Num comunicado enviado às redações, a Gilead Sciences defende a utilização do Veklury (nome comercial do remdesivir), dizendo ser “reconhecido como tratamento padrão para doentes hospitalizados com Covid-19 nas orientações clínicas de inúmeras organizações nacionais conceituadas”, citando como exemplos o National Institutes of Health e a Infectious Diseases Society of America nos EUA, tal como outras instituições no Japão, Reino Unido e Alemanha.

A defesa surge depois de um painel de peritos internacionais da OMS ter desaconselhado o uso do medicamento em doentes hospitalizados com covid-19, estejam ou não em situação grave, por falta de provas de que influencie a sobrevivência ou a necessidade de ventilação.

Até aqui, o remdesivir tinha sido apontado como um tratamento potencialmente eficaz para casos graves de covid-19 e é muito usado para tratar pessoas hospitalizadas. No entanto, a OMS emitiu este parecer tendo em conta os resultados do ensaio de grande escala Solidary, que se realizou numa revisão de provas, comparando os efeitos de vários medicamentos contra a covid-19 e incluindo dados de quatro ensaios internacionais que envolveram mais de 7.000 pessoas hospitalizadas com covid-19.

Após uma revisão exaustiva das provas o painel de peritos concluiu que o remdesivir “não tem qualquer efeito significativo na mortalidade ou noutros resultados importantes para os doentes, como a necessidade de ventilação ou a rapidez nas melhoras”.

Aos dados da OMS, a Gilead Sciences reage criticando o cariz do Solidary enquanto “ensaio clínico global, multicêntrico e aberto” que, priorizando a análise a vários medicamentos, resultou numa “heterogeneidade significativa na adoção, implementação, controlos e populações de doentes”. Assim sendo, a empresa diz existirem “muitas dúvidas se será possível retirar quaisquer conclusões definitivas dos resultados do estudo”.

Por outro lado, a fabricante baseia a sua tese do sucesso do remdesivir na “evidência sólida de múltiplos estudos aleatorizados e controlados divulgados em publicações científicas revistas por pares” e diz lamentar que “as diretrizes da OMS pareçam ignorar esta evidência”.

Entre os estudos que cita para comprovar os benefícios do fármaco, a empresa refere o ACTT-1 do National Institute of Allergies and Infectious Diseases, que foi publicado no New England Journal of Medicine.

Em 16 de outubro foram divulgados pela OMS os resultados de um ensaio que patrocinou, segundo os quais os medicamentos remdesivir e interferon não eram eficazes na luta contra a covid-19. Nesse mesmo dia, em conferência de imprensa, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, disse que até então a dexametasona corticosteroide era a única terapêutica comprovada como eficaz contra a covid-19, para doentes com doenças graves.

A Gilead Sciences, todavia, afirma que “os médicos confiam em Veklury como o primeiro e único tratamento antiviral aprovado para utilização em doentes com Covid-19 em cerca de 50 países”.

Segundo a mesma, o mecanismo do remdesivir enquanto antiviral assenta na inibição da replicação do SARS CoV-2, o vírus que causa a Covid-19, reduzindo a carga viral no organismo, adiantando que estão a ser estudadas combinações do fármaco com agentes anti-inflamatórios para “potencialmente melhorar os resultados para os doentes com Covid-19, sobretudo em doentes com formas graves de doença”.

O remdesivir, de resto, já rendeu à Gilead Sciences 766 milhões de euros no terceiro trimestre deste ano devido às encomendas do medicamento por parte de vários estados. Um deles é Portugal, tendo sido anunciado a 22 de outubro pela Direção-Geral da Saúde que iam ser adquiridos até março de 2021 mais de 100.000 frascos do medicamento.

A decisão foi tomada em Conselho de Ministros e anunciada pela ministra da Saúde, Marta Temido, que explicou que "a aquisição de mais de cem mil frascos" terá um custo de cerca de 35 milhões de euros, uma vez que cada um custa 345 euros.

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