O Centro Hospitalar Universitário de São João (CHUSJ), no Porto alcançou, esta segunda-feira, o maior número de admissões de sempre nos serviços de urgência: 1.022, indicou ao SAPO24 fonte daquela unidade. Em comparação, o segundo maior dia teve 1.003 admissões nas urgências.

Segundo a mesma fonte, os principais motivos para a chegada às urgências do CHUSJ foram a covid-19, disfunção crónica e encaminhamentos pela linha SNS24.

Trata-se de "um triste recorde” de admissões, que “tende a piorar”, disse o diretor da Unidade Autónoma de Gestão de Urgência e Medicina Intensiva.

“Este é um triste recorde. Foram admitidos 1.022 doentes em 24 horas [segunda-feira]. É o maior número de casos de urgência de que há registo no Hospital de São João”, disse Nelson Pereira, citado pela agência Lusa, em declarações aos jornalistas junto à entrada para o Serviço de Urgência deste centro hospitalar do Porto. O responsável pediu “coerência” nas medidas relacionadas com a covid-19, lembrando que os testes deixaram de ser gratuitos e que o abandono da máscara coincidiu com momentos festivos.

Em resposta à pergunta sobre se tem receio que este cenário piore, Nelson Pereira foi perentório: “Não tenho dúvida nenhuma que pode acontecer”, disse.

O médico contou que dos mais de um milhar de doentes atendidos na segunda-feira, 144 doentes foram admitidos na área respiratória, dos quais 53 testaram positivo para o vírus SARS-CoV-2, mas só dois foram internados.

“Temos de ter uma política coerente. Se a doença já não é grave e já não tem repercussões sérias sobre os serviços de saúde, então temos de ser coerentes com essa decisão: ou continuamos a achar que é preciso que toda a gente faça teste, logo é preciso generalizar o acesso aos testes, ou não podemos castigar os serviços de urgência onde vem parar tudo”, referiu.

O diretor contou que “as pessoas continuam à procura de um teste”, teste esse que deixou de ser gratuito nas farmácias e em outros locais, e do documento que lhes permite não ir trabalhar quando está a fazer isolamento, “um isolamento que continua a ser obrigatório”, sublinhou.

Ainda sobre o aumento de incidência por infeção pelo vírus SARS-CoV-2, Nelson Pereira admitiu que a Queima das Fitas ou os festejos pelo título de campeão do FC Porto estejam a ter repercussões, mas analisou que essa situação era “expectável” e que outros festejos se aproximam.

Por estas razões, o médico insistiu no pedido de “coerência” nas medidas e acrescentou a “disfunção crónica do funcionamento dos Serviços de Urgência” como outro motivo para este aumento de admissões.

“Os Serviços de Urgência têm de ser poupados sob pena de prejuízo para os doentes graves (…) Os cuidados saúde primários continuam a não dar resposta ao doente agudo e já não têm as ADR [áreas dedicadas a doentes com infeção respiratória]. O SNS24 continua a enviar indevidamente doentes para o Serviço de Urgência com situações simples”, lamentou.

Para o diretor da Unidade Autónoma de Gestão de Urgência e Medicina Intensiva “não há dúvida” de que esta “disfuncionalidade” põe em causa o atendimento de doentes agudos.

“Evidente que põe. As equipas são finitas. Significa mais tempo de espera”, concluiu.

Portugal registou, entre 26 de abril e 2 de maio, 76.183 infeções pelo coronavírus SARS-CoV-2, 125 mortes associadas à covid-19 e um ligeiro aumento dos doentes em cuidados intensivos, indicou na semana passada a Direção-Geral da Saúde (DGS).

Segundo o boletim epidemiológico semanal da DGS, em relação à semana anterior, registaram-se mais 18.950 casos de infeção, verificando-se também mais dois óbitos na comparação entre os dois períodos.

Quanto à ocupação hospitalar em Portugal continental por covid-19, a DGS passou a divulgar às sextas-feiras os dados dos internamentos referentes à segunda-feira anterior à publicação do relatório.

Com base nesse critério, o boletim indica que, na última segunda-feira, estavam internadas 1.119 pessoas, menos 89 do que no mesmo dia da semana anterior, das quais 60 doentes em unidades de cuidados intensivos, mais 11.

Portugal é o país da União Europeia com mais novos casos diários de infeção por SARS-CoV-2 por milhão de habitantes nos últimos sete dias, segundo o 'site' estatístico Our World in Data.

Com uma média diária de 1.150 novos casos por milhão de habitantes, Portugal está à frente da Alemanha (826), Finlândia (766), Luxemburgo (743) e Itália (696). A nível mundial, Portugal é o terceiro país com mais de um milhão de habitantes em número de novos casos diários, atrás da Austrália (1.630) e Nova Zelândia (1.480).

A média diária da União Europeia neste indicador está em 447 novos casos, enquanto a mundial está em 64.

Em relação ao número de novas mortes diárias atribuídas à covid-19 por milhão de habitantes, Portugal é o oitavo país da União Europeia, com uma média de 1,97 óbitos nos últimos sete dias.

A Finlândia é o Estado-membro com mais novas mortes diárias por milhão de habitantes (5,4), seguida de Malta (03), Grécia (2,9), Eslováquia (2,6) e Hungria (2,4).

A nível mundial, e considerando apenas países ou territórios com mais de um milhão de habitantes, a Finlândia é também o país com a maior média neste indicador, seguida de Grécia (2,9), Nova Zelândia (2,7), Reino Unido (2,7) e Eslováquia (2,6). Portugal é o nono país com maior média mundial de novas mortes por milhão de habitantes nos últimos sete dias.

A média na União Europeia de novas mortes é de 1,43 novas mortes diárias com covid-19 e a mundial é de 0,2.

*Com Lusa

(Artigo atualizado às 11:29)