O curso foi lançado na terça-feira à noite, através de uma página criada propositadamente para o efeito, com o título “Latim do Zero - Página de Frederico Lourenço para a aprendizagem do Latim”, na qual já foi disponibilizada a lição n.º1 pelo autor da "Nova Gramática do Latim", editada em março do ano passado pela Quetzal, a única ferramenta necessária para as aulas.
Imediatamente antes disso, o escritor e professor universitário tinha lançado um repto na sua página oficial do Facebook: “E que tal aproveitarem esta fase de recolhimento para aprender Latim? Vou postar todos os dias uma lição de Latim, começando do zero. O saber não ocupa lugar; e o Latim é (acreditem) a língua mais bela e expressiva que se possa imaginar. Aceitem o meu desafio e embarquem nesta aventura!”.
O resultado é que após 18 horas desde a sua criação, esta página já ultrapassa os três mil seguidores.
Frederico Lourenço disse à agência Lusa que planeia fazer 100 'posts', correspondentes a 100 lições de latim.
No seu perfil de Facebook, Frederico Lourenço explica que cada nova lição de latim será ‘postada’ diariamente “mais ou menos entre as 21h e 22h, para entreter o vosso serão”, escreveu hoje na sua página oficial, na qual se regozija, pela resposta obtida.
“O objetivo desta página é simples: proporcionar, de forma inteiramente informal, o acesso ao latim, partindo do zero. Todos os ‘posts’ desta página terão como título ‘Lição n.º?’. Portanto, a qualquer momento, qualquer pessoa pode ‘maratonar’ todas as Lições, por ordem”, escreve Frederico Lourenço.
Para seguir este curso, o único recurso que o aluno precisa de ter à mão é a “Nova Gramática do Latim”, pois as aulas vão remeter para esta publicação.
"Tirando isso, não é preciso mais nada”, esclarece o professor e também tradutor de clássicos, lançando o desafio: “Não vamos perder tempo. Comecemos já”.
Na primeira lição 'online', Frederico Lourenço – que deu a sua primeira aula de latim em 1988, a uma turma do secundário - começa por esclarecer qual o método de ensino que vai seguir, o que, na sua opinião, “deu ao mundo os melhores latinistas” que conhecemos, não obstante solidarizar-se com dois métodos que não são os seus: “o método oral de ensinar latim como língua viva (acho ótimo); o método de ensinar latim usando somente frases e textos da Antiguidade (acho maravilhoso)”.
Posto este esclarecimento, Frederico Lourenço avança com o seu método, que “consiste em compartimentar, numa fase inicial, todos os temas gramaticais, apresentando-os por meio de frases”.
“A estas frases, juntar-se-ão depois pequenos textos” e a “terceira fase consiste na leitura de textos autênticos, escritos da Antiguidade”, acrescenta o especialista em latim e grego.
“A beleza absoluta existe é a língua latina”, garante Frederico Lourenço, no início da primeira aula.
A publicação, há um ano, de a "Nova Gramática do Latim" veio pôr fim a um interregno de "cerca de 50 anos sem [se] editar um título desta natureza", disse na altura o editor Francisco José Viegas, responsável da Quetzal, na apresentação da obra.
O filólogo Frederico Lourenço, Prémio Pessoa em 2016, disse por seu lado que a gramática mais utilizada, que existia, datava da década de 1950, "do tempo do fascismo" e dos seus programas de ensino, "com uma série de parâmetros e uma maneira de olhar o estilo da língua, completamente diferente" desta "Nova Gramática do Latim", que pretende para todos, estudantes e professores e curiosos.
Para esta gramática, o investigador recolheu os mais diversos autores e teve em conta as mais variadas origens, dos autores eruditos até ao 'grafito' do soldado romano, que permaneceu até aos dias de hoje, desde epitáfios do século II antes de Cristo, ao epitáfio do papa Gregório V, que morreu no ano de 999.
"O latim não é uma língua em mármore, é uma língua que foi viva durante muitos e muitos séculos, e que nos transmite toda a experiência humana, desde o sexo mais sórdido até à espiritualidade mais elevada. Está tudo presente na literatura latina", afirmou.
A disponibilização de aulas de latim gratuitamente no Facebook vem juntar-se a muitas outras iniciativas do género que têm sido lançadas nas mais diversas áreas, desde as criativas às desportivas, que oferecem serviços vários de forma aberta ao público ao geral, como um modo de ajudar as pessoas em confinamento por causa da epidemia causada pelo novo coronavírus a manterem-se ocupadas e ativas.
Esta é aliás uma das principais recomendações das autoridades de saúde, nomeadamente dos psicólogos, para que seja possível ultrapassar de forma relativamente serena e saudável uma situação de isolamento, voluntário ou forçado, que está provado poder causar angústia, medo, raiva e, em última análise, até depressão ou stress pós traumático.
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da Covid-19, infetou mais de 200 mil pessoas em todo o mundo, das quais mais de 8.200 morreram e mais de 82.500 recuperaram.
O surto começou na China, em dezembro, e espalhou-se já por 170 países e territórios, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.
Face ao avanço da pandemia, vários países adotaram medidas excecionais, incluindo o regime de quarentena e o encerramento de fronteiras, como é o caso de Portugal.
Em Portugal, a Direção-Geral da Saúde (DGS) elevou hoje o número de casos confirmados de infeção para 642, mais 194 do que os contabilizados na terça-feira. No entanto, este número baseia-se na confirmação de três casos positivos nos Açores, mas a Autoridade de Saúde Regional, contactada pela Lusa, sublinhou serem dois os casos positivos na região e adiantou estar em contactos para se corrigir a informação avançada pela DGS, baixando assim para 641.
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, reuniu hoje o Conselho de Estado, para discutir a declaração de estado de emergência, que foi aceite por este órgão de consulta, assim como pelo Governo, e que será agora sujeito à Assembleia da República.
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