“É uma desorganização total e uma falta de respeito”, disse a responsável aos jornalistas, numa declaração lida à porta do ‘resort’, onde relatou os inúmeros contactos efetuados na quinta-feira com as autoridades locais, incluindo proteção civil municipal e GNR, para garantir a transferência dos imigrantes.

O processo de realojamento acabou por ser desencadeado, às 04:00 da madrugada de hoje, tendo sido transferidas para aquele espaço 28 pessoas, incluindo três crianças.

Todas estas pessoas tiveram testes negativos para o novo coronavírus SARS- Cov-2 que provoca a covid-19.

“Qual a necessidade, pela calada da noite, de fazerem a mudança de alojamento”, questionou.

Já sobre o cenário que se vive no interior do complexo turístico, a responsável disse que “a manhã foi de silêncio”, depois “da invasão por forças de segurança munidos de cães”.

“As imagens que vi esta manhã, enquanto circulei pelo Zmar, foram de deques e varandins das casas cheios de sacos com os pertences” dos trabalhadores e “as crianças ao colo dos pais, porque estão num sítio estranho, que não lhes diz nada”, o que “é natural”, contou.

De acordo com Sandra Ferreira, o que foi dito a quem faz parte do Zmar é que “estas pessoas têm livre-trânsito. Eles trabalham, não estão doentes, não estão infetados, não estão em isolamento profilático e têm os seus direitos”.

Apesar de todas as reivindicações, a responsável esclareceu que compreende a situação destes trabalhadores: “Acolhemos estas pessoas com todo o respeito, mas também queremos trabalhar”, vincou.

Por seu lado, Carlos Penim, diretor do Zmar, disse “ter esperança de que o administrador da insolvência consiga resolver a situação da providência cautelar que foi colocada” e “que haja bom senso por parte do Ministério da Administração Interna”, tendo em conta “os postos de trabalho” que estão em causa.

“O Zmar está insolvente, mas foi aprovado um plano de revitalização que previa iniciar, esta semana, os trabalhos de preparação para receber os nosso clientes e, como tal, quanto mais cedo resolvermos esta situação, mais cedo podemos garantir uma boa receção e acolhimento aos nossos turistas”, frisou.

Realojamentos ocorreram de madrugada por dificuldades de articulação

O realojamento de 49 pessoas no empreendimento ZMar e na Pousada da Juventude de Almograve, em Odemira, decorreu durante a madrugada devido a dificuldades na articulação dos vários intervenientes, disse hoje o presidente do município.

Em declarações em jornalistas, nos Paços do Concelho, no distrito de Beja, José Alberto Guerreiro referiu que “durante a madrugada foram realojadas 21 pessoas no empreendimento ZMar e 28 na pousada da juventude de Almograve”.

Em causa, sublinhou, está o processo de realojamento de pessoas que não estão obrigadas a um confinamento profilático, no contexto da pandemia de covid-19, nomeadamente dos trabalhadores de explorações agrícolas que vivem em situação de insalubridade.

“Tínhamos planeado efetuar o realojamento dessas pessoas ao final da tarde, mas algumas dificuldades impediram que isso fosse concretizado e daí ter decorrido durante a madrugada, sem quaisquer incidentes”, frisou.

Também presentes nos Paços do Concelho, o comandante regional da Proteção Civil de Beja, José Ribeiro, e o comandante distrital de Odemira da GNR, Marques da Silva, confirmaram a inexistência de incidentes no processo.

O responsável da Proteção Civil disse aos jornalistas que "o transporte dos trabalhadores para os campos agrícolas está assegurado, bem como o acesso a todos os bens essenciais".

"A operação foi feita num âmbito de um despacho governamental e foi desencadeada de forma a respeitar os direitos das pessoas envolvidas", destacou José Ribeiro.

Marques da Silva disse que o número de militares destacados "foi o adequado para garantir a segurança da operação da responsabilidade da proteção civil municipal".

José Alberto Guerreiro disse hoje ter pedido ao primeiro-ministro, na quarta-feira, o levantamento da cerca sanitária aplicada em duas freguesias do concelho, por se verificar um decréscimo acentuado de casos ativos de covid-19.

“Ontem a Câmara consensualizou que fosse remetido ao senhor primeiro-ministro uma proposta a pedir que ponderem o eventual levantamento da cerca sanitárias e a explicar o contexto em que estamos”, indicou.

Segundo o autarca, o documento enviado na quarta-feira ao Governo está alicerçado em três aspetos fundamentais: a descida muito acentuada de casos ativos de covid-19, o considerável decréscimo de infeções nas freguesias sob cerca sanitária, e o sofrimento e as dificuldades das populações locais na gestão das suas vidas e das atividades económicas.

As freguesias de Longueira-Almograve e São Teotónio, em Odemira, estão em cerca sanitária desde a semana passada por causa da elevada incidência de covid-19 entre os imigrantes que trabalham na agricultura na região.

Na sexta-feira, o Governo determinou "a requisição temporária, por motivos de urgência e de interesse público e nacional”, da “totalidade dos imóveis e dos direitos a eles inerentes” que compõem o complexo turístico ZMar Eco Experience, na freguesia de Longueira-Almograve (Odemira), para alojar pessoas em confinamento obrigatório ou permitir o seu “isolamento profilático”.

O complexo Zmar ocupa 80 hectares na freguesia de Longueira-Almograve, integra serviços comuns, como piscina ou ‘spa’, e cerca de 260 casas individuais, das quais perto de 100 pertencem ao próprio empreendimento e as outras 160 são de privados.

Desde que foi determinada a requisição temporária do Zmar, para alojar pessoas em confinamento obrigatório ou permitir o seu “isolamento profilático”, os proprietários destas casas têm protestado contra a decisão do Governo.

Na quarta-feira, o advogado que representa um grupo de proprietários revelou que interpôs em tribunal uma providência cautelar contra a fundamentação da requisição temporária do complexo turístico.