE e outras entidades vão concluir ainda hoje um documento quanto às normas técnicas destas máscaras.
A ministra recordou que é necessário diferenciar estas máscaras que são agora alvo de recomendação de outros dois tipos que a DGS já tinha indicado: os respiradores e as máscaras cirúrgicas.
Os primeiros, também conhecidos como FFP, são "um equipamento de proteção individual destinado aos profissionais de saúde, criado de acordo com determinadas normas". Já às máscaras cirúrgicas são "um dispositivo que previne a transmissão de agentes infeciosos das pessoas que utilizam a máscara para as restantes”. Nesse sentido, Marta Temido lembrou que a DGS “recomendou a sua utilização a todos os profissionais de saúde, a pessoas com sintomas respiratórios e a pessoas que entrem em instituições de saúde”, assim como a pessoas mais vulneráveis como “idosos de mais 65 anos, pessoas com doenças crónicas ou em estados de imunossupressão” e a pessoas em alguns grupos profissionais.
Quanto a estes equipamentos de proteção individual, Marta Temido disse estarem programadas para esta semana as entregas de encomendas externas e internas, sendo que de fora está prevista "a entrega de cerca de 19 milhões de máscaras cirúrgicas e um milhão de máscaras FFP2, para além de luvas, viseiras, máscaras de proteção ocular, protetores de calçado”, e da "indústria nacional" a chegada de "batas, fatos de proteção integral e toucas”.
Ainda em questões de materiais, a ministra recordou que estão a ser feitos "todos os esforços "no sentido de conseguir a entrega de uma nova leva de ventiladores já adquiridos à China, faltando tratar da documentação requerida por este país, mas frisou que "não houve nenhuma situação" de carência destes equipamentos "que não tenha sido possível ser resolvida por articulação dos hospitais e pela comissão de resposta em medicina intensiva à Covid-19.”
A título de exemplo, Marta Temido confessou terem existido “situações de maior constrangimento em Aveiro”, mas que ssa "situação foi ultrapassada com outros hospitais do SNS".
“Sabemos que esta doença vai permanecer connosco até um novo tratamento ou uma vacina e, portanto, a capacidade de reforço das nossas unidades cuidados intensivos é muito importante. E é tão mais importante quanto nós sabemos que precisamos de retomar a atividade programada de resposta a outras patologias”, sublinhou a ministra quanto à necessidade de continuar a encomendar ventiladores.
Salientou ainda a importância de se conseguir estabilizar os equipamentos que são dedicados a uma e outra área de atividade e retomar a resposta à normalidade das doenças não covid, garantindo que “se alguma coisa se complicar há um ventilador disponível para todos”.
“Isso será um passo no sentido que queremos realizar e vamos continuar esse esforço”, frisou Marta Temido.
Número de testes a subir, número de internamentos de cuidados intensivos a descer
Em Portugal, segundo o balanço feito hoje pela Direção-Geral da Saúde, registam-se 535 mortos, mais 31 do que no domingo (+6,2%), e 16.934 casos de infeção confirmados, o que representa um aumento de 349 (+2,1%).
Dos infetados, 1.187 estão internados, 188 dos quais em unidades de cuidados intensivos, e há 277 doentes que já recuperaram.
Fazendo um ponto de situação quanto à atual situação pandémica em Portugal, Marta Temido referiu que a taxa de letalidade está nos 3,2% e que na faixa etária acima dos 70 anos situa-se nos 11,2%.
No entanto, a diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, concedeu que este número não é estanque, havendo "pequenas variações regionais" que diferem com base na "distribuição demográfica da população, já que a taxa de letalidade aumenta com a idade", a "densidade populacional numa determinada região" e a "concentração de pessoas vulneráveis em instituições".
Tendo estas variáveis em conta, Graça Freitas revelou que é na Região Centro é onde a taxa de letalidade é maior, pois "tem uma grande densidade de lares e população institucionalizada que tem sido atingida pela doença”.
Já no que toca aos casos de infeção confirmados, Marta Temido revelou que 88,2% eram pessoas que permaneciam nos seus domicílios e 7% eram pessoas que estavam internadas, das quais 5,9% em enfermaria de hospital e 1,1% em unidades de cuidados intensivos.
Este número vai de encontro a uma tendência decrescente de doentes internados em cuidados intensivos. “O que sabemos de forma geral é que o número de doentes em cuidados intensivos está a decrescer”, sendo esta uma "informação avançada pelos hospitais", disse a ministra da Saúde.
Em consonância com esta aparente estabilização do número de casos e de doentes a necessitar de internamento, Graça Freitas disse que a capacidade de resposta dos hospitais portugueses ainda não atingiu o seu limite, pelo que também não foi necessário aumentar a capacidade instalada.
“Os dados que temos e recolhemos diariamente indicam que ainda não foi atingido o máximo do nosso potencial, o que também reflete a evolução da epidemia”, explica a diretora-geral da Saúde. “Temos tido crescimento diário do número de casos confirmados que não é muito acentuado”, diz Graça Freitas, alertando, contudo que “nunca podemos ficar descansados com estes números”.
Com este cenário, e perante o pedido de mais de 150 personalidades para que se reabra a economia, Marta Temido ainda assim disse que é necessário cautela.
“Todos percebemos que temos que ter neste momento uma preocupação de dar passos pequenos, mas seguros, temos tido resultados que classificaria como encorajadores na forma como temos gerido a pandemia, não obstante o número de óbitos que sempre se lamentam e as enormes dificuldades pelas quais temos passado”, disse a governante. Portanto, vincou, “não queremos de todo em todo perder aquilo que foram os resultados adquiridos e temos que ponderar muito cautelosamente todos os passos que damos”.
A ministra referiu ainda um incremento da capacidade da linha telefónica SNS 24. “A linha de saúde 24 continua a funcionar com normalidade, uma tendência que se tem mantido nos últimos dias. Ontem [domingo] tinha recebido 10.943 chamadas, são chamadas de todo o tipo não apenas por covid-19”, afirmou Marta Temido, na conferência de imprensa diária da Direção-Geral da Saúde (DGS) de atualização de informação sobre a pandemia provocada pelo novo coronavírus.
A ministra adiantou que, no total, a linha SNS 24 atendeu 9.903 chamadas no domingo e que a generalidade dos utentes esperou 30 segundos.
Marta Temido avançou ainda que a linha de atendimento psicológico registou quase 230 chamadas entre cidadãos em geral e profissionais envolvidos no combate à pandemia.
Desde o dia 01 de abril que o SNS 24 disponibiliza uma linha de aconselhamento psicológico destinada a profissionais de saúde, proteção civil, forças de segurança e população em geral, tendo em conta a prioridade atribuída à saúde mental neste período.
Testes são úteis mas "não salvam vidas"
No que toca à capacidade de testagem do país à Covid-19, Marta Temido lembrou que, desde 1 de março, foram já realizados quase 179 mil testes de diagnóstico para Covid-19, sendo que 55% dos quais foram feitos apenas entre os dias 1 e 12 de abril.
Querendo manter a estratégia do Governo de mais testagem no país, a ministra da Saúde disse que a prioridade neste momento é assegurar a entrega de um milhão de kits de extração esta semana, não apontando, porém, um dia específico. Para além disso, recordou a necessidade de alinhar os tempos de resposta de todos os laboratórios incluídos na rede para apresentarem os seus resultados no prazo máximo de 72 horas.
No entanto, alguns problemas mantém-se, havendo hospitais a reclamar a falta de testes. Nesse sentido, a ministra da Saúde defendeu que, para além de fornecer as instituições de saúde, o Governo foi confrontado com a "preocupação adicional" de "realizar testes em determinadas comunidades, nomeadamente populações idosas sujeitas a confinamento em lares”, o que foi "motivo de alguns constrangimentos que têm sido suscitados sobre prioridades e acesso a materiais".
Ainda assim, apesar da prioridade da testagem estar nos lares da terceira idade, Marta Temido alertou os responsáveis destas instituições para a necessidade de manter as práticas aconselhadas pelas autoridades de saúde. "Sabemos que os testes não salvam vidas, mas podem ser um apoio às direções dos lares, com a implementação daquilo que recomendamos que sejam medidas praticadas desde o início, independentemente dos resultados dos testes”.
Comentários