Na Suíça desde 1998 e secretário sindical responsável da área da construção civil no maior sindicato da Suíça – Unia, José Inácio Sebastião disse à agência Lusa que os efeitos das restrições no mundo laboral, para conter a pandemia covid-19, já se sentem na comunidade portuguesa na Suíça.
“A nossa comunidade trabalha sobretudo em empregos manuais - limpeza, construção civil, hotelaria, nos quais os trabalhadores estão mais expostos e que, por isso, o Estado encerrou uma parte”, disse.
Na hotelaria está tudo parado e a construção civil tem avançado devagar, o que tem levado muitos trabalhadores portugueses a pedir apoios sociais.
Ajudas com que não contam centenas de portuguesas que trabalham na área da economia doméstica (mulheres-a-dias), muitas vezes pagas à hora ou por tarefa, e sem direito a subsídio de desemprego.
José Inácio Sebastião afirma que muitas destas trabalhadoras já estão há mais de um mês sem receber e que “vão sofrer bastante, porque muitas delas não estão declaradas. Trabalham à hora”.
Luísa (nome fictício), a viver em Zurique há seis anos, é uma dessas portuguesas que tem a folha “a negro”, ou seja, não faz descontos e por isso não está a receber subsídio de desemprego.
Em declarações à Lusa, disse que a situação está “a apertar”, principalmente porque o marido que trabalhava numa pastelaria também está sem emprego.
“Temos um filho com oito anos, que está em casa porque as escolas estão fechadas. Não posso ir trabalhar, mas também não tinha onde limpar”, lamentou.
A esta família tem valido umas horas que o marido tem feito numa obra, onde o cunhado trabalha, mas todas as suas esperanças vão para o dia em que os trabalhos reabrirem, pois há algumas semanas que o rendimento escasseia.
“Não temos possibilidade de aguentar muito mais e a burocracia para pedir ajuda é muita e seguramente que pelo menos eu não tenho direito a receber nada”, adiantou.
Situações como estas são tão frequentes na Suíça que o sindicato Unia solicitou ao Estado a criação de um fundo para ajudar estas mulheres que trabalham na economia doméstica, estipulado numa média do que eles recebem ao longo de um ano, disse José Inácio Sebastião.
Maria tem mais sorte. A trabalhar apenas ao sábado – porque durante a semana tem de ficar em casa para tomar conta dos dois filhos – continua a receber o vencimento dos patrões para quem trabalhava durante a semana até à pandemia.
“Como desconto, podia pedir ajuda ao Estado, mas a burocracia é muita. Além disso, os meus patrões continuam a pagar-me, simplesmente porque querem”, disse.
Maria, há dez anos a viver na Suíça, não tem dúvida de que este é um reconhecimento pelo seu trabalho, uma vez que serve estas famílias há oito anos.
“Sinto-me como se fosse da família”, disse.
O sindicato Unia – no qual estão inscritos 30 mil portugueses – está igualmente preocupado com os trabalhadores temporários que não têm, ou já usaram, o direito ao subsídio de desemprego.
Segundo José Inácio Sebastião, o sindicato quer que o Estado aceite todos os trabalhadores temporários como beneficiários do subsídio de desemprego.
Para o Conselheiro da Comunidade Portuguesa na Suíça, Domingos Pereira, a adesão ao confinamento voluntário, decretado na Suíça a 17 de março e prolongado a 27 do mesmo mês, está a ser boa.
Na Suíça há 29 anos, este motorista de pesados anseia pela segunda-feira, quando começar a abrir gradualmente algum comércio, como “cabeleireiros, pequenos negócios e consultórios médicos, mas sempre dentro das medidas de higiene e segurança”.
Uma nova abertura, nomeadamente das escolas, irá acontecer a 11 de maio neste país onde vivem mais de 217.000 portugueses (2,6% da população).
Segundo Domingos Pereira, a redução ou suspensão das atividades em que a comunidade portuguesa é mais ativa – limpezas, construção civil, oficinas de automóveis – levou a uma redução do vencimento e há mesmo quem não tenha qualquer ordenado.
“Há muitos portugueses nesta situação, principalmente na área da construção civil e também na parte da jardinagem. Mas nada de alarmante”, afirmou.
Mais preocupante para este conselheiro é a situação das portuguesas que trabalham na economia doméstica, que recebem à hora e que agora não podem trabalhar nem têm apoios sociais.
Domingos Pereira prevê mesmo “um problema sócio económico a breve prazo” nesta área.
A Suíça registou perto de 30 mil infetados e 1.600 mortos desde o início da pandemia de covid-19.
A nível global, segundo um balanço da AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 200 mil mortos e infetou mais de três milhões de pessoas em 193 países e territórios.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.
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