O areal da praia de Matosinhos animou hoje de manhã com várias centenas de pessoas a caminhar junto à linha de água, enquanto outros, muito poucos, aproveitam, deitados na toalha, o sol quente que se fazia sentir, uma benesse do clima no meio da luta à propagação do novo coronavírus.
Numa moto-quatro, um agente da PSP patrulhava, ao meio-dia, de forma ininterrupta, a praia entre o Castelo do Queijo e o paredão do porto de Leixões, tendo a Lusa testemunhado a autoridade a funcionar e a mandar sair da água um homem.
No mesmo areal ninguém quis falar à reportagem da Lusa, um cenário diferente quando as entrevistas foram tentadas na parte do passeio marítimo que não estava encerrada.
Para João Azevedo, a lei que sustenta o estado de calamidade é "um pouco confusa", defendendo, por isso dever ser dito às pessoas se "podem ou não frequentar a praia e as zonas limítrofes".
"Isso tem de ser muito claro. Alguém na televisão ou nos órgãos de comunicação social deve dizer se é ou não proibido. E se for proibido tem de estar a polícia, ou alguém competente, para não deixar as pessoas? Não me parece que seja assim tão clara e essa é razão, provavelmente, pelo qual as pessoas vem para a praia", argumentou.
Defendendo "uma lei mais permissiva", João Azevedo observou que, se as pessoas "conseguirem manter a distância social e houver bom senso das autoridades", não será "necessário proibir" a frequência da praia.
Teodora Prata interrompeu uma caminhada com a filha para, também ela, enfatizar a necessidade do bom senso generalizado.
"Para pessoas minimamente informadas, penso que não será confuso, porque nós sabemos ler os documentos que regulamentam este tipo de situações e, tendo algum bom senso, podemos sabê-las gerir. Pelo menos é o que tento fazer", disse, reconhecendo que isso "possa não acontecer com toda a gente".
Argumentando "não ter competência" para defender enquadramentos legais, Teodora Prata precisou que a ela, enquanto cidadã, compete-lhe "gerir o bom senso" da forma como interpreta o desenrolar da situação da pandemia em Portugal.
"Tento fazer a minha vida de acordo com o que acho que seja o bem comum e, se todos agirem como eu, penso que conseguiremos manter os resultados como estão. Se eu acredito que isso vai ser possível? Não acredito, infelizmente. Acho que nem todos estamos bem informados e nem todos temos o bom senso distribuído da mesma forma", lamentou.
Em Vila Nova de Gaia, num cenário diferente no areal, com muito menos pessoas a fazer praia, mas igual nos passadiços, a Lusa falou com Isabel Barros na praia de Salgueiros, onde caminhava com a filha.
"Há muito pouca gente na praia. Há mais do que havia antes, mas é muito pouca. As pessoas estão a caminhar porque se sentem exaustas. Eu também me sinto e, neste momento, tenho mesmo necessidade de sair um pouco pois altera muito a nossa vida, os nossos sentimentos, a nossa forma de estar e senti-me, até, a colapsar e neste fim de semana tive de mudar a rotina", disse.
Mais à frente, de tronco nu, Nuno Santos fazia também a sua caminhada depois de "quase dois meses em casa", defendendo à Lusa que a nova lei tem "várias maneiras de se interpretar".
"Se as pessoas tiverem cuidado e se derem a devida distância podem caminhar na praia. Agora, fazer praia, com as medidas que eles [Governo] estão a pôr, não sei se vai ser possível. Depende do fluxo de pessoas", argumentou.
Considerando "prematuro" falar do futuro, Nuno Santos prefere ver para crer.
"Devemos andar, aos poucos, e ver como as coisas evoluem. Se evoluírem favoravelmente as leis deviam ser um pouco mais brandas. Mas podemos ter o reverso da medalha, se as coisas piorarem e o Governo tiver de dar um passo atrás para repor o estado de emergência", alertou.
Por: Jorge Fonseca da agência Lusa
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