A decisão da passagem ao ensino não presencial, até ao final do ano letivo, nas escolas do 1.º e 2.º ciclos dos municípios do Algarve Central – Faro, Loulé, Albufeira, Olhão e São Brás de Alportel -, foi anunciada no domingo ao final da tarde, tendo as autoridades de Saúde alegado a “gravidade da situação” epidemiológica.

Em declarações à Lusa, Ana Cristina Guerreiro afirmou que a decisão começou a ser pensada no sábado de manhã, por se estar “a isolar cada vez mais salas”, mas a articulação entre todas as estruturas envolvidas levou algum tempo e as autoridades queriam “aproveitar o efeito da paragem” das aulas no fim de semana.

“Nós sabemos que quando a taxa de prevalência na comunidade é muito elevada começa a ser mais difícil de controlar o número de casos nas escolas e a transmissão escolar, e estes municípios estavam com taxas de incidência a 14 dias muito elevadas”, justificou Ana Cristina Guerreiro, em declarações à Lusa.

Segundo a Autoridade de Saúde Regional do Algarve, a taxa de incidência a 14 dias por 100 mil habitantes neste cinco concelhos é “muito elevada”, com 583 em Albufeira, 329 em Faro, 448 em Loulé, 403 em Olhão e 326 em São Brás de Alportel.

De acordo com a delegada de Saúde do Algarve, existem também várias equipas desportivas em isolamento, relacionadas com os surtos escolares, envolvendo modalidades como dança, hóquei e basquete, no entanto, a frequência dessas atividades não foi suspensa.

“Neste momento, não quisemos afetar mais a vida das pessoas, no sentido de fechar Atividades de Tempos Livres (ATL) ou esse tipo de atividades, mas vamos gerindo caso a caso”, sublinhou, acrescentando que, apesar da suspensão das aulas, se mantém a possibilidade de realização de provas de aferição.

Questionada sobre o facto de haver ATL que optaram por não iniciar hoje atividades, Ana Cristina Guerreiro reconheceu ter conhecimento da situação, que atribuiu a eventuais “dificuldades de organização”, sublinhando que podem depois abrir, “dando resposta à necessidade das pessoas”.

Relativamente à situação epidemiológica nos restantes 11 concelhos da região, a responsável admitiu que há municípios no Barlavento “com incidências a ficarem bastante elevadas”, nomeadamente Lagos e Portimão.

No entanto, frisou, neste momento as autoridades consideram que os cinco concelhos abrangidos são aqueles onde se justificava a medida, que deve “ser sempre proporcional” à situação, havendo, para já, ainda “alguma diferença” ao nível das taxas de incidência.

No comunicado divulgado no domingo ao final da tarde, a Autoridade de Saúde Regional do Algarve explicou que a decisão teve como base “o princípio da precaução”, devido à existência de “816 casos confirmados ativos de covid-19” na região.

“Esta medida, decidida pela gravidade da situação, de modo a conter cadeias de transmissão, por um período previsível de 12 dias iniciado na segunda-feira, dia 28 de junho, coincidindo com o final do ano letivo, será monitorizada permanentemente e revista no dia 09 de julho, com análise da situação epidemiológica dos municípios nessa data”, pode ler-se na nota.

A autoridade de saúde do Algarve salienta que a “investigação epidemiológica está em curso e será garantida a vigilância de contactos pelas autoridades de saúde, delegados de saúde e serviços de saúde pública, que irão identificar e manter em isolamento profilático e vigilância os contactos diretos dos casos confirmados com o apoio permanente das forças policiais”.

A autoridade de saúde solicita ainda à comunidade educativa das escolas que contactem a linha SNS24 “caso surjam sinais ou sintomas” de covid-19.

A região do Algarve é a que apresenta o índice de transmissibilidade (Rt) do vírus SARS-CoV-2 mais elevado no país, com 1,3, segundo dados divulgados pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA) na sexta-feira.

A nível nacional, desde 14 até 20 de junho, observou-se uma redução do Rt de 1,20 para 1,1, o que também se registou em Lisboa e Vale do Tejo, mas no Algarve observou-se “um aumento acentuado” do índice de transmissibilidade, que passou de 1,07 em 27 de maio para 1,4 em 14 de junho (0,33 em 19 dias).

Na quinta-feira, o Governo alertou que na próxima semana, se a situação epidemiológica se mantiver, “mais 16 concelhos” estarão no nível de risco muito elevado de incidência de covid-19, situação em que se encontram agora Albufeira, Lisboa e Sesimbra.