Respondendo a uma pergunta quanto ao número de profissionais de saúde neste momento infetados com o Covid-19 em Portugal, o secretário de Estado da Saúde, António Lacerda Sales, disse haver "165 profissionais infetados, sendo 37 enfermeiros, 82 médicos e os restantes estarão distribuídos entre outras classes de prestação direta de serviços".

O número de mortes associado à Covid-19 subiu para as 23 e os casos de infeção são 2060, mais 460 que no domingo, segundo o boletim epidemiológico da DGS divulgado ao final da manhã.

Quanto a possíveis novos infetados, a diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, anunciou que um dos 27 passageiros portugueses do cruzeiro MSC Fantasia, operado pela MSC Cruises, que atracou ontem no porto de Lisboa, foi testado e "teve um teste positivo.

"Neste momento, esse passageiro português, que não está em Lisboa, vai ser novamente testado para termos uma segunda amostra. Se essa amostra for positiva, temos um plano para esse navio", disse a responsável, afirmando que ele “está bem”, assim como os restantes passageiros que desembarcaram.

Graça Freitas explicou que, se a nova amostra for positiva, as autoridades de saúde têm um plano em relação a este navio proveniente do Brasil.

“Pelo princípio da precaução em saúde pública (…) de ontem [domingo] para hoje, foram tomadas medidas de isolamento dentro daquele barco”, adiantou.

Segundo Graça Freitas, as autoridades de saúde estiveram em contacto com as autoridades competentes do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), com as autoridades competentes do Porto, com o armador e com o navio.

“O navio tem um plano de contingência” e por precaução, foram determinadas medidas de isolamento dentro do barco. “À data esse é o estado do navio”.

Na conferência de imprensa, Lacerda Sales anunciou ainda a chegada de material médico para os profissionais de saúde. "Teremos mais dois milhões de máscaras cirúrgicas e dois milhões de máscaras FP2 e [ainda] mais cerca de 50 mil zaragatoas", material, que será distribuído tendo em conta as necessidades, nomeadamente aos profissionais de saúde que estão a tratar de doentes Covid-19, disse o governante.

O secretário de Estado especificou que hoje parte um avião com destino à China para trazer o material, estando já previstos outros voos para o mesmo destino, para trazer mais material encomendado pelo Estado português a também material encomendado por privados privados.

“Quando à testagem, existe "capacidade em stock entre público e privado de cerca de 20 mil testes”, afirmou António Lacerda Sales. Segundo o secretário de Estado, tem vindo “a aumentar progressivamente” a capacidade de realizar testes à infeção pelo novo coronavírus (SARSCov2).

O secretário de Estado da Saúde pediu também aos responsáveis dos lares de terceira idade que criem espaços de confinamento e ativem os planos de contingência para fazerem face à epidemia.
Principais pontos destacados pelo secretário de Estado da Saúde:

- António Lacerda Sales anunciou que estão em vigor várias linhas de encomendas. "Hoje sai um avião com destino à China para trazer material", disse o secretário de Estado da Saúde, estando programadas escalas nas próximas semanas de idas ao mesmo país “para fazer face quer às compras do estado, quer para assegurar algumas ofertas que têm surgido”.

- Lacerda Sales prometeu que “esta semana, teremos mais dois milhões de máscaras cirúrgicas, e dois milhões de máscaras FP2, e mais cerca de 50 mil zaragatoas”.

- Apesar de vários setores da sociedade estarem a pedir por equipamento médico, este "será distribuído consoante as necessidades”, pois o facto de serem bens em quantidades diminutas obriga a “uma gestão criteriosa e a distribuí-los primeiro onde são mais necessários, ou seja, a profissionais de saúde e outros a tratar doentes Covid".

- A situação nos lares da terceira idade é “inspira preocupação”. “Os casos agora conhecidos deixam agora ainda mais clara a urgência destes estabelecimentos ativarem os seus planos de contingência, com espaços de confinamento”, disse o governante. “Estamos em urgência, o que exige uma flexibilização de procedimentos”, disse Lacerda Sales, anunciando que as instituições podem agora “recorrer a bolsas de voluntários”.

- Está a ser aumentada "progressivamente" a capacidade de testagem. “Neste momento tem capacidade para 2500 testes diários. No privado, são mais 1500 testes por dia. Existe uma capacidade em stock, entre público e privado, de cerca de 20 mil testes”.

- "É o tempo de cerrarmos fileiras, de cada um fazer a sua parte. E não devemos esquecer que todos devemos ter o nosso plano de contingência". Agradeceu ainda aos autarcas do país.

