O estudo analisou quatro momentos diferentes da pandemia em Portugal: 01 de abril (durante o confinamento), 01 de maio (ao fim de um mês de confinamento), 01 de junho (dois meses depois do confinamento) e 01 de julho de 2020 (três meses depois do confinamento), tendo como ponto de partida os dados da incidência de covid-19 nos municípios portugueses.
“O objetivo foi testar se as áreas mais afetadas pela infeção da covid-19 eram determinadas pela incidência cumulativa de casos, se apresentavam ou não um padrão socioeconómico distinto das restantes áreas de Portugal”, disse à agência Lusa a investigadora principal do estudo “Evolution of inequalities in the coronavirus pandemics in Portugal: an ecological study”, Joana Alves.
Os investigadores foram analisar se “havia um padrão geográfico nas áreas mais afetadas” e constataram que “eram sempre os mesmos 20 concelhos, na maioria localizados na região norte litoral do país, que eram consecutivamente, nestes períodos, os mais afetados pela pandemia”.
“Depois fomos testar se havia uma relação com o nível socioeconómico dessas áreas e realmente conseguimos perceber que a incidência cumulativa de casos ao longo desse período estava relacionada com as variáveis de desemprego nessas regiões e também com a variável da densidade populacional”, explicou Joana Alves.
O que concluíram foi que “todos os concelhos que eram mais afetados pela pandemia eram também aqueles que registavam maiores níveis de desemprego”.
Estes resultados inquietam os investigadores, na medida em que o desemprego aumentou no início de 2021 em vários países da Europa e Portugal não é exceção.
“Se é verdade que a covid-19 não distingue estratos sociais, a realidade é que são as pessoas mais desprotegidas do ponto de vista social e económico, as que se encontram em maior risco de exposição à doença”, salientou a investigadora do estudo da ENSP, que foi recentemente publicado na revista ‘European Journal of Public Health’.
Joana Alves defendeu ser “muito importante” continuarem a estar atentos às regiões que têm grupos populacionais mais vulneráveis e continuar a monitorizar a existência destas desigualdades para verificar se se mantêm ao longo do tempo.
“É importante estarmos atentos até porque devemos adequar também as políticas às realidades específicas das regiões e, portanto, isto também pode servir como um alerta no futuro para que realmente as políticas sejam adequadas ao nível ao nível mais local”, defendeu a investigadora.
Segundo Joana Alves, são regiões que acabam por ser “duplamente afetadas” porque “são mais desprotegidas já à partida” do ponto de vista social e económico.
“Tendo uma “vulnerabilidade superior” acabam por “se encontrar também em maior risco de exposição à doença” e consequentemente serão também as mais afetadas “ao nível das consequências da própria doença”, a nível da sua saúde, mas também económicas.
Segundo a investigadora, estudos internacionais já haviam encontrado diferenças sistemáticas no número de casos e mortalidade pela infeção SARS-CoV2 de acordo com o nível socioeconómico.
“No entanto, para Portugal não existia ainda uma evidência muito clara dos efeitos serem distintos entre grupos socioeconómicos e a informação existente estava muito dispersa”, adiantou.
A pandemia de covid-19 já provocou 16.923 mortes em Portugal dos 828.173 casos de infeção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.
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