“Há um claro recrudescimento do número de doentes que recorre ao Serviço de Urgência. Voltamos a ter mais de 100 casos suspeitos por dia (…). A percentagem de doentes positivos anda novamente nos 25 e 30%. Esse é o nosso principal sinal de alerta de que há um agravamento da situação. É algo que nos põe de pé atrás do que vai acontecer nas próximas semanas”, disse Nelson Pereira.

O diretor da Unidade Autónoma de Gestão de Urgência e Medicina Intensiva do Centro Hospitalar e Universitário de São João (CHUSJ) falava aos jornalistas esta manhã, em frente à entrada para a urgência de adultos deste hospital do Porto, para fazer um balanço do período festivo, mas sobretudo para apelar à manutenção de cuidados como distanciamento social, etiqueta respiratória e higienização das mãos.

“Durante o mês de dezembro assistimos a uma diminuição progressiva do número de casos suspeitos no Serviço de Urgência, assistimos a uma diminuição razoável do número de casos em enfermaria e assistimos a uma situação mais ou menos estável do número de casos internados em cuidados intensivos”, descreveu o médico.

Nelson Pereira admitiu que a atual situação “não é uma surpresa” e frisou, relativamente ao aumento que agora está a fazer-se sentir, que “é certamente efeito da época natalícia”, repetindo o apelo aos cuidados.

“Não são só os dias 24 ou 25 que produzem este efeito. Todo o ambiente à volta das festas faz com que as pessoas contactem e se mobilizem mais (…). Qualquer aumento que possa acontecer nas próximas semanas é muito preocupante e pode ter impacto”, disse.

Atualmente estão internados no Hospital de São João 101 doentes com o novo coronavírus, 46 dos quais em cuidados intensivos.

Nelson Pereira recordou que a unidade de doentes críticos deste hospital “continua com 22 camas abertas, além da capacidade normal do serviço”, e frisou que vê “com preocupação este recrudescimento porque novos casos significam novos internamentos e mais cuidados intensivos”.

“É muito importante que as pessoas compreendam que a situação está longe de ser resolvida. Estamos num início de 2021 que vai ser muito difícil. Mesmo que tenham tido algum laxismo na forma como se comportaram durante as festas, é importante que voltem a perceber que os cuidados são para manter”, sublinhou.

São João com “cerca de 4.000” profissionais vacinados até fim da semana

Esta manhã chegaram ao Hospital de São João mais 1.500 vacinas contra a covid-19 destinadas a médicos, enfermeiros, assistentes operacionais e técnicos de diagnóstico e terapêutica de serviços referenciados pela Direção-Geral da Saúde (DGS) como prioritários.

“[Com este lote] ficam todos os profissionais de saúde identificados nos grupos prioritários dentro das regras que foram definidas. Mas os profissionais de saúde que contactam doentes, como um todo, são em si mesmo um grupo prioritário. O nosso objetivo é poder chegar rapidamente a todos. A nossa ambição é fazê-lo o mais rápido possível para proteger os nossos profissionais, porque protegendo os nossos profissionais, protegemos os nossos doentes”, disse Nelson Pereira.

No dia 27 de dezembro, numa operação que durou 10 horas e que envolveu mais de 100 profissionais de vários serviços, o Centro Hospitalar e Universitário de São João (CHUSJ) vacinou mais de 2.000 profissionais de saúde.

O plano nacional de vacinação contra a covid-19 arrancou naquele dia às 10:00 no Hospital de São João com o médico infecciologista António Sarmento a receber pelas mãos da enfermeira Ana Isabel Ribeiro a primeira dose sob o olhar atento da ministra da Saúde, Marta Temido.

À noite, cerca das 20:30, o presidente do conselho de administração do CHUSJ, Fernando Araújo, descreveu o dia como “um sucesso” e revelou que o número de vacinados naquele dia correspondia a cerca de 30% do universo total de profissionais de saúde deste centro hospitalar e a “cerca de metade” do número de pessoas elegíveis por serem consideradas “grupo prioritário”.

Atualmente foram vacinados no Hospital de São João cerca de 2.500 profissionais.

As vacinas que chegaram hoje garantem a vacinação de mais 1.500.

A expectativa é de que estejam vacinados “até ao final da semana cerca de 4.000”, afirmou hoje Nelson Pereira que falava aos jornalistas à porta da urgência de adultos, local onde alertou para o aumento de número de casos relacionados com o novo coronavírus que este hospital tem registado no rescaldo das festas de Natal e Ano Novo.

“[A vacinação] é naturalmente um motivo de regozijo, é um motivo de satisfação para todos, mas é uma gota de água neste oceano e nesta luta conta a covid-19 e de todo o processo que vai decorrer ao longo de 2021 para que possamos ter uma imunidade de grupo sólida”, frisou o diretor da Unidade Autónoma de Gestão de Urgência e Medicina Intensiva.

Portugal contabiliza pelo menos 7.118 mortos associados à covid-19 em 427.254 casos confirmados de infeção, segundo o último boletim da Direção-Geral da Saúde (DGS).

O estado de emergência decretado em 09 de novembro para combater a pandemia foi renovado até 07 de janeiro, com recolher obrigatório entre as 23:00 e as 05:00 nos concelhos do território do continente de contágio mais elevado.

[Notícia atualizada às 12:01]