Respostas aos jornalistas:

Porque é que não houve compra atempada de equipamento de proteção para os profissionais de saúde? Os laboratórios queixam-se de falta de reagentes para fazerem os testes. Isso está a ser previsto?

Lacerda Sales: O material não está a ser comprado agora, tem sido comprado todos os dias. Na passada semana, distribuímos cerca de 2 milhões e meio de máscaras e cerca de 150 mil Epis. Esta semana estamos a reforçar. Também haverá um aumento progressivo de capacidade de testagem. É evidente que esta não são só as zaragatoas, são também os kits, os reagentes e estamos a fazer um reforço conjunto. Estamos a aumentar significativamente a capacidade de testagem.

Graça Freitas: Esta questão dos equipamentos e dos testes é exactamente como a nossa logística alimentar em nossa casa. Nós vamos ao mercado, vamos às compras, todos os dias, e quando chegarmos ao fim desta onda epidémica vamos ter milhões e milhões de máscaras, de respiradores FP2 e de zaragatoas gastas. Isto vai se comprando, vamos aos grandes fornecedores de material. O que temos numa semana, dá para essa semana. Temos um stock de segurança para se houver uma emergência e depois voltamos a repor. É como fazermos com as vacinas, com os medicamentos, o oxigénio, a insulina, não temos um armazém cheio de vacinas. Compramos com base nas necessidades desse período.

Gostava que definissem quais as indicações claras para os médicos sem proteção que contactam com doentes infetados. Isto porque a FNAM diz que alguns centros hospitalares estabeleceram através de circulares a indicação de manter profissionais de saúde  — que mantiveram contacto próximo, não protegido, com doentes infetados — em trabalho regular, com máscara cirúrgica desde que assintomáticos. Não temem que isto possa causar uma explosão de contágio nos hospitais?

Graça Freitas: Saiu uma norma da Direção Geral da Sáude que esperamos que seja integralmente cumprida por todos os serviços e para qualquer profissional de saúde: Esta prevê dividir o risco, uma coisa é um profissional que tem um contacto distante com o doente, outro é um profissional que entubou o doente. Concordo inteiramente consigo que a norma devia ser seguida.

Já foram feitos todos os testes aos passageiros do navio que atracou ontem em Lisboa? E já se sabem os resultados?

Graça Freitas: Ontem houve alguma confusão na comunicação. O que estava programado para o navio cruzeiro era tão somente fazer testes aos cidadãos nacionais que iam desembarcar e ficar solo português. Esses foram todos testados. Em relação aos outros passageiros e à tripulação, não estava previsto fazer testes, mas sim que os passageiros fossem desembarcando e levados por um corredor próprio para o aeroporto e seguir o seu destino. O que aconteceu ontem é que um dos passageiros portugueses que desembarcaram e foram testados teve um teste positivo. Neste momento, esse passageiro português, que não está em Lisboa, vai ser novamente testado para termos uma segunda amostra. Se essa amostra for positiva, nós temos um plano para esse navio. Mas as pessoas estão todas bem, não têm sintomatologia (...) Foram tomadas medidas de isolamento dentro daquele barco.

Em relação aos Institutos Portugueses de Oncologia, vão estar livres de doentes Covid ou não? Há alguma norma neste sentido?

Graça Freitas: Em relação aos Institutos Portugueses de Oncologia, obviamente estão excecionados. O que está previsto é que é o contrário, que possam receber doentes oncológicos de outros hospitais e que não estejam infetados, sendo que, por sua vez, se um doente oncológicos desenvolver Covid num dos IPOs seja direcionado para outro hospital.

Em relação aos médicos que trabalham em vários hospitais, poderá aumentar o risco de contaminação cruzada?

Graça Freitas: Aqui a recomendação é que cumpram cada vez mais as medidas de proteção individual adequadas ao tipo de trabalho que estão a fazer (...) Se cumprirem as regras e se se equiparem de acordo com a intervenção que vão fazer, o risco será minimizado.

Quantos profissionais de saúde já foram infetados? Quantos estão em isolamento? Vão ser prevenidas mais baixas?

Lacerda Sales: (...) Temos registados 165 profissionais infetados, sendo 37 enfermeiros, 82 médicos e os restantes estarão distribuídos entre outras classes de prestação direta de serviços (...) Faremos um esforço para todos os dias termos um detalhe cada vez maior nesta definição e nesta segmentação.



*com agência Lusa