“O material não abunda e tem de ser gerido com racionalidade. Não tivemos até agora rutura de algum tipo de material. Temos alertado as pessoas para o seu uso. As pessoas estão a aderir muito bem a estes conselhos. Hoje não se vê praticamente ninguém de máscara, ao contrário dos primeiros dias em que se viu o uso de máscaras de forma indiscriminada”, disse o diretor clínico do CHUP, José Barros.
O responsável, que falava aos jornalistas no âmbito de uma visita às instalações do CHUP que criou um circuito próprio e independente do serviço de urgência dedicado a casos suspeitos relacionados com o surto de Covid-19, apontou que o uso de máscara “é uma falsa segurança” porque “deve usar máscara quem está doente e não o cidadão comum”.
“O nosso método de trabalho tem de ser de forma a poupar esses recursos (…). Se todos tentarmos, por todas as vias, comprar o que há no mercado haverá rutura de ‘stock’. Temos limites de segurança. A Direção Geral de Saúde (DGS) deu instruções: cada hospital deve dotar-se de 20% do que foi o seu consumo no ano anterior. Se todos fizermos isso não haverá rutura”, descreveu José Barros.
Também questionado sobre as recomendações da Ordem dos Médicos (OM) que, na quinta-feira, apelou às instituições de saúde para abolirem o registo biométrico, através de impressão digital, como medida de prevenção da infeção pelo novo coronavírus, o diretor clínico do CHUP considerou tratar-se de uma “falsa questão”.
“Não temos nenhuma indicação nesse sentido. Essa é apenas uma recomendação da OM que respeitamos, mas não estamos a seguir. Nem nós, nem a esmagadora maioria dos hospitais do país. Parece-nos uma falsa questão. Nós tocamos em imensas coisas no dia-a-dia. Temos de lavar as mãos com água e sabão e desinfetá-las. O registo biométrico é polémico em si próprio. Não devemos misturar os problemas”, considerou.
José Barros disse que os profissionais de saúde do CHUP tiveram experiência de outros surtos, recordando a Gripe A de 2009 e, especificamente neste hospital do Porto, o surto de sarampo há dois anos.
“A metodologia é a mesma, a forma de reagir é idêntica, esses circuitos estão relativamente oleados e há documentos dessas alturas que podem ser adaptados a esta situação. Esta não é uma situação propriamente nova. As pessoas estão preparadas para reagir a ela”, sublinhou o diretor clínico.
Já sobre a evolução do novo vírus no mundo, o médico apontou como “provável que em áreas do mundo que ainda não foram muito atingidas, como é o caso de Portugal, o número de casos venha a aumentar”, considerando “inevitável” registar “mais casos pelas relações existentes com o exterior”.
“Porque as pessoas viajam e porque temos pelo menos um ‘cluster’ em Portugal a partir do qual a doença pode ainda avançar. E ainda há o tempo de incubação que ainda não é muito conhecido. Não sabemos muito bem o que será a situação de Lousada e Felgueiras daqui a 10 ou 14 dias”, referiu.
Convidado a explicar em que consiste a expressão que tem vindo a ser usado nos últimos dias, a “evicção social”, o diretor clínico resumiu: “Está em causa evitar os contactos sociais, limitá-los ao mínimo. Manter a regra de segurança de um metro e meio a dois metros em relação a outras pessoas. Evitar cumprimentos. Será uma espécie de isolamento voluntário”.
A epidemia de Covid-19 foi detetada em dezembro, na China, e já provocou mais de 4.000 mortos.
Portugal regista 41 casos confirmados de infeção, segundo a Direção-Geral da Saúde (DGS).
A DGS comunicou também que em Portugal se atingiu um total de 375 casos suspeitos desde o início da epidemia, 83 dos quais ainda a aguardar resultados laboratoriais.
Face ao aumento de casos, o Governo ordenou a suspensão temporária de visitas em hospitais, lares e estabelecimentos prisionais na região Norte, até agora a mais afetada.
Foram também encerrados alguns estabelecimentos de ensino, sobretudo no Norte do País, assim como ginásios, bibliotecas, piscinas e cinemas.
Os residentes nos concelhos de Felgueiras e Lousada, no distrito do Porto, foram aconselhados a evitar deslocações desnecessárias.
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