“É uma medicina em esforço. Há pessoas a trabalhar muito e muitas horas com muito sacrifício, mas cumprindo os padrões de uma medicina normal. Estamos a fazer uma medicina que consideramos muito longe do que se chama medicina de catástrofe”, disse o diretor clínico do Centro Hospitalar e Universitário do Porto (CHUP), onde se inclui o Hospital de Santo António, José Barros.
Atualmente estão internados neste hospital do Porto, em enfermaria, 119 doentes com o novo coronavírus e 38 em cuidados intensivos.
À Lusa, José Barros disse que estes números correspondem a uma taxa de ocupação de 84% em enfermaria, onde restam 23 vagas, e de 82% em cuidados intensivos (oito vagas).
“Provavelmente desde o início da pandemia somos o hospital que internou mais doentes covid-19 em Portugal, mas estamos desde outubro/novembro com dados estabilizados, com um ligeiro aumento em janeiro, mas nada assustador”, disse.
O diretor clínico descreveu que o CHUP “tem ajustado a oferta à procura”, e “sempre que sente a procura a apertar, ajusta o número de camas”, mantendo “normalmente uma folga de 10 a 15%”.
“Temos recebido alguns [doentes] de Lisboa e Vale do Tejo. Mas, não estamos livres que, de um momento para o outro, tudo isto mude porque a pandemia é absolutamente caprichosa. Esta manhã passei pelo Serviço de Urgência e até parecia um pouco estranho: nenhum doente à espera para ser triado e nenhuma ambulância. Não posso excluir que amanhã de manhã tenho uma fila de ambulâncias à porta”, descreveu.
José Barros desmistificou a ideia de que o Serviço Nacional de Saúde só trata covid-19: “Temos 820 camas abertas e, dessas, 200 estão dedicadas à covid-19. Portanto, há pelo menos 620 para outras patologias”.
Quanto à produção atual, e comparando as primeiras três semanas de janeiro deste ano com o período homólogo de 2020, quando Portugal ainda não enfrentava a pandemia, José Barros admitiu uma quebra de atendimentos de 30% no Serviço de Urgência, de 20% em primeiras consultas e de 6% nas cirurgias, uma vez que foram operados até agora 2.297 doentes, face a 2.443 no ano passado.
“Os 30% [no Serviço de Urgência] são significativos, mas cremos que correspondem a muitas pessoas que iam de modo mais ou menos fútil à urgência. Quanto às primeiras consultas, os 20% acontecem tanto porque muitos profissionais estão a sacrificar o trabalho na consulta para trabalhar a tempo inteiro nas unidades covid-19, mas também devido a pedidos de adiamento”, descreveu.
Quanto às segundas consultas, o diretor clínico apontou que os valores estão “em linha com os do ano passado”, embora “muitas sejam feitas por videoconferência ou telemóvel e não presenciais”.
“Consideramos que a quebra de 6% [na atividade cirúrgica] não é relevante. Para já, não [houve necessidade de reduzir muito a atividade programada] e não vamos parar a atividade cirúrgica só porque sim. Mas não teremos nenhuma hesitação em o fazer quando isso for essencial”, frisou.
José Barros elogiou a decisão por um novo confinamento geral, algo que nesta altura parece “óbvio”, mas que “há três semanas nem tanto”, considerando que “a evolução e a propagação parece ter muito mais de intrínseco e biológico do que de comportamento político e humano”.
“Não conseguimos dominar completamente a pandemia com medidas comportamentais e políticas. Mas se conseguirmos interferir em 20% da evolução do vírus já nos dá uma folga. Temos de investir nessas medidas e neste momento o confinamento é a melhor arma que temos”, concluiu.
A pandemia de covid-19 provocou, pelo menos, 2.092.736 mortos resultantes de mais de 97,4 milhões de casos de infeção em todo o mundo, enquanto em Portugal morreram 9.920 pessoas dos 609.136 casos de infeção confirmados.
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