Javier Aramburu, representante da OMS em Angola, considerou hoje que o rastreio de pessoas nos aeroportos tem apenas resultados “relativos” e que, às vezes, “os países precisam de adotar medidas mais rigorosas”, nomeadamente aqueles onde se regista grande número de infeções e existe transmissão comunitária (quando não se consegue detetar a origem da infeção).
“A China fez uma restrição interna e a possibilidade de transmissão para fora da China diminuiu muito, o que explica que deixou de haver casos suspeitos”, afirmou em declarações à agência Lusa.
Por isso, a transmissão do novo coronavírus a partir da China acabou por não ter impacto em África, onde nenhum país registou casos de infeção importados a partir daquele país, mas sim de Itália e do Irão.
No caso de Angola, dos 182 cidadãos chineses que passaram pelo aeroporto antes da quarentena ordenada pelo Governo, apenas dois tinham febre e estiveram em isolamento, tendo sido testados com resultado negativo.
Um outro cidadão, também proveniente da China, mas angolano, esteve em isolamento, tendo também tido um resultado negativo.
“A situação muda com a Europa porque o trânsito de passageiros é muito maior”, acrescentou o epidemiologista, chamando a atenção para a necessidade de fornecer informações detalhadas sobre cada viagem.
“Tendo em conta que muitas viagens têm escalas é importante que a pessoa que é recebida no aeroporto forneça uma informação completa, indicando onde esteve nos últimos 14 dias”, frisou.
Para Javier Aramburu, mais importante do que o rastreio de viajantes à entrada do aeroporto, é o “screening” à saída, que deve ser feito pelos países mais afetados para minimizar o risco de infeção noutros países, o que aconteceu com a China.
Atualmente, 12 países africanos têm casos registados de Covid-19, com a República Democrática do Congo (RDCongo), o país que tem a maior fronteira terrestre com Angola, a juntar-se à lista que inclui já África do Sul, Argélia, Burkina Faso, Camarões, Costa do Marfim, Egito, Marrocos, Nigéria, Senegal, Tunísia e Togo.
Segundo o especialista da OMS não há motivos para qualquer alteração na lista de países com restrições atualmente em vigor em Angola.
“Em relação aos países com casos importados, designadamente África do Sul e República Democrática do Congo, a nossa avaliação, de acordo com a reunião que tivemos ontem com o Ministério da Saúde angolano, é que os critérios de restrição para trânsito de passageiros se devem manter apenas para os países que têm transmissão comunitária, isto é China, Irão, Itália e Coreia do Sul”, afirmou.
No entanto, advertiu que “a diferença entre países que têm transmissão local e transmissão comunitária é muito estreita e há países que podem passar em breve para transmissão comunitária e ser considerados de alto risco, como Espanha, Alemanha ou França”.
A epidemia de Covid-19 foi detetada em dezembro, na China, e já provocou mais de 4.300 mortos e cerca de 120 mil pessoas infetadas em cerca de uma centena de países, incluindo Portugal, que tem 59 casos confirmados.
Mais de 63 mil pessoas recuperaram.
Face ao avanço da epidemia, vários países têm adotado medidas excecionais, incluindo o regime de quarentena inicialmente decretado pela China na zona do surto.
A Itália é o caso mais grave depois da China, com mais de 10.000 infetados e pelo menos 631 mortos, o que levou o Governo a decretar a quarentena em todo o país.
A OMS declarou hoje a doença Covid-19 como pandemia, justificando a decisão com os “níveis alarmantes de propagação e inação".
